Protótipo de Observatório Virtual produz descoberta inesperada

2003-05-12

Anã castanha de classe L, designada por 2MASSI J0104075-005328. Crédito: National Virtual Observatory.
Um novo modo de procurar objectos desconhecidos em enormes bases de dados astronómicas levou à descoberta de uma anã castanha
anã castanha
A anã castanha é uma estrela falhada cuja massa é insuficiente para permitir a fusão nuclear do hidrogénio em hélio no seu centro. No início das suas vidas, as anãs castanhas têm a fusão de deutério no seu núcleo central. Mesmo depois de esgotarem o deutério, as anãs castanhas radiam por conversão de energia potencial gravítica em calor e, como tal, emitem fortemente no domínio do infravermelho. De acordo com modelos, a massa máxima que uma anã castanha pode ter é de 0,08 massas solares (ou 80 massas de Júpiter). Estes objectos representam o elo que falta entre as estrelas de pequena massa e os planetas gasosos gigantes como Júpiter.
, um tipo de estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
difícil de encontrar.

Os cientistas que trabalham na criação do US National Virtual Observatory (NVO), um portal dedicado à investigação em astronomia e que unifica dezenas de grandes bases de dados, confirmou recentemente a descoberta de uma nova anã castanha. A estrela surge de uma busca computarizada de informação sobre milhões de objectos astronómicos em duas bases de dados diferentes. Graças a um protótipo do NVO, a busca, que exigiria semanas ou meses de atenção humana, foi realizada em aproximadamente dois minutos.

Segundo os investigadores do NVO, o tempo que demorou a realizar esta descoberta e a ideia que dá do enorme potencial do NVO, supera a própria descoberta desta nova anã castanha que se junta à lista das aproximadamente 200 conhecidas. Na realidade, nesta fase do projecto, os investigadores contavam simplesmente com a confirmação de resultados já existentes e não com novas descobertas. Este é o tipo de descoberta que se espera que comece a jorrar do NVO, dentro de poucos anos: revelações contidas em dados já obtidos por observatórios na Terra e no espaço, mas que ficaram por descobrir devido à grande rapidez com que as novas tecnologias debitam dados para as diferentes bases de dados existentes. A nova descoberta veio de um dos três protótipos do NVO apresentados no encontro da Sociedade Americana de Astronomia em Janeiro de 2003.

Frequentemente, a parte específica do espectro electromagnético
espectro electromagnético
O espectro electromagnético é a gama completa de comprimentos de onda da radiação electromagnética. Divide-se usualmente nas bandas dos raios gama, raios-X, ultravioleta, visível, infravermelho, submilímetro, milímetro, microondas (comprimentos de onda da ordem do centímetro) e rádio (comprimentos de onda superiores ao metro).
observada por um determinado instrumento pode ser a chave para entender certas classes de objectos ou certas propriedades. Mas certos objectos, como as anãs castanhas, quase só são identificáveis quando vistas por diferentes instrumentos que mostram como se parecem em regiões diferentes do espectro electromagnético. Com efeito, a anã castanha agora descoberta surgiu da análise de dois conjuntos de dados de características distintas. Teria sido difícil identificar uma anã castanha a partir de apenas um dos conjuntos de dados, mas juntando os dois, elas podem ser identificadas.

Para o projecto das anãs castanhas, os investigadores queriam mostrar que se podiam usar as ligações que tinham construído entre duas grandes bases de dados no domínio do infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
-- o Sloan Digital Sky Survey
Sloan Digital Sky Survey (SDSS)
O levantamento do céu SDSS é um projecto que tem por objectivo mapear detalhadamente um quarto de todo o céu, determinando posições e magnitudes absolutas de 100 milhões de objectos celestes, e determinando ainda a distância a mais de 1 milhão de galáxias e quasares. Os telescópios que participam neste projecto estão situados no Observatório de Apache Point (EUA). O SDSS é um projecto conjunto de instituições norte-americanas, alemãs e japonesas.
(SDSS) e o Two Micron All Sky Survey (2MASS) -- para confirmar a existência de anãs castanhas já identificadas em comparações prévias das duas bases de dados sem usar o NVO.

As anãs castanhas foram durante muitos anos o elo perdido dos modelos de formação estelar. A primeira detecção de uma anã castanha só foi efectuada em 1995. Estas estrelas, por vezes apelidadas de "estrelas falhadas", são difíceis de detectar porque são pequenas e frias, e têm menos de 8 por cento da massa do Sol
massa solar
Massa solar é a quantidade de massa existente no Sol e, simultaneamente, a unidade na qual os astrónomos exprimem as massas das estrelas, nebulosas e galáxias. Uma massa solar é igual a 1,989x1030 kg.
. Essa massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
é ainda algumas dezenas de vezes maior que a massa de Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
, mas não é suficiente para manter as reacções nucleares que sustentam as estrelas normais. Como resultado, uma anã castanha arrefece e torna-se menos brilhante à medida que envelhece, o que a torna cada vez mais difícil de detectar.

Para encontrar a nova anã castanha e duas outras já conhecidas, foi necessário manipular informação sobre 15 milhões de objectos catalogados no SDSS e 160 milhões no 2MASS! Estas duas bases de dados constituem cada uma, indubitavelmente e por direito próprio, recursos sem precedentes para a investigação astronómica. Mas a visão multibanda, proporcionada pelas duas bases de dados a diferentes comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
, é decididamente superior à soma das partes e abre a porta para possibilidades de investigação com que anteriormente apenas se podia sonhar.

Fonte da notícia: http://www.us-vo.org/news/brown-dwarf.html