Primeiras medições da altura das rugas do solo marciano

2003-12-04

Dunas e pregas em Marte fotografadas pela Mars Orbiter Camera, a bordo da sonda Mars Global Surveyor. Crédito: NASA.
Em Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
, o estudo das dunas e das pequenas ondulações provocadas pelo vento no solo (também designadas por pregas ou rugas) tem sido levado a cabo desde que a sonda Viking (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
), em finais da década de 70 e início dos anos 80, obteve as primeiras imagens que revelaram a sua existência. A principal dificuldade neste tipo de estudo está em conseguir discernir os pequenos detalhes, tais como a altura exacta das dunas e das pregas, bem como o tamanho dos grãos de poeira aí existentes. Tais medições só se conseguem com observações muito próximas, até hoje apenas conseguidas com as missões Viking e Pathfinder (NASA).

Tal como no caso das dunas terrestres, estas estruturas formadas pelo vento podem revelar muito acerca do clima local e regional, da circulação da atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
e dos ventos predominantes no caso de Marte, cujas condições físicas são bem diferentes das da Terra.

As pregas são comuns na superfície de Marte, encontrando-se nas regiões baixas e dentro de crateras. Na Terra, estas pequenas ondulações tendem a formar-se em longas linhas paralelas a partir de grãos de areia que são erguidos para cima pela água ou pelo vento em direcções perpendiculares às linhas que definem as ondulações. Por seu lado, as dunas formam-se quando grãos de areia ou terra são levantados e atirados para o ar, dando origem a uma acumulação de material que atinge alturas mais elevadas.

Contudo, não se sabe ainda como se formam as dunas e as pregas em Marte, dado que as imagens obtidas a partir do espaço não permitem obter qualquer indicação sobre o tamanho dos grãos de poeira ou a sua movimentação ou migração. Apesar de existirem imagens obtidas com a Viking há 30 anos que podem servir para efectuar comparações, a verdade é que a sua baixa resolução não permite confirmar sequer se as pregas se deslocaram neste intervalo de tempo. Para já, as dimensões das próprias pregas são a única pista que permite distinguir pequenas dunas de grandes pregas.

Observações recentes, obtidas com a Mars Orbiter Camera, a bordo da sonda Mars Global Surveyor (NASA), permitiram medir estruturas, tais como pregas com largura semelhante às pregas terrestres, mas com 6 m de altura (o dobro do observado na Terra), e dunas com 90 m de altura. É provável que a altura elevada das pregas de Marte seja devida à baixa gravidade, a mesma razão que pode explicar porque são os vulcões de Marte tão altos. Contudo, outras diferenças podem desempenhar um papel importante na formação destas longas estruturas: por exemplo, pode dever-se a diferentes velocidades do vento, ou a diferentes densidades do ar. De facto, Marte possui uma atmosfera ténue e muito fria, na qual tempestades de poeira à escala planetária varrem frequentemente o planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
.

Os astrónomos depositam agora enormes esperanças na missão Mars Exploration Rovers (NASA), a caminho de Marte, na qual dois veículos, o Spirit e Opportunity, poderão aproximar-se e estudar com detalhe as pregas, uma vez que possuem uma mobilidade muito superior à do famoso veículo Sojourner da missão Pathfinder.

Este estudo foi apresentado em Novembro no encontro anual da Sociedade Americana de Geologia, em Seattle (EUA).

Fonte da notícia: http://www.geosociety.org/news/pr/03-36.htm