Detectado o planeta extra-solar mais distante que se conhece

2003-02-04

Visão artística do planeta extra-solar OGLE-TR-56b. Crédito: Davida A. Aguilar (CfA).
Os planetas extra-solares
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
são extremamente difíceis de detectar devido ao facto de se encontrarem a grandes distâncias e por não produzirem luz própria. A pequeníssima fracção de luz, proveniente da estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
que orbitam, que estes planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
reflectem para o espaço perde-se no brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
da própria estrela.

Até agora, os astrónomos têm utilizado medições de velocidades radiais de estrelas, por efeito Doppler, para deduzir a existência de planetas do tipo Júpiter
planeta joviano
Designam-se por planetas jovianos aqueles que se assemelham a Júpiter, ou seja, planetas gigantes com superfícies gasosas. No Sistema Solar, são planetas jovianos Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno.
em torno dessas estrelas. Também já foi utilizado o método astrométrico que mede a ligeira variação da posição da estrela devido à perturbação gravitacional que o planeta produz.

O método de trânsito
trânsito
Designa-se por trânsito a passagem de um objecto astronómico à frente do disco de um objecto maior e mais longínquo. Por exemplo, o trânsito de Vénus diante do Sol.
consiste em detectar a pequena diminuição periódica do brilho da estrela provocada pela passagem do planeta em frente desta. Este efeito é muito pequeno, comparável a um mosquito que bloqueia a luz de uma lanterna colocada a uma distância de cerca de 300 km, mas é detectável. Este método permite calcular o diâmetro do planeta, bem como os parâmetros da sua órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
, com maior precisão do que aquela conseguida pelos outros métodos. Além disso, permite estender a lista de estrelas-alvo candidatas a possuirem um planeta, de cerca de 40 mil, para 100 milhões ou mais.

Esta descoberta marca o primeiro caso de sucesso num levantamento de planetas extra-solares pelo método do trânsito, que dura há já alguns anos e que, partindo de uma amostra de milhares de estrelas, identificou dezenas de sistemas candidatos. Contudo, este é o primeiro sistema em que se provou que o companheiro da estrela em causa possui as dimensões de um planeta. Era sabido que um outro planeta, HD 209458b, eclipsa a estrela em torno da qual orbita. No entanto, apesar de ser em princípio detectável pelo método do trânsito, este outro planeta foi na verdade descoberto pela técnica das velocidades radiais.

Este novo resultado provém do estudo de 59 estrelas candidatas identificadas pelo levantamento OGLE (do inglês Optical Gravitational Lensing Experiment), cujo objectivo é monitorizar milhares de estrelas procurando observar uma pequena diminuição do seu brilho provocada pela passagem de um objecto "escuro". Das 59 estrelas inicialmente consideradas, apenas 5 permaneceram como potenciais candidatas. Estas foram observadas com o instrumento HIRES (do inglês High Resolution Echelle Spectrometer) no telescópio de 10 m Keck I
W. M. Keck Observatory
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
, em Mauna Kea (Havai). Destas observações, foi possível concluir que a estrela OGLE-TR-56 possui um companheiro com tamanho comparável ao de Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
.

O que torna este planeta tão insólito, quando comparado com os cerca de 100 planetas extra-solares já conhecidos, é o facto de se encontar cerca de 20 vezes mais longe do que qualquer outro. Com efeito, é o único caso até agora conhecido de um planeta que se encontra fora do braço espiral
braço espiral
Um braço espiral de uma galáxia é uma estrutura curva no disco de uma galáxia espiral (ou, em alguns casos, de uma galáxia irregular), constituída por estrelas jovens, aglomerados de estrelas, nebulosas, gás e poeiras.
onde se encontra o nosso Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
- o braço espiral do Orionte - localizando-se no braço espiral do Sagitário. Para além disso, este novo planeta orbita a sua estrela a uma distância 50 vezes menor que a distância Terra-Sol, com um período de apenas 29 horas! A temperatura na sua superfície é de cerca de 2000 K. Com uma massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
igual a 90 por cento da massa de Júpiter, o seu diâmetro foi estimado em cerca de 1,3 vezes o diâmetro deste gigante do sistema solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, o que implica uma densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
semelhante à de Saturno
Saturno
Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 10 vezes o da Terra, é o segundo maior planeta do Sistema Solar. A sua característica mais marcante são os belos anéis que o rodeiam.
.

Este planeta pertence à classe dos planetas extra-solares designados por "Júpiteres quentes", reflectindo o facto de orbitarem a sua estrela a tão curta distância. Os modelos explicam a existência deste tipo de planeta admitindo que eles se formam longe da estrela, a partir do material primordial existente no disco circum-estelar quando a estrela é jovem, para depois migrarem para uma órbita muito mais interior. OGLE-TR-56b ter-se-á aproximado demasiado da estrela, tendo parte da sua atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
sido arrancada pela e para a estrela, perdendo o planeta cerca de metade da sua massa original. A temperatura da alta atmosfera de OGLE-TR-56b é, teoricamente, compatível com a formação de nuvens, não de vapor de água, mas de átomos
átomo
O átomo é a menor partícula de um dado elemento que tem as propriedades químicas que caracterizam esse mesmo elemento. Os átomos são formados por electrões à volta de um núcleo constituído por protões e neutrões.
de ferro! Assim sendo, tal significa que este planeta possui um clima exótico, com chuvas de átomos de ferro!

Os resultados desta pesquisa foram publicados pela equipa liderada pelos astrónomos D. Sasselov do Centro Harvard-Smithsonian para a Astrofísica (CfA, EUA) e M. Konacki do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech, EUA), na edição de 23 de Janeiro de 2003 da revista Nature.

Fonte da notícia: http://cfa-www.harvard.edu/press/pr0301.html