Dados astronómicos de Orionte


A constelação de Orionte é a mais magnificente de todo o céu. A sua razoável extensão aliada ao notável brilho de muitas das suas estrelas e o facto de estar situada sobre o equador celeste, levam a que seja visível, pelo menos em parte, de todos os pontos da Terra. Na verdade nem sequer é das maiores, pois com 594 graus quadrados é a 26ª da lista das constelações ordenada segundo as respectivas áreas.

O início do Inverno do hemisfério norte é uma excelente época para a ver nas primeiras horas da noite.

As três estrelas bem alinhadas que formam o cinturão – Delta, Épsilon e Zeta – são conhecidas popularmente como as Três Marias ou ainda como Reis Magos. Todas elas são estrelas muito quentes, o mesmo acontecendo com Beta (Rigel), pelo que mostram cor azulada.

Alfa (Betelgeuse) é uma gigante vermelha cujo volume é tão grande que se fosse colocada no centro do Sistema Solar, atingiria a órbita de Júpiter. Se estivesse à mesma distância que Sírio, ao ser vista da Terra, o seu brilho seria como o da Lua em quarto crescente. Tem uma baixa temperatura superficial (pouco mais de 3000 ºC).


As nebulosas M42/M43 (em baixo à direita) e IC435/NGC2024 (em cima à esquerda). Crédito:Johannes Schedle.
Para sul do Cinturão, uma observação atenta permite detectar uma nebulosidade. Trata-se duma das mais belas nebulosas dos nossos céus. Situada a uma distância que ronda os 1400 anos-luz, portanto com um diâmetro superior a 20 anos-luz, é um ninho onde se estão a formar novas estrelas – tem matéria suficiente para formar dez mil como o Sol – e algumas das já formadas têm uma emissão de energia tão intensa que iluminam o conjunto da nebulosa.

Deste ninho terão já saído várias estrelas, algumas agora muito afastadas entre si, como é o caso de Miú da Pomba (no hemisfério celeste sul) e AE do Cocheiro (em pleno hemisfério celeste norte), ou de Iota de Orionte que ainda está próxima.

Para observar com binóculo ou pequeno telescópio

O conjunto formado por M 42 e M 43 forma a famosa nebulosa de Orionte, detectável a olho nu em local adequado. Com telescópio nota-se uma coloração esverdeada. M 78 é uma nebulosa de emissão difusa e onde se podem ver algumas estrelas. NGC 2024 e NGC 2068 são nebulosas difusas. Duma forma geral, um «passeio» com um binóculo através desta zona do céu é muito gratificante, pois nela abundam estrelas de grande brilho.

Curiosidades

J. Schiller ao tentar cristianizar as constelações, fez desta zona do céu S. José, o marido da Virgem Maria. Visto da Terra, o diâmetro de Betelgeuse é de 0,047”, o que equivale à espessura de um cabelo a 500 metros de distância! O nome mais curioso dado às três estrelas do cinturão de Orionte deverá ter sido o usado por Germânico César: Vagina, cujo significado é «Bainha do Sabre».


Região central do aglomerado do Trapézio. Crédito: NASA/ESA/J. Bally, D. Devine & R. Sutherland.
O Trapézio

Um dos aspectos mais fascinantes da observação de Orionte é a região da sua encantadora nebulosa de emissão. Nessa localização, a olho nu pode ver-se a “estrela” designada como Teta de Orionte é na verdade um sistema estelar múltiplo completamente imerso na Grande Nebulosa de Orionte. Com um pequeno binóculo notam-se duas estrelas, mas com instrumentos de maior abertura notam-se bem as quatro principais estrelas a formarem um pequeno trapézio. O facto de os lados desse trapézio terem medidas que vão de 9 a 19 segundos de arco obriga a uma razoável abertura do instrumento.

As estrelas que formam os vértices do Trapézio têm magnitudes que vão dos 5,4 para a mais brilhante até aos 7,5 da mais discreta. No entanto, recorrendo a instrumentos de maior abertura, podem ver-se mais duas estrelas, ambas de magnitude aparente 11. Na verdade, e aqui está o maior fascínio desta região do céu, as seis estrelas antes enumeradas são apenas as mais brilhantes de um enorme grupo do qual mais de 300 têm um brilho aparente superior ao da magnitude 17. Todas estas estrelas são muito jovens, provavelmente com menos de 300 000 anos. Aliás os membros mais jovens do grupo ainda não concluíram o processo de contracção gravitacional, ou seja, ainda não entraram na chamada “sequência principal”.