Embora as OG constituam uma consequência inevitável de qualquer teoria
relativistica da gravitação, é curioso notar que desde o início mesmo
defensores da Relatividade Geral tão notáveis como Sir Arthur
Eddington terão tido algumas dúvidas acerca da sua realidade física.
De facto, Eddington sugeriu que as ondas gravitacionais
poderiam representar simplesmente uma perturbação nas coordenadas do
espaço-tempo e como tal não seriam observáveis e a certa altura
terá mesmo comentado num tom irónico que as OG "viajam à
velocidade do pensamento". Foi necessário esperar até ao final dos
anos 50 do Séc. XX (mais de 30 anos após o aparecimento da
Relatividade Geral)
para que Sir Herman Bondi e colaboradores demonstrassem de uma forma
invariante e independente do sistema de coordenadas que as OG
transportam energia e momento e a massa de um sistema que radie OG
deve portanto diminuir. Foram precisos no entanto mais alguns anos
para que fosse encontrada evidência observacional indirecta para a
perda de energia sob a forma de ondas gravitacionais num sistema
astrofísico.
A descoberta em 1974 de um pulsar num sistema binário por Joseph
Taylor, então professor na Universidade do Massachusetts, e
pelo seu estudante Russel Hulse veio finalmente produzir evidência
(embora indirecta) da realidade física das OG. Após a descoberta do pulsar binário PSR1913+16, cedo se tornou claro
que este era constituido por dois objectos compactos com raios da
ordem das
dezenas de quilómetros, mas massas da ordem da massa solar, a uma
curta distância um do outro, da ordem da distância da Terra à Lua. Um tal
sistema apresentava todo o potencial para se tornar um laboratório
privilegiado para testar a Relatividade Geral. Mais de quatro anos de
observção cuidada por Taylor e colaboradores conduziram finalmente
a uma medição da variação no período orbital do sistema de 75 milionésimos de
segundo por ano. Este pequeno mas signifivativo decréscimo do período
orbital pode ser explicado pela perda de energia do sistema sob a
forma de radiação gravitacional. Uma das consequências do decréscimo
do período orbital é a aproximação dos dois objectos que formam o
binário numa dança da morte que conduzirá à destruição de ambos. Nos instantes
imediatamente anteriores ao desfecho macabro para o pulsar e a
companheira, a teoria prevê um aumento espectacular na emissão de ondas
gravitacionais até à coalescência dos dois objectos.
Apesar da variação observada no período orbital ser quase
insignificante a diferença entre este valor e a
previsão da Relatividade Geral é menor que 1% ! Apesar deste
acordo espectacular entre a teoria e a observação, têm sido feitas
tentativas para explicar o decréscimo do período orbital que não
envolvem a perda de energia pela emissão de ondas
gravitacionais. Convém aqui salientar que esta é uma atitude perfeitamente
normal e desejável em ciência: quando um resultado resiste a
tentativas de invalidação e explicações alternativas, torna-se
necessariamente mais forte. Embora alguns dos cenários alternativos
que prescindem das OG não sejam de todo inviáveis, quase todos
envolvem hipóteses que dificilmente podem ser testadas e nenhum é tão
elegante e simples como a solução fornecida pela Relatividade Geral.
Em face de todo este entusiasmo, convém deixar aqui bem claro que o
pulsar binário não oferece uma prova directa para a existência de ondas
gravitacionais e não substitiu de forma alguma a detecção
directa. Em particular, a astronomia de ondas gravitacionais
fornece-nos uma janela sobre o Universo que tem até agora permanecido
fechada e dificilmente poderá ser acessível de outro modo:
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