AVISO

Imagem do Dia


NGC 6888 - Nebulosa do Crescente

Ditos

"Ciência não é outra coisa senão um conhecimento habituado no entendimento, o qual se adquiriu por demonstração. E demonstração é aquele discurso que nos faz saber."
- Luís de Camões


O Universo Infinito

2006-06-29
À memória de José Fernando Monteiro

Entre as grandes questões que desde sempre inquietaram a humanidade está esta: É o Universo finito ou infinito? É fechado ou é aberto? Durante muito tempo, na história do pensamento, o Universo foi finito, fechado na sua sétima e última esfera. Mas, entre outras mudanças que a Revolução Científica trouxe, houve uma que não foi de somenos: o Universo passou a ser infinito. A data da "abertura do Universo" foi 1576 e o “abridor” foi um inglês injustamente obscuro, Thomas Digges. Um defensor mais famoso do Universo infinito foi o seu contemporâneo, o italiano Giordano Bruno, que por essa e outras ideias foi queimado em vida. Compreende-se que Galileu não tenha querido adiantar muito sobre o assunto. Mas, para Newton, o Universo já era infinito, pois não havia outra maneira de evitar a aglomeração de estrelas imposta pela gravitação universal.

Com Einstein, o génio que conseguiu subir aos ombros de Newton, o problema voltou a pôr-se. E, numa primeira intuição, Einstein preferiu com base nas suas equações um Universo fechado, introduzindo de uma forma "ad hoc" uma constante - a constante cosmológica - que é uma ideia tão genial que ainda hoje nos desafia. Mas o Universo esteve fechado por muito pouco tempo: as observações nos anos 20 do século passado feitas por Edwin Hubble da expansão do Universo obrigaram à sua "reabertura". Einstein aceitou o veredicto da observação, embora com algumas cautelas. É dele de resto o célebre aforismo: "Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana e quanto à primeira não tenho a certeza".

Hoje, tanto quanto sabemos, o Universo é infinito. O modelo do "Big Bang" de um Universo infinito e em expansão, baseado na observação e no raciocínio, não tem adversário á altura. O Universo está em expansão e, por razões ainda inexplicadas (tal como o Universo, a descoberta do mundo parece ser, ela própria, infinita), em expansão acelerada. Claro que a parte que conseguimos ver é fechada: a nossa vista está encerrada dentro do horizonte cosmológico, mas não é preciso ver o infinito para ele existir.

Quando, recém adolescente, encontrei pela primeira vez o Universo, num livro de Ciências Naturais, o Universo já era infinito. A legenda de uma fotografia do céu cheio de estrelas elucidava que o cosmos se estendia indefinidamente em todas as direcções. Mas o meu problema não era tanto se o Universo era finito ou infinito, pois estava pronto a acreditar no manual. O meu problema era: mas como é que "eles" sabem, já que não podem ir lá longe? Hoje, físico profissional e autor de manuais escolares ("eles" somos "nós"), já sei como é que "eles" sabem. Eu sei como nós sabemos. De facto, vemos o Universo longínquo até ao horizonte cosmológico com olhos artificiais, esses óculos que são os nossos telescópios e radiotelescópios, mas vemos o Universo, para cá e para lá do horizonte, sobretudo com os olhos da nossa mente. E a mente não mente, a mente dos cientistas é treinada para impedir a todo o custo a mentira. Poderemos saber pouco, mas o pouco que sabemos sabemo-lo bem. E, tal como o Universo, o que sabemos está em expansão acelerada...