A sonda Mariner 4. Crédito: NASA
A era espacial começou oficialmente em 4 de Outubro de 1957, com o lançamento do Sputnik 1. Apenas cinco anos mais tarde, em Novembro de 1962, a então URSS lançou a primeira missão espacial a Marte: Mars 1. O seu objectivo era fotografar o planeta mas as comunicações perderam-se em Março de 1963. Foi o primeiro de uma longa série de desaires na exploração espacial de Marte: dois terços das missões até hoje falharam.

As primeiras imagens de outro planeta obtidas por uma missão espacial foram-no pela Mariner 4, da NASA, logo em 1965. A Mariner 4 era pequena, leve (só 260 kg) e simples. O seu principal instrumento era uma câmara de televisão.

A primeira imagem Mariner 4 de Marte, 1965. É também a primeira imagem de outro planeta obtida por uma sonda espacial. Crédito: NASA
As imagens Mariner 4 eram de má qualidade mas, apesar disso, levavam tanto tempo a ser gravadas a bordo e transmitidas para a Terra, que toda a missão só obteve vinte e duas imagens de Marte. Nessas imagens viam-se desertos, crateras, montanhas, calotes polares - mas nenhum canal. Na verdade, o Marte da Mariner 4 parecia-se muito com a nossa Lua.

As sondas seguintes, Mariner 6 e 7, passaram próximo de Marte em 30 de Julho e 4 de Agosto de 1969, respectivamente, tendo enviado para a Terra um total de 201 imagens.

Nesta altura, levada pelo sucesso paralelo do programa Apolo, a NASA tinha grandes projectos para Marte. Vernher von Braun chegou mesmo a produzir um relatório preliminar sobre a tecnologia necessária para colocar astronautas americanos em Marte. Enquanto esse tempo não chegava, era importante conhecer melhor o planeta - começou-se a delinear o projecto Viking. Com o fim declarado de escolher o local de pouso das sondas Viking, lançaram-se mais duas sondas do programa Mariner. A Mariner 8 abortou, tendo perecido no fundo do Pacífico, mas a Mariner 9 foi um pleno sucesso.

A sonda Mariner 9. Crédito: NASA, JPL.
Lançada em 1971, transmitiu para a Terra um total de 7329 imagens que cobriram quase todo o planeta, tendo também, além disso, feito as primeiras imagens de Fobos e Deimos.

As imagens Mariner 9 revelaram-nos muitas surpresas. Grande parte destas relacionavam-se com a relação entre o albedo (a forma como o planeta reflecte a luz solar que nele incide) e a topografia. Classicamente, assumira-se que as zonas mais altas seriam as mais claras e as mais baixas as mais escuras. Mas as imagens Mariner 9 mostraram que muitas destas relações eram invertidas. A mais espectacular foi, talvez, a revelação que a "grande cratera" chamada Nyx Olympica (noite olímpica) era, afinal, um vulcão - hoje chamado Olympus Mons (Monte Olimpo), que sabemos agora ser o maior de todo o Sistema Solar, com mais de 20 km de altitude - num planeta com metade do diâmetro da Terra.

Outra surpresa foi Syrtis Major, já observado por Huygens, que não era uma depressão mas sim um planalto. Por outro lado, a maior parte do hemisfério Norte, brilhante, revelou ser de altitudes inferiores ao hemisfério Sul, mais escuro.

Imagens de Phobos obtidas pela sonda Mariner 9. Pode-se ver, pela primeira vez, a cratera Stickney, com 10 km de diâmetro. Créditos: NASA, JPL
Foi também a primeira vez que se viram pormenores do maior sistema de vales do Sistema Solar: os Valles Marineris.

Nesta altura a URSS estava ao corrente dos planos americanos para a missão Viking. Bem no espírito da época (a guerra fria) procuraram antecipar-se com as missões Mars 2 a 7.

No mesmo ano da missão Mariner 9 a URSS lançou as missões Mars 2 e 3. Produziram poucas imagens (cerca de 60) mas recolheram dados úteis sobre as condições na superfície do planeta.

As missões Mars 4 a 7, lançadas em Julho e Agosto de 1973, foram ainda mais infelizes, principalmente devido a problemas com os computadores de bordo e as telecomunicações.

Entretanto, a NASA planeava as missões Viking. Viriam a ser duas grandes naves idênticas (3400 kg cada), ambas constituídas por um módulo orbital e um módulo de pouso. Foram lançadas em 1975 e chegaram sãs e salvas em 1976, tendo depositado os módulos de pouso, respectivamente a 20 de Julho, na Chryse Planitia e 3 de Setembro na Utopia Planitia.

A maior parte do conhecimento sobre Marte das duas décadas seguintes foi fruto das missões Viking. Veremos, na próxima semana, o que elas nos revelaram.