Hubble detecta enorme nuvem de hidrogénio a escapar-se de um exoplaneta

2015-06-25

Concepção artística que mostra uma enorme nuvem de hidrogénio, The Behemoth, semelhante a um cometa a escapar-se de um planeta quente, do tamanho de Neptuno, a apenas 30 anos-luz da Terra. Está também representada a estrela-mãe, GJ 436, que é uma anã vermelha ténue. O hidrogénio evapora-se do planeta devido à radiação extrema da estrela. Crédito: NASA, ESA, and G. Bacon (STScI).
Usando o Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
, os astrónomos descobriram uma imensa nuvem de hidrogénio, à qual foi dado o nome de The Behemoth (monstro gigante), a escapar-se de um planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
que orbita uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
próxima. A estrutura enorme, semelhante a um cometa
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
, tem cerca de 50 vezes o tamanho da estrela-mãe. O hidrogénio evapora-se a partir do planeta quente, do tamanho de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
, devido à radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
extrema da estrela.

Este fenómeno nunca tinha sido observado em torno de um exoplaneta
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
tão pequeno, e pode fornecer pistas sobre o processo de evaporação das camadas exteriores de outros planetas com atmosferas
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
de hidrogénio, por influência das suas estrelas-mãe, restando apenas sólidos núcleos rochosos. Planetas rochosos quentes como estes, que têm aproximadamente o tamanho da Terra, são conhecidos como Super-Terras Quentes.

"Esta nuvem é muito espectacular, embora a taxa de evaporação não ameace o planeta neste momento", explicou o principal investigador do estudo, David Ehrenreich, do Observatório da Universidade de Genebra, na Suíça. "Mas sabemos que, no passado, a estrela, que é uma anã vermelha ténue, foi mais activa. Isto significa que o planeta evaporou mais depressa durante os seus primeiros mil milhões de anos de existência, devido à forte radiação da jovem estrela. Estima-se que possa ter perdido até 10% da sua atmosfera ao longo dos últimos milhares de milhões de anos."

O planeta - GJ 436b - é considerado um “Neptuno quente" por causa do seu tamanho e porque está muito mais perto da sua estrela do que Neptuno está do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. Embora a sua atmosfera não esteja em perigo de se evaporar completamente, restando apenas um núcleo rochoso, este planeta pode explicar a existência das Super-Terras Quentes que estão muito perto das suas estrelas.

Estes mundos rochosos quentes foram descobertos pela missão CoRoT (Convection Rotation and Planetary Transits) e pelo telescópio espacial Kepler, da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
. As Super-Terras Quentes podem ser os restos de planetas de maior massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
que perderam completamente as suas espessas atmosferas gasosas, pelo mesmo tipo de evaporação.

A atmosfera da Terra
atmosfera terrestre
A atmosfera terrestre é composta por um conjunto de camadas gasosas que envolvem a Terra. Estas camadas são designadas por Troposfera (da superfície da Terra até cerca de 10 km de altitude), Estratosfera (10 - 50 km), Mesosfera (50 - 100 km), Termosfera (100 - 400 km) e Exosfera (acima dos 400 km).
bloqueia a maior parte da luz ultravioleta
ultravioleta
O ultravioleta á a banda do espectro electromagnético que cobre a gama de comprimentos de onda entre os 91,2 e os 350 nanómetros. Esta radiação é largamente bloqueada pela atmosfera terrestre.
, por isso, os astrónomos precisavam de um telescópio espacial, com as capacidades de ultravioleta e a precisão do Hubble, para encontrarem esta nuvem de hidrogénio.

"Precisávamos dos olhos do Hubble", disse Ehrenreich. "Não veríamos o fenómeno em comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
visíveis. Mas virando o olho ultravioleta do Hubble para o sistema, há realmente uma espécie de transformação, porque o planeta se transforma em algo monstruoso."

Como a órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
do planeta está inclinada, quase alinhada com a vista da Terra, o planeta pode ser observado a passar em frente à sua estrela. Os astrónomos também viram a o eclipse
eclipse
Um eclipse é uma ocultação total ou parcial de um corpo celeste, quando outro corpo passa entre este e o observador.
da estrela pela nuvem de hidrogénio em torno do planeta.

Ehrenreich e sua equipa pensam que a existência desta enorme nuvem de gás em torno do planeta é possível porque a nuvem não é aquecida rapidamente e a pressão da radiação da estrela anã
estrela anã
Uma estrela anã, também dita estrela da sequência principal, é uma estrela não evoluída, que ainda se encontra na fase de fusão do hidrogénio em hélio, no seu núcleo.
vermelha, relativamente fria, é demasiado débil para a afastar. Isto permite que a nuvem permaneça durante mais tempo.

Uma evaporação deste tipo pode ter acontecido nas primeiras fases do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, quando a Terra tinha uma atmosfera rica em hidrogénio que se dissipou em 100 a 500 milhões de anos. Neste caso, a Terra pode ter tido uma cauda de cometa.

GJ 436b situa-se muito próximo da sua estrela – a menos de 3,2 milhões de quilómetros - e orbita-a em apenas 2,6 dias terrestres. Em comparação, a Terra está a 149,6 milhões de quilómetros do Sol e orbita-o a cada 365,24 dias. Este exoplaneta tem pelo menos 6 mil milhões de anos (e pode ter até o dobro da idade). Tem a massa de cerca de 23 Terras e está a apenas 30 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
de distância, sendo um dos planetas extra-solares conhecidos mais próximos.

Encontrar esta nuvem pode significar uma reviravolta na caracterização de atmosferas de toda uma população de planetas do tamanho de Neptuno e de Super-Terras em observações no ultravioleta. Ehrenreich espera que nos próximos anos os astrónomos encontrem milhares de planetas deste tipo.

A técnica ultravioleta utilizada neste estudo pode também detectar a assinatura de oceanos a evaporarem-se em planetas mais pequenos, mais semelhantes à Terra. Será extremamente difícil os astrónomos verem directamente vapor de água nesses mundos, por estar muito baixo na atmosfera e fora do alcance dos telescópios. No entanto, quando as moléculas
molécula
Uma molécula é a unidade mais pequena de um composto químico, sendo constituída por um ou mais átomos, ligados entre si pelas interacções dos seus electrões.
de água são divididas em hidrogénio e oxigénio pela radiação estelar, os átomos
átomo
O átomo é a menor partícula de um dado elemento que tem as propriedades químicas que caracterizam esse mesmo elemento. Os átomos são formados por electrões à volta de um núcleo constituído por protões e neutrões.
de hidrogénio relativamente leves podem escapar do planeta. Se os cientistas detectarem este hidrogénio a evaporar-se de um planeta ligeiramente mais temperado e com menor massa que GJ 436b, pode ser um indicador de um oceano à superfície.

As descobertas da equipa vêm publicadas na edição de 25 de Junho da revista Nature.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/feature/goddard/hubble-sees-a-behemoth-bleeding-atmosphere-around-a-warm-exoplanet