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A Grande Explosão (e uma nota cinematográfica)

2006-09-29
Tal como o círculo que pela sua perfeição "deveria" descrever a órbita dos planetas, a idéia dum Universo estático foi aceite de modo natural na cosmologia do começo do século passado. Assim, a idéia dum possível começo para o Universo foi recebida com muita resistência pela comunidade científica. Quando Albert Einstein descobriu que o modelo de universo descrito nas suas equações originais da Relatividade Geral era instável e tendia a contrair-se ou expandir-se perante qualquer perturbação, introduz uma constante arbitraria que lhe devolvesse estabilidade: a chamada "constante cosmológica" ou segundo as próprias palavras do mesmo Einstein "um dos meus maiores erros".

Passou muito tempo desde então e agora a idéia dum universo com um principio dinâmico e em expansão tem sido assimilada pela cultura popular. O terrorista Ryan Gaerity (Tommy Lee Jones) no filme “Blown Away”(1994) é um especialista em explosivos e por conseguinte, embora não físico, uma autoridade no tema das detonações. Na procura de vingança contra um ex-membro do IRA que então vivia nos EUA, consegue localiza-lo pelo telefone e da-lhe uma pequena aula de física:

Gaerity: Sabes o que é que dizem os cientístas? Que o Universo começou numa grande explosão!!!!!!!


A Grande Explosão (ou Big Bang em inglês) é o termo introduzido pelo astrónomo inglês Fred Hoyle de maneira depreciativa para nomear o estado de criação do Universo onde as temperaturas e densidades alcançaram valores muito altos há uns 10 ou 15 mil milhões de anos. Nesse momento o espaço e o tempo eram só um. A densidade era infinita no tempo zero. A partir desse momento o espaço começou a expandir-se e a arrefecer afastando matéria de anti-matéria.

Não foi então uma explosão no sentido literal do termo. As teorias modernas refinadas da Grande Explosão descrevem uma primeira etapa com uma expansão muito rápida. Esta descrição se conhece como do “Universo Inflacionário” onde este alcançou a grande uniformidade necessária para a sua posterior evolução. Contudo os detalhes dos primeiros instantes do Universo não nos são conhecidos já que requerem utilizar as leis da física ao limite onde confluem as leis da gravitação, pensadas para objectos macroscópicos, com as da mecânica quântica, que regem os mais pequenos. Por causa desta complexa amalgama ainda não temos as coisas claras embora esperamos que no futuro os cientistas consigam unifica-las.

No começo as temperaturas eram tão altas que segundo a bíblia tudo era luz e segundo a física moderna era um mar de radiação. Ao arrefecer puderam começar a aparecer as primeiras partículas elementares até que finalmente a radiação e a matéria seguiram cada uma os seu caminho. Os protões, electrões e neutrões puderam formar átomos e depois um universo feito fundamentalmente de hidrogênio e hélio. As primeiras condensações de matéria deram origem as estrelas e as galáxias primordiais. A natureza teve jeito depois para criar o resto da matéria da qual somos feitos a partir dos fornos nucleares no coração das estrelas e das explosões das estrelas de grande massa. Por enquanto, o Universo não tem cessado de se expandir.

É lógico perguntar-nos quando começou a expansão. A idade do Universo é, dependendo das teorias que sigamos, no máximo uns vinte mil milhões de anos (mais ou menos um par de milhares de milhões de ano, o que na prática não faz muita diferença no argumento). Quando no filme “Dia da Independência” (“Independence Day”, 1996) Will Smith diz à namorada que os extraterrestres viajaram “noventa mil milhões de anos luz” para chegar à Terra comete um grande erro, que faz pensar que decerto não teve aulas de astronomia básica, porque se isso fosse verdade, os alienígenas teriam estado viajando desde muito antes do começo do Universo.


Tradução de Cristina Zurita.
Héctor Castañeda é astrónomo no Instituto de Astrofísica das Canárias e mantém um site internet com informação em castelhano.