Túneis no Espaço-Tempo e Viagens Interestelares Hiper-rápidas
Não faz muito sentido lançar uma expedição científica, ao sabermos que apenas daqui a milhares de anos receberíamos algumas notícias. Torna-se patente que, com a tecnologia actual, não podemos satisfazer as aspirações humanas de explorar livremente o cosmos, na esperança de visitar outras possíveis civilizações ou estudar de perto buracos negros, super-novas e outras maravilhas. Parece que estamos para sempre confinados à vizinhança imediata do Sistema Solar, destinados à solidão cósmica. No entanto, estas dificuldades podem ser contornadas, teoricamente, no âmbito da teoria da gravitação de Einstein, a Relatividade Geral.
De acordo com a Relatividade Geral, o espaço-tempo pode ser extremamente curvo, de modo a ligar duas regiões distantes através de um atalho. Este atalho hipotético é designado por wormhole (tradução à letra: buraco de verme). Um wormhole contém duas entradas que designaremos por bocas, ligadas por um túnel, cuja circunferência mínima chamaremos garganta. É possível visualizar um wormhole através de um diagrama de mergulho, que idealiza um espaço-tempo com apenas duas dimensões espaciais. Neste diagrama a garganta do wormhole é representada por uma circunferência, mas no espaço-tempo 4-dimensional seria uma esfera.
Os wormholes foram alvo de um estudo exaustivo, na década de 50, pelo físico americano John Wheeler e seus colaboradores. No entanto, nenhuma das soluções a que chegaram representa um wormhole transitável no espaço-tempo. As soluções encontradas eram as de um wormhole dinâmico que, uma vez criado, se expandia até um valor máximo da garganta, contraindo-se novamente até a garganta desaparecer. A expansão e a contracção do wormhole é tão rápida que impede a travessia de qualquer viajante ou mesmo de um raio luminoso.
Os físicos têm sido bastante cépticos em relação aos wormholes desde a sua formulação. Entretanto deu-se um renascimento do interesse em fins da década de oitenta, parcialmente devido a um desafio lançado por Carl Sagan a Kip Thorne, sobre a possibilidade real de viagens interstelares rápidas, ideia utilizada no seu livro Contacto, que deu origem a um filme com o mesmo nome.
Além dos wormholes, foram encontradas outras soluções das equações de Einstein que são úteis para possíveis viagens interestelares hiper-rápidas. Destacaremos uma solução descoberta por Miguel Alcubierre, denominada warp drive (tradução à letra: distorção impulsionada), inspirada na fase inflacionária do universo, em que é possível atingir velocidades arbitrariamente elevadas. Tais velocidades advêm da expansão do próprio espaço-tempo. Poderíamos utilizar uma expansão do espaço-tempo para nos afastarmos de um objecto a uma velocidade arbitrariamente elevada. De modo análogo, uma contracção do espaço-tempo aproximar-nos-ia desse objecto. É esta a base do modelo de Alcubierre para viagens interestelares hiper-rápidas. O modelo consiste em criar uma distorção local do espaço-tempo que produz uma expansão na parte traseira de uma nave espacial e uma contracção na parte frontal. Deste modo a nave será afastada da Terra e aproximada de um destino distante pelo próprio espaço-tempo.
Noutra solução, conhecida por tubo de Krasnikov, é possível a um viajante efectuar uma viagem de ida e volta num tempo arbitrariamente pequeno, tal como é medido por um observador em repouso no ponto de partida. Tal como nos wormholes, estas duas soluções também violam as condições de energia, sendo por isso a geometria do espaço-tempo respectivo produzida por matéria exótica.
Outra consideração assombrosa acerca destas soluções é a sua possível utilização como uma máquina do tempo, embora tal viole aparentemente a causalidade. De facto a Relatividade Geral está contaminada com geometrias que aparentemente permitem viagens no tempo, através de curvas temporais fechadas. Uma curva temporal fechada é uma máquina do tempo, no sentido em que um viajante ao descrever uma trajectória no espaço-tempo ao longo da curva, depara-se consigo próprio a iniciar a viagem quando regressa ao ponto de partida.
A nossa abordagem aos wormholes faz-se em 4 secções:
Autoria: Francisco Lobo Investigador do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa |