O que são astrónomos amadores ?
O que são astrónomos amadores?
Entre os astrónomos amadores há quem observe ocasionalmente e quem o faça sistematicamente. Uns fazem só observações visuais e outros preferem registar fotograficamente os objectos do seu maior interesse; há quem tenha começado há poucos meses e quem já tenha acumulado várias décadas de conhecimento e experiência: a variedade e profundidade de conhecimentos é imensa entre os amadores (a palavra amador não tem nada de pejorativo). As características da profissão de cada um também podem facilitar a escolha das diferentes opções. F
Os astrónomos profissionais são geralmente doutorados numa determinada área da Astrofísica e dedicam-se à Astronomia como profissão que é a sua fonte de subsistência. Têm conhecimentos teóricos obviamente muito mais profundos que os amadores e têm programas de trabalho muito delineados, dedicados à investigação e incidindo sobre temas específicos. Por isso, mantém uma linha relativamente rígida de trabalho e em geral não podem diversificar muito os seus objectos de estudo. Na maior parte dos casos não fazem observações visuais nem conhecem o céu nocturno tão bem como os amadores.
Os astrónomos amadores podem escolher o que querem observar e quando fazê-lo. Alguns dedicam--se à observação dos planetas e da Lua; outros preferem observar regularmente o Sol (com filtros apropriados); há quem goste mais de observar enxames de estrelas, nebulosas e galáxias; outros observadores optam por observar estrelas variáveis e estrelas duplas. Os astrónomos amadores mudam à vontade a sua área de interesse, desde que seja compatível com o seu equipamento de observação ou com as características do local de onde fazem as suas observações. Podem assim dedicar-se ao que lhes interessa sem os constrangimentos de um programa de trabalho rígido (típico dos profissionais). Por isso, são quase sempre os amadores que descobrem os fenómenos imprevisíveis e fortuitos: supernovas, novas e cometas. Existem actualmente muitos projectos em que os profissionais e amadores participam e colaboram de um modo activo.
Um dos autores deste artigo (GA) ensina Física há 28 anos e licenciou-se nesta área, tendo incluído Óptica e Astronomia na sua formação académica. Faz observações astronómicas há cerca de 36 anos. A sua actividade levou-o a orientar acções de formação, palestras e comunicações sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, e também a escrever vários livros sobre estas temáticas, em autoria e em co-autoria. O outro autor (PR) é professor Associado da Faculdade de Ciências de Lisboa, onde se licenciou em Biologia e se doutorou em Ecologia Animal; interessa-se por Astronomia há mais de 27 anos e começou cedo a fazer fotografias astronómicas. Ao longo dos anos construiu e adquiriu vários telescópios, de diversos tipos (aberturas entre 60 mm e 356 mm), que totalizam actualmente cerca de 30 instrumentos de observação regularmente utilizados. Fez astrofotografias sobre emulsões fotográficas e desde há alguns anos utiliza quase exclusivamente câmaras CCD. A sua actividade levou-o também a escrever livros sobre observações astronómicas e astrofotografia, a fazer palestras, escrever artigos e a fazer dois Atlas em formato CD-Rom com imagens do céu profundo.
O que é preciso para se ser astrónomo amador?
A actividade de astrónomo amador é feita pelo prazer da observação, pela satisfação de ver objectos belos e interessantes, pelo desejo de os fotografar ou de fazer medições. Estas actividades podem ter diferentes níveis de complexidade ou ser feitas de acordo com os interesses e as possibilidades de cada pessoa. Não é preciso ter estudos ou habilitações especiais para ser astrónomo amador. Embora a formação inicial possa influenciar o tipo de observações, ou a sua profundidade, a profissão de cada um não constitui entrave ao gosto por estas observações nem à sua concretização. Por isso, em qualquer associação de astrónomos amadores encontram-se todas as profissões. A astronomia de amadores é uma actividade que cada um faz como entende. De início nem sequer é preciso ter um telescópio, nem mesmo um binóculo. Num outro artigo publicado nesta revista, o leitor interessado poderá encontrar uma referência às diversas fases por que pode passar um astrónomo amador, desde o início, mesmo que nessa fase incipiente nem sequer consiga localizar a Ursa Maior no céu.
Existem em Portugal duas associações de astrónomos amadores: A APAA—Associação Portuguesa de Astrónomos Amadores e a ANOA—Associação Nacional de Observação Astronómica, assim como vários grupos de observação. No final deste artigo, o leitor encontrará os contactos destas associações. Pertencer a uma destas associações e participar livremente nos eventos que referiremos seguidamente facilita e acelera a iniciação à Astronomia e às observações astronómicas. Além disso, através destas associações é normalmente possível ter acesso a instrumentos de observação ou até adquiri-los em condições vantajosas. Há muito para observar e a fascinação pela imensidade cósmica deve ser partilhada. O apoio de livros que entusiasmem, com conselhos práticos e acesso a mais informação constitui também uma ajuda preciosa.
Há ainda diversos eventos periódicos (de entrada livre), ligados à Astronomia de Amadores, que promovem a troca de informações e de experiências entre os participantes. Nestes eventos, que serão referidos mais adiante com algum pormenor, as pessoas surgem cada vez em maior número, evidenciam mais conhecimentos, fazem perguntas mais interessantes. Isso é um grande progresso.
Como é que os astrónomos amadores compatibilizam as suas actividades profissionais com as actividade de astrónomos amadores?
Quem faz observações do Sol pode ter algumas dificuldades em coordenar essa actividade diurna com o horário de trabalho. Nos outros casos as observações são nocturnas, o que não cria sobreposição. O que é preciso é gerir bem o tempo, pois no dia seguinte há trabalho, ou aproveitar fins de semana. As observações do céu profundo (enxames de estrelas, nebulosas e galáxias) são mais interessantes a partir de locais com a menor poluição luminosa possível, e por vezes é preciso levar os equipamentos para locais mais favoráveis, afastados das cidades e grandes povoações. Algumas destas observações (por exemplo as observações da Lua, dos planetas e de estrelas duplas) podem fazer-se mesmo dentro das cidades. Há observações que só se devem fazer com pouca poluição luminosa, ou utilizando filtros especiais, nos arredores das cidades. Outras vezes os interessados deslocam-se para locais com menor poluição luminosa.