Como resultado do movimento de translação da Terra, a posição do Sol na esfera celeste dá uma volta completa num ano, percorrendo as constelações do zodíaco. Na altura em que o Sol se encontra numa dessas constelações, as suas estrelas não são visíveis, pois estão ofuscadas pelo brilho solar. Mas os astrónomos antigos registaram o movimento das constelações logo após o crepúsculo e verificaram a sua aproximação à nossa estrela. Perceberam assim qual a altura do ano em que o Sol passava pelas constelações do zodíaco. A gravura mostra a posição actual do Sol no início da Primavera, no chamado equinócio vernal.
Em altura incerta da evolução das sociedades humanas, certamente há muitos milhares de anos, na chamada pré-história, os nossos antepassados terão começado a notar que o aspecto do céu nocturno muda periodicamente e que o ciclo dessa mudança coincide com o ciclo das estações. De facto, ao movimento nocturno aparente das estrelas, derivado da rotação da Terra, sobrepõe-se um outro, mais lento, derivado da translação do nosso planeta, e que tem como resultado uma rotação completa da esfera celeste no decurso de um ano.

No meio do Outono, por exemplo, a constelação de Carneiro nasce a leste logo ao princípio da noite, enquanto a de Capricórnio se deita a oeste logo a seguir ao Sol. Se seguirmos a posição de Carneiro ao longo das semanas, veremos que esta constelação passa a nascer no céu de leste cada dia mais cedo. No princípio do Inverno, já Carneiro aparece bem acima do horizonte ao começo da noite, quando as primeiras estrelas revelam o seu brilho. Algumas semanas mais tarde, já as noites se iniciam com essa constelação muito alto, acima do horizonte sul. Noite após noite, as estrelas parecem descrever um percurso no céu que as leva de leste para oeste. No fim do Inverno, a noite começa com Carneiro perto do horizonte oeste. Então, à medida que os dias avançam, essa constelação aparece cada vez mais brevemente, deitando-se logo a seguir ao Sol. No início da Primavera, a constelação não é visível. Semanas mais tarde, reaparece no céu nocturno, mas desta vez no horizonte leste e logo antes da madrugada. Há pois algumas semanas em que as estrelas de Carneiro não estiveram visíveis.

Os astrónomos das primeiras civilizações perceberam que a posições do Sol e da constelação coincidiram no céu durante essas semanas em que a constelação não se conseguia observar: o Sol estava em Carneiro. Os observadores antigos perceberam também que havia outras estrelas no caminho do Sol e que esse caminho descreve um arco que atravessa o céu de leste para oeste: um círculo máximo sobre a esfera celeste a que se chama eclíptica. No nosso hemisfério, esse arco passa pela esfera celeste acima do horizonte sul.


O calendário origina os signos

A imagem mostra a posição do Sol visto da Terra e projectado contra a esfera celeste, no tempo dos Gregos antigos por alturas do solstício de Verão. Actualmente, projecta-se entre Touro e Gémeos por alturas do solstício
Ao organizarem o seu calendário, os babilónios, tal como muitos outros povos, basearam-se no ciclo anual das estações, que é astronomicamente marcado pela passagem do Sol pelas constelações. Mas os babilónios procuraram harmonizar a medida solar do tempo com a medida lunar. Ora a posição do Sol no fundo estelar demora cerca de 365 dias e um quarto a perfazer uma rotação completa, num ciclo que é chamado ano sideral. Entretanto, a Lua demora cerca de 29 dias e meio a regressar à mesma fase, num ciclo chamado lunação ou mês sinódico. Num ano solar cabem pois 12 meses lunares, embora fiquem de fora cerca de 11 dias, o que sempre constituiu uma complicação para os calendários. É esta coincidência aproximada que levou à divisão do ano em doze meses e à criação dos doze signos do zodíaco.

Ao que parece, os babilónios foram os primeiros a dividir em doze partes a banda celeste por onde o Sol passa no seu movimento aparente, dando a cada uma dessas partes o nome de uma constelação, ou seja, de uma área determinada da esfera celeste, constituída em função de um motivo imaginado pelo desenho das estrelas. Às constelações que estão no caminho do Sol deu-se o nome de signos. São os doze signos do zodíaco.

A palavra "zodíaco" chegou-nos pelo grego "zoidiakos", adjectivo usado na expressão "zoidiakos kuklos", que designava o "círculo de animais" com que se representavam as constelações. A raiz do termo persiste ainda hoje nas línguas ocidentais em vocábulos como "zoológico". Modernamente, o zodíaco designa uma banda celeste com 8 graus para cada lado da eclíptica - a linha por onde o Sol parece deslocar-se. O Sol, a Lua e os planetas parecem todos mover-se na banda do zodíaco. Na realidade, são os planetas que rodam em torno do Sol. Mas rodam todos perto de um mesmo plano, pelo que nos parece que é o Sol que se movimenta no mesmo arco que a Lua e os planetas - o arco que passa pelos signos do zodíaco.


A precessão

Quando os antigos marcaram o trajecto do Sol contra o fundo estelar, o eixo de rotação da Terra tinha uma inclinação diferente da que tem hoje. Essa inclinação tem vindo a mudar, de acordo com um ciclo de cerca de 26 mil anos chamado ciclo de precessão. A precessão é muito lenta, mas é visível quando se comparam observações astronómicas feitas ao longo de diferentes séculos. Ao que parece, terá sido o astrónomo alexandrino Hiparco (século II a. C.) o primeiro a notar esse movimento da esfera celeste. Designou-o por precessão dos equinócios, pois ele é observável na deslocação do ponto da esfera celeste onde o Sol se projecta nos momentos dos equinócios. Assim, por exemplo, o início da Primavera, marcado pelo equinócio vernal (Março), coincidia antigamente com a passagem do Sol pela constelação Carneiro - Aries em latim - pelo que os astrónomos ainda hoje chamam a esse ponto celeste "primeiro ponto de Aries". A precessão fez com que o início da Primavera já não encontre o Sol nessa constelação, mas a astrologia, que herdou os signos dos gregos, não teve em conta esse desfasamento.

Actualmente, as pessoas nascidas entre 21 de Março e 20 de Abril pertencem ao signo astrológico de Carneiro. Mas o Sol encontra-se nessa altura na constelação Peixes. O mesmo se passa com todos os signos. O Sol não entra a 21 de Maio em Gémeos, ao contrário do que a astrologia e a tradição apontam. Só entra na constelação de Castor e Pólux em 22 de Junho.

Const.Desap. a oeste, no ocasoIngresso do Sol na constelaçãoEgresso do Sol da constelaçãoReaparecimento a leste, de madrugadaMelhor visibilidade Signo astrológico
Carneiromeados de Abril19 de Abril14 de Maioprincípios de MaioOutubro e Novembro21 de Março a 20 de Abril
TouroPrincípios de Maio15 de Maio21 de JunhoFins de JunhoDezembro e Janeiro21 de Abril a 20 de Maio
Gémeosmeados de Junho22 de Junho20 de JulhoFins de JulhoJaneiro, Fevereiro e Março21 de Maio a 20 de Junho
Caranguejomeados de Junho21 de Julho10 de AgostoFins de JulhoFevereiro e Março21 de Junho a 21 de Julho
Leãofins de Julho11 de Agosto16 de Setembromeados de SetembroFevereiro, Março e Abril22 de Julho a 22 de Agosto
Virgemprincípios de Setembro17 de Setembro30 de Outubroprincípios de NovembroAbril e Maio23 de Agosto a 22 de Setembro
Balançameados de Outubro31 de Outubro22 de NovembroFins de NovembroMaio e Junho23 de Setembro a 22 de Outubro
Escorpião
Ofíuco
meados de Outubro23 de Novembro
29 de Novembro
28 de Novembro
16 de Dezembro
princípios de JaneiroMaio, Junho e Julho23 de Outubro a 21 de Novembro
Sagitáriomeados de Dezembro17 de Dezembro18 de JaneiroFins de JaneiroMaio, Junho e Julho22 de Novembro a 21 de Dezembro
Capricórniomeados de Janeiro19 de Janeiro15 de Fevereiroprincípios de MarçoJunho e Julho22 de Dezembro a 21 de Janeiro
Aquárioprincípios de Fevereiro16 de Fevereiro11 de Marçoprincípios de AbrilAgosto e Setembro21 de Janeiro a 20 de Fevereiro
Peixesprincípios de Março12 de Março18 de Abrilprincípios de Maio Setembro e Outubro21 de Fevereiro a 20 de Março
A tabela mostra os momentos de entrada (ingresso) e saída (egresso) do Sol, referidos às fronteiras dessas constelações. As datas de desaparecimento e de aparecimento das constelações no céu nocturno são apenas muito indicativas e estão referidas aos asterismos, isto é, aos padrões de estrelas identificados com as figuras mitológicas. As datas que se referem como de melhor visibilidade das constelações coincidem com a altura em que a parte central do asterismo culmina a sul por volta da meia noite. Devido à precessão, há um desfasamento entre as datas de passagem do Sol pelas constelações e os signos do zodíaco, tal como considerados pelos astrólogos. Durante a idade média, a astrologia debateu-se com este problema sem o conseguir resolver. Actualmente, os astrólogos esquecem-no simplesmente, aceitando signos astrológicos desfasados das constelações que lhes deram o nome.



Ofíuco, o décimo terceiro signo

Para os antigos, as fronteiras das constelações estavam pouco definidas, o que importava eram os agrupamentos de estrelas, os chamados asterismos, que associavam a personagens míticas. Em 1922, quando a União Astronómica Mundial chegou a um acordo para dividir o céu em áreas perfeitamente determinadas, foram estabelecidas 88 constelações, cobrindo ambos os hemisférios. Na zona do zodíaco e em outras áreas, procurou-se respeitar a divisão estabelecida pelos antigos, mas foi necessário proceder a algumas adaptações, de forma a englobar os asterismos antigos que se sobrepunham. Assim, as modernas constelações do zodíaco não dividem a eclíptica em doze partes iguais. Além disso, há uma constelação que os antigos não incluíam no zodíaco e por onde o Sol passa: é a Ofíuco, que representa o deus da medicina dos antigos gregos.