A Origem...
Desde o século XX, graças às revoluções epistemológicas da Relatividade Geral e da Mecânica Quântica, que forneceram ferramentas novas para a descrição dos fenómenos em grandes escalas do Universo, que podemos reconstruir cientificamente a história cósmica.
Tudo começa em 1922 com o matemático russo Alexandre Friedman (1888-1925) e o físico – e padre jesuíta- belga Georges Lemaitre (1894-1966) em 1924 que independentemente construíram os fundamentos da teoria do Big-Bang.
Alexandre Friedman
Einstein, Nobelizado apenas um ano antes, partidário de um Universo estacionário, condizente com as observações da altura (antes da descoberta de Edwin Hubble em 1929 sobre a fuga das galáxias) foi o avaliador do artigo e asperamente respondeu a Friedmann :
Os resultados sobre os mundos não-estacionários, contidos neste [Friedmann] trabalho, parecem-me suspeitos. Na realidade, a solução dada não satisfaz as equações de campo.
No mesmo ano, Friedmann escreve a Einstein :
Considerando que a possível existência de um mundo não-estacionário tem um certo interesse, permita-me que lhe apresente os cálculos que eu fiz ... para verificação ... Se achar os cálculos apresentados na minha carta correctos, por favor tome a amabilidade de informar os editores da Zeitschrift für Physik; talvez neste caso, você possa publicar uma correcção á sua afirmação ou providencie a oportunidade para que uma porção desta carta seja publicada.
Somente 6 meses mais tarde, Einstein teve a oportunidade de ler os detalhes da carta de Friedman, escrevendo imediatamente à Zeitschrift für Physik :-
Na minha anterior nota, critiquei o trabalho de Friedman...No entanto, as minhas críticas, após ter sido convencido pela carta de Friedmann, comunicada pelo Sr. Krutkov, basearam-se num erro dos meus cálculos. Considero que os resultados do Sr. Friedmann estão correctos e são uma nova luz.
Georges Lemaitre
Genericamente, os modelos de Universos em expansão de Friedmann-Lemaitre descrevem uma história cósmica nova, em que o Universo começa muito pequeno, extremamente denso, quente e homogéneo, se expande, se dilui e arrefece.
Durante os 13.8 mil milhões de anos de vida cósmica que a teoria consegue descrever, vários eventos ocorrem (ver abaixo), produzindo o quadro cósmico que hoje observamos e disfrutamos : um Universo vasto, muito pouco denso, frio, algo inóspito até, contendo uma fauna de objectos distantes e luminosos como galáxias, quasares e outros que lentamente se formaram.
História da expansão do Universo em 10 passos:
- Big-Bang
- 10-43 s. Época de Planck. As forças fundamentais da Física estão unficadas.
- 10-39 s. Temperatura=1030 K. A Grande Unificação é quebrada e a gravitação separa-se das outras forças. Uma assimetria matéria-antimatéria conduz a um excesso de matéria sobre antimatéria de uma parte num bilião. A matéria e antimatéria aniquilam-se excepto o pequeno excesso de matéria. O Universo fica com um banho de mil milhões de fotões por partícula de matéria. Eis a origem dos fotões do Fundo de radiação Cósmica.
- 10-35 s. T=1027 K Graças à inflação, o Universo observável atinge o tamanho de um melão.
- 10-5 s. T=1012 K. Começo da formação de nucleões.
- 100 s. T=1 000 000 000 K. O Universo é como o interior de uma estrela. Formam-se os primeiros elementos químicos por fusão nuclear: Deutério (um isótopo de Hidrogénio), Hélio e Lítio.
- 380 000 anos. T=3500 K. Os fotões desacoplam das partículas (nucleões e núcleos atómicos) . O Universo torna-se neutro e transparente. Os fotões – fundo de radiação cósmico – permeiam o Universo e viajam pelo espaço -tempo.
- T=10 K. 500 milhões de anos. As primeiras estrelas e galáxias formam-se em menos de 1000 milhões de anos.
- 1010 anos. Formação do sistema solar.
- A vida, uma propriedade do nosso Universo, aparece na Terra há cerca de 3.5 mil milhões de anos.
Sem dúvida, um dos pilares desta teoria – o Big-Bang (termo cunhado pejorativa e humoristicamente pelo astrofísico inglês Fred Hoyle, que nunca acreditou na teoria, apesar das observações concordantes), é de que o Universo teve um passado quente, a temperaturas muito altas. E se teve temperaturas muito altas, então hoje, por via do arrefecimento induzido pela expansão, teria uma temperatura mesurável, mas muito mais baixa.