Figura 1- Fotografias da constelação do Sagitário. Exposições de 20 s, 1 min e 4 min Câmara Pentax Spotmatic, objectiva Takumar 50 mm, 1:1.4. Pedro Ré (1973).
Tudo o que necessita para realizar as suas primeiras fotografias astronómicas é de uma câmara fotográfica, de preferência reflex (SLR, do inglês Single Lens Reflex), de um tripé fotográfico ou um outro suporte estável e de um disparador de cabo.

Estas primeiras astrofotografias poderão ser realizadas numa noite sem Lua e longe das luzes da cidade (poluição luminosa). A câmara fotográfica deve ser munida de uma objectiva normal, (50 mm, 1:2.8 ou mais luminosa; evitar o uso de objectivas zoom) montada num tripé estável. Devem utilizar-se, de preferência, câmaras fotográficas que sejam munidas de obturação mecânica (a maioria das câmaras existentes actualmente no mercado possuem obturação electrónica). Se utilizar uma câmara com obturação electrónica rapidamente se gastarão as suas pilhas por terem de efectuar poses relativamente longas (>30 s).

Carregue a sua câmara com um filme colorido de sensibilidade igual ou superior a ISO/ASA 200 ou 400. Aponte-a para um grupo de estrelas brilhantes (por exemplo a constelação da Ursa Maior, Orionte ou Sagitário) e realize com o auxílio de um disparador de cabo uma série de exposições de longa duração (20 s, 1 min e 4 min) tendo o cuidado de focar a objectiva a infinito (oo) e utilizar a sua máxima abertura.

Quando revelar o filme verificará que a fotografia que efectuou com uma exposição de 20 segundos apresentará imagens estelares quase pontuais, enquanto que nas poses superiores (1 e 4 min) as imagens das estrelas surgem como traços (Figura 1). Estes traços estelares são devidos à rotação da esfera celeste ou seja à rotação da Terra1. As estrelas observáveis próximo do equador celeste (e.g. constelação do Orionte ou Sagitário) parecem "mover-se" segundo linhas quase rectas enquanto que as estrelas próximas dos pólos celestes norte (e.g. constelações da Ursa Menor, Ursa Maior e Cassiopeia) e sul (e.g. constelação do cruzeiro do Sul) parecem "movimentar-se" segundo círculos.

Figura 2- Fotografia da região circumpolar norte (Ursa Menor). Exposição 10 min Câmara Pentax Spotmatic, objectiva Takumar 50 mm, 1:1.4. Pedro Ré (1973).
Um outro projecto interessante consiste em fotografar, recorrendo às mesmas técnicas anteriormente descritas, a área próxima do pólo celeste norte ou sul, utilizando tempos de exposição mais longos, (e.g. 10 min, 30 min 1 h ou tempos de exposição superiores) (Figura 2).

Tomando como referência os tempos de exposição fornecidos na Tabela 1, é possível realizar com enorme facilidade fotografias das principais constelações. Os tempos de exposição, apesar de reduzidos, permitem registar um número de estrelas superior ao que é observado à vista desarmada num local escuro.

A maioria das câmaras fotográficas SLR actuais é totalmente automática e consequentemente pouco adequada para a realização de fotografias astronómicas de longa pose. Qualquer tipo de câmara fotográfica1 pode ser utilizado na realização de astrofotografias. Existem muitos modelos distintos de câmaras fotográficas, nomeadamente: câmaras 110, câmaras 126, câmaras Polaroid, câmaras básicas de 35 mm de visor directo, câmaras automáticas de 35 mm de visor directo, câmaras reflex (SLR) manuais, câmaras reflex (SLR) automáticas, câmaras de grande formato (120 e superior), câmaras digitais. De entre estes modelos as câmaras 35 mm, as câmaras de grande formato e algumas câmaras digitais são as mais adequadas para a realização de fotografias astronómicas.

Tabela 1- Tempos de exposição máximos (em segundos) para que as estrelas não surjam como traços.
Distância Focal da objectiva (mm) Declinação
  30º 45º 60º 75º
18 mm 55 65 80 110 220
24 mm 40 50 60 85 160
28 mm 35 40 50 75 140
35 mm 30 33 40 60 110
50 mm 20 23 28 40 75
100 mm 10 12 14 20 40
135 mm 7,5 8,5 11 15 30
200 mm 5 5,5 7 10 20
As câmaras manuais permitem a realização de poses longas (segundos, minutos ou horas) sem necessitarem de utilizar baterias internas2. Devem utilizar-se câmaras que possuam pose B (“bulb”) ou T (“Time”)3. Devem igualmente utilizar-se câmaras de objectivas intermutáveis do tipo SLR. Torna-se deste modo possível usar diversas objectivas com distâncias focais distintas. As câmaras que utilizem películas de 35 mm são as mais adequadas.

As conjunções de planetas ou da Lua com planetas constituem excelentes motivos fotográficos. A conjunção da Lua com estrelas brilhantes é igualmente interessante e fácil de fotografar. As técnicas a utilizar são ligeiramente distintas das referidas anteriormente. Os tempos de pose podem ser mais curtos, e nestes casos deve recorrer-se à utilização de objectivas com distâncias focais superiores. Pode inclusivamente utilizar-se objectivas zoom.

Neste tipo de imagens, o enquadramento é essencial. Muitas vezes as conjunções são mais interessantes de fotografar antes do final do crepúsculo astronómico. Nestas ocasiões o céu ainda se encontra iluminado pelo Sol, pelo que as exposições serão da ordem da fracção de segundo ou da ordem dos segundos. Nestes casos recorrer-se-á ao fotómetro da câmara fotográfica para calcular a exposição correcta, ou mesmo ao uso de câmaras4 que não sejam adequadas para a obtenção de fotografias de longa pose. As câmaras digitais podem também ser usadas apesar das limitações que alguns modelos apresentam. Uma película com uma sensibilidade baixa ou média,100 a 200 ISO/ASA, produzirá excelentes resultados.

Figura 3- Fotografia de conjunções (Lua e Vénus) obtidas em dois dias sucessivos (20020811 e 20020812). FujiFilm S1 Pro, objectiva Nikon 28/200. Pedro Ré (2002).
No caso de se recorrer à utilização de câmaras digitais, a melhor opção é realizar as imagens logo a seguir ao pôr do sol. A maioria das câmaras digitais existentes actualmente no mercado apresenta características pouco adequadas para a realização de fotografias astronómicas. De entre estas pode mencionar-se o foco fixo ou automático e a exposição automática. Somente nalguns modelos é possível focar manualmente a infinito e controlar o tempo de exposição5. Apesar destas limitações é possível obter excelentes imagens de conjunções com o auxílio de câmaras digitais. A focagem pode ser efectuada tomando como referência um objecto que se encontre em primeiro plano, e a exposição será efectuada de um modo automático. Torna-se necessário bloquear o sistema de focagem apertando o disparador até meio do seu percurso e só depois enquadrar e efectuar a integração.



1 Apesar dos tipos fundamentais de câmaras terem mudado muito pouco ao longo dos anos, existem muitos estilos diferentes.
2 As câmaras automáticas que dependem da utilização de baterias, apesar de poderem realizar exposições longas, consomem energia de modo muito rápido, tornando-se inoperacionais em poucos minutos.
3 A utilização da pose B e T permite a realização de exposições longas. No primeiro caso é necessário utilizar um disparador de cabo.
4 Câmaras automáticas com obturação electrónica
5 Alguns modelos mais avançados, por exemplo a Nikon CoolPix, permite a realização de poses até 30 segundos.