Bruma levada ao sabor do vento

2002-08-29

Bruma na atmosfera de Titã. Crédito: NASA/Voyager.
Titã é particularmente interessante para os astro-biólogos, devido às suas semelhanças com a Terra pré-biótica (antes do aparecimento da vida). As moléculas
molécula
Uma molécula é a unidade mais pequena de um composto químico, sendo constituída por um ou mais átomos, ligados entre si pelas interacções dos seus electrões.
de metano e azoto, que são os componentes básicos da atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
, são convertidas pela luz solar em compostos orgânicos complexos como os hidrocarbonetos (e talvez aminoácidos), que são os compostos químicos da vida terrestre. Algo semelhante pode ter acontecido na Terra primitiva. A espessa bruma atmosférica de Titã, parecida com o "smog" terrestre causado pela poluição nas grandes cidades, é formada por partículas de agregados destes compostos a 400 km de altitude.

Desde 1980, aquando da passagem das sondas Voyager, que Titã tem intrigado os cientistas. Um dos mistérios é que a bruma é mais brilhante no hemisfério de Verão do que no hemisfério de Inverno, e esta assimetria varia com as estações do ano, cuja duração é de 7 anos terrestres. A bruma é também muito mais espessa sobre os pólos. Mas o mais estranho é uma segunda camada de bruma, que aparece destacada nas fotografias, pairando fantasmagoricamente sobre a camada principal.

O novo modelo é o primeiro a tratar a interacção entre a bruma orgânica de Titã, a luz solar, e o vento na atmosfera. É o aquecimento da atmosfera pelo Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
que provoca os ventos que, por sua vez, transportam as partículas da bruma. Num ano de Titã as partículas deveriam seguir um ciclo, viajando entre os dois pólos. Mas segundo o modelo, as partículas maiores aumentam de peso e caem ao chegarem ao pólo de Inverno, fazendo a sua viagem de regresso ao ponto de partida a uma altitude abaixo daquela a que se formaram. São as partículas pequenas e leves que permanecem suspensas, formando uma segunda camada de bruma. Isto é um importante aspecto de "feedback" entre o aquecimento solar, o vento e a formação da bruma, até aqui desconhecido.

Os autores do artigo são Pascal Rannou e Frederic Hourdin, das Universidades de Versalhes e de Paris, e Chris McKay, do Centro de Investigação Ames da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
. O modelo da atmosfera de Titã está também a ser desenvolvido em colaboração com investigadores do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, e é um elemento importante na preparação da missão Cassini-Huygens
Cassini-Huygens (NASA/ESA)
A missão Cassini-Huygens é uma missão conjunta da NASA e da ESA dedicada a Saturno que foi lançada no dia 13 de Outubro de 1997. Esta missão é composta por duas sondas: a sonda Cassini cujo objectivo principal é o estudo de Saturno, da sua atmosfera e do seu campo magnético, e a sonda Huygens cujo objectivo é o estudo da atmosfera do maior satélite de Saturno, Titã. O ponto alto desta missão será sem dúvida o pouso da sonda Huygens na superfície de Titã.
, uma missão da NASA e da Agência Espacial Europeia
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
que atingirá Titã no fim de 2004.

Fonte da notícia: http://amesnews.arc.nasa.gov/releases/2002/02_93AR.html