AVISO
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Estrela Herbig Ae/be LkHa 198
Ditos
"Simplicidade é a derradeira sofisticação. "- Leonardo da Vinci
Dias Marcianos 1
2005-05-27
Marte é com certeza um dos assuntos mais interessantes para estas crónicas. De facto, o planeta vermelho continua a ser alvo das observações de vários engenhos automáticos que o orbitam (Mars Global Surveyor, Mars Odyssey, Mars Express) ou se deslocam na sua superfície (Spirit e Opportunity), e as novidades não cessam.
Em fins de Fevereiro realizou-se no ESTEC, um centro de ensaios da ESA, na Holanda, a primeira Mars Express Science Conference. Um grupo de investigadores portugueses, envolvidos no projecto MAGIC, esteve presente. Era minha intenção ter feito um relato, livre dos pormenores mais técnicos, das interessantes apresentações que se foram sucedendo ao longo dos dias, realizadas por pessoas com tanto peso nas ciências planetárias como Neukum, Formisano, Pillinger, Forget, Atreya e outros, mas a verdade é que o tempo passou, e as notas que fui tirando nessa semana memorável acabaram por nunca passar disso mesmo. Basta dizer que esta Conferência demonstrou que a primeira missão planetária da ESA é um verdadeiro sucesso científico, depois de ter sido uma proeza tecnológica – mesmo com o desaparecimento do Beagle 2, o módulo de superfície de construção britânica.
Foi igualmente por essa altura que recebi a terrível notícia do falecimento do José Fernando Monteiro. Também ele fazia parte do projecto MAGIC, e toda a equipa sentiu profundamente a sua perda. Não o esqueceremos. A decisão de avançar com estas crónicas de uma forma mais regular prende-se com a vontade de homenagear a sua memória, até porque foi ele quem mais me incitou a produzi-las.
Então, o que se passa em Marte por estes dias?
A Mars Express desdobra cautelosamente as antenas do seu radar, o MARSIS; o receio de que esta operação prejudicasse o equilíbrio dinâmico da sonda e até mesmo que afectasse fisicamente algum dos outros instrumentos levou a que só agora, depois de mais de um ano (terrestre) na órbita marciana, a ESA tenha decidido avançar com ela. Curiosamente, ou nem tanto, a decisão sobre o prolongamento da missão da Mars Express só vai ser tomada depois de concluída esta fase, esperemos que sem danos (na reunião dos investigadores envolvidos com o PFS, o espectrómetro atmosférico, que decorreu em Espinho, em Março, o cientista responsável por este instrumento, V. Formisano, adiantou que havia a possibilidade real de um dos sensores sofrer o impacto de uma das antenas quando esta se abrisse).
Este radar é um dos instrumentos que maior interesse desperta na comunidade das ciências planetárias, já que será a primeira vez que se vão obter informações sobre a estrutura do subsolo marciano. O grande aliciante, claro, é a possibilidade de se localizarem zonas onde exista água... não apenas gelo, mas água líquida, algures no seio da crosta marciana. Claro que não vai ser fácil. Os responsáveis por este radar lembraram, no ESTEC, que o instrumento se limitará a identificar transições entre diferentes materiais, não apontando directamente a sua natureza: a determinação desta ficará a cargo de quem interpretar os dados. Também foi imediatamente clarificado, na altura, que a estrutura do agora famoso “mar gelado”, cujas imagens foram apresentadas pela primeira vez na Conferência (depois de ultrapassado um dos famosos embargos da Nature), não será em princípio determinada pelo MARSIS, já que a profundidade estimada (da ordem das dezenas de metros) fica abaixo (ou, neste caso, acima...) da que é necessário atingir para que o aparelho funcione com a melhor definição.
Imagem da Mars Express obtida pela sonda Mars Global Surveyor. Crédito: NASA/JPL/MSSS.A Mars Global Surveyor, essa extraordinária sonda americana que orbita Marte há quase sete anos, continua a obter imagens surpreendentes. Uma das últimas, e mais uma estreia absoluta, é... o retrato da Mars Express! A imagem pode ser vista em aqui.
Antes, a MOC (a câmara operada pela Malin Space Science Systems) já tinha permitido encontrar na superfície marciana não apenas as velhas sondas Viking 1 e 2, como também a Mars Polar Lander, uma das sondas americanas cuja chegada a Marte não correu exactamente como previsto... com as consequências nefastas que se adivinham. Talvez um dia se venha a localizar o Beagle 2, ou o que resta dele.
Quanto aos rovers... o Opportunity continua “atolado” numa duna marciana, os esforços para o libertar continuam, os avanços medem-se em centímetros. Fazem-se testes com um terceiro robot, o que nunca saiu da Terra e cá ficou para desempenhar precisamente este papel. Esperemos que esta difícil fase seja ultrapassada, e que a missão desta máquina fabulosa possa prosseguir. Também o irmão mais velho, o Spirit, encontrou algumas dificuldades no mês passado, mas essas parecem já estar esquecidas, e este rover continua a explorar as colinas que se situam na zona central da cratera Gusev, utilizando toda a sua panóplia de instrumentos para colher informação sobre as rochas que encontra pelo caminho. Mais informações sobre as aventuras e desventuras destes exploradores que continuam nas suas missões solitárias, e cuja duração já ultrapassou claramente o previsto, podem ser encontradas no site que lhes é dedicado: http://marsrovers.jpl.nasa.gov/home/index.html
Entretanto, desde segunda-feira, 23 de Maio, um extenso grupo de investigadores, mais e menos experientes, reúne-se numa remota região dos Alpes franceses para, quase em regime de retiro e ao longo de doze dias, se debruçar sobre o nosso conhecimento actual do planeta vermelho, num workshop organizado pela cientista francesa Therese Encrenaz. A próxima crónica incluirá, espero, pormenores sobre o que lá se passar.
Para concluir, quem estiver interessado em saber mais sobre o que se passou na 1st Mars Express Science Conference, pode experimentar os links seguintes:
Em fins de Fevereiro realizou-se no ESTEC, um centro de ensaios da ESA, na Holanda, a primeira Mars Express Science Conference. Um grupo de investigadores portugueses, envolvidos no projecto MAGIC, esteve presente. Era minha intenção ter feito um relato, livre dos pormenores mais técnicos, das interessantes apresentações que se foram sucedendo ao longo dos dias, realizadas por pessoas com tanto peso nas ciências planetárias como Neukum, Formisano, Pillinger, Forget, Atreya e outros, mas a verdade é que o tempo passou, e as notas que fui tirando nessa semana memorável acabaram por nunca passar disso mesmo. Basta dizer que esta Conferência demonstrou que a primeira missão planetária da ESA é um verdadeiro sucesso científico, depois de ter sido uma proeza tecnológica – mesmo com o desaparecimento do Beagle 2, o módulo de superfície de construção britânica.
Foi igualmente por essa altura que recebi a terrível notícia do falecimento do José Fernando Monteiro. Também ele fazia parte do projecto MAGIC, e toda a equipa sentiu profundamente a sua perda. Não o esqueceremos. A decisão de avançar com estas crónicas de uma forma mais regular prende-se com a vontade de homenagear a sua memória, até porque foi ele quem mais me incitou a produzi-las.
Então, o que se passa em Marte por estes dias?
A Mars Express desdobra cautelosamente as antenas do seu radar, o MARSIS; o receio de que esta operação prejudicasse o equilíbrio dinâmico da sonda e até mesmo que afectasse fisicamente algum dos outros instrumentos levou a que só agora, depois de mais de um ano (terrestre) na órbita marciana, a ESA tenha decidido avançar com ela. Curiosamente, ou nem tanto, a decisão sobre o prolongamento da missão da Mars Express só vai ser tomada depois de concluída esta fase, esperemos que sem danos (na reunião dos investigadores envolvidos com o PFS, o espectrómetro atmosférico, que decorreu em Espinho, em Março, o cientista responsável por este instrumento, V. Formisano, adiantou que havia a possibilidade real de um dos sensores sofrer o impacto de uma das antenas quando esta se abrisse).
Este radar é um dos instrumentos que maior interesse desperta na comunidade das ciências planetárias, já que será a primeira vez que se vão obter informações sobre a estrutura do subsolo marciano. O grande aliciante, claro, é a possibilidade de se localizarem zonas onde exista água... não apenas gelo, mas água líquida, algures no seio da crosta marciana. Claro que não vai ser fácil. Os responsáveis por este radar lembraram, no ESTEC, que o instrumento se limitará a identificar transições entre diferentes materiais, não apontando directamente a sua natureza: a determinação desta ficará a cargo de quem interpretar os dados. Também foi imediatamente clarificado, na altura, que a estrutura do agora famoso “mar gelado”, cujas imagens foram apresentadas pela primeira vez na Conferência (depois de ultrapassado um dos famosos embargos da Nature), não será em princípio determinada pelo MARSIS, já que a profundidade estimada (da ordem das dezenas de metros) fica abaixo (ou, neste caso, acima...) da que é necessário atingir para que o aparelho funcione com a melhor definição.
Imagem da Mars Express obtida pela sonda Mars Global Surveyor. Crédito: NASA/JPL/MSSS.
Antes, a MOC (a câmara operada pela Malin Space Science Systems) já tinha permitido encontrar na superfície marciana não apenas as velhas sondas Viking 1 e 2, como também a Mars Polar Lander, uma das sondas americanas cuja chegada a Marte não correu exactamente como previsto... com as consequências nefastas que se adivinham. Talvez um dia se venha a localizar o Beagle 2, ou o que resta dele.
Quanto aos rovers... o Opportunity continua “atolado” numa duna marciana, os esforços para o libertar continuam, os avanços medem-se em centímetros. Fazem-se testes com um terceiro robot, o que nunca saiu da Terra e cá ficou para desempenhar precisamente este papel. Esperemos que esta difícil fase seja ultrapassada, e que a missão desta máquina fabulosa possa prosseguir. Também o irmão mais velho, o Spirit, encontrou algumas dificuldades no mês passado, mas essas parecem já estar esquecidas, e este rover continua a explorar as colinas que se situam na zona central da cratera Gusev, utilizando toda a sua panóplia de instrumentos para colher informação sobre as rochas que encontra pelo caminho. Mais informações sobre as aventuras e desventuras destes exploradores que continuam nas suas missões solitárias, e cuja duração já ultrapassou claramente o previsto, podem ser encontradas no site que lhes é dedicado: http://marsrovers.jpl.nasa.gov/home/index.html
Entretanto, desde segunda-feira, 23 de Maio, um extenso grupo de investigadores, mais e menos experientes, reúne-se numa remota região dos Alpes franceses para, quase em regime de retiro e ao longo de doze dias, se debruçar sobre o nosso conhecimento actual do planeta vermelho, num workshop organizado pela cientista francesa Therese Encrenaz. A próxima crónica incluirá, espero, pormenores sobre o que lá se passar.
Para concluir, quem estiver interessado em saber mais sobre o que se passou na 1st Mars Express Science Conference, pode experimentar os links seguintes:
- http://sci2.esa.int/Mars/MarsExpressConference2005.pdf - Resumos – textos – das comunicações e posters apresentados
- http://sci.esa.int/science-e/www/object/index.cfm?fobjectid=36537 - As apresentações propriamente ditas