“Astro-arqueologia” revela antigo sistema com 5 planetas do tipo terrestre

2015-01-27

Em cima: Curvas de luz dos trânsitos dos cinco planetas no sistema Kepler-444. De cima para baixo, os planetas Kepler-444b, Kepler-444c, Kepler-444d, Kepler-444e, Kepler-444f. Os pontos cinzentos representam os dados observacionais, enquanto a linha vermelha representa o melhor ajuste para as observações. Kepler-444f é o mais afastado dos cinco exoplanetas conhecidos no sistema Kepler-444, com uma órbita de 0,08 unidades astronómicas e período de 9,74 dias. O diâmetro deste exoplaneta é 0,74 vezes o diâmetro da Terra. Crédito: Campante et al.,2015. Em baixo: Distância à estrela e tamanhos dos planetas no Sistema Kepler-444 (vermelho), comparados com a distância ao Sol e tamanhos dos planetas do Sistema Solar (azul). A linha a traço interrompido indica a distância de Mercúrio ao Sol. Crédito: Campante et al.,2015.
Graças a dados que a missão espacial Kepler (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) recolheu, quase continuamente, ao longo de 4 anos, uma equipa internacional, da qual fazem parte os investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) Vardan Adibekyan, Nuno Santos e Sérgio Sousa, publicou hoje a descoberta do sistema Kepler-444, na revista The Astrophysical Journal.

Este sistema com cinco planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
ter-se-á formado há 11,2 mil milhões de anos, isto é, quando o Universo tinha cerca de um quinto dos actuais 13,8 mil milhões de anos. Ou seja, quando a Terra se formou, os exoplanetas
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
deste sistema, cerca de 2,5 vezes mais velho que o nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, já eram mais velhos do que a idade actual da Terra. Este é por isso o mais antigo sistema estelar conhecido a albergar exoplanetas do tipo terrestre.

Para Vardan Adibekyan (IA e Universidade do Porto): “A descoberta de um sistema com planetas do tipo terrestre, tão antigo como o Kepler-444, confirma que os primeiros planetas se formaram muito cedo na vida da nossa Galáxia
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
, o que nos dá uma indicação de quando terá começado a era da formação planetária.”

Este sistema, situado a pouco mais de 116 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
, é dos mais próximos observados pelo Kepler, que detectou o quinteto através do método dos trânsitos
trânsito
Designa-se por trânsito a passagem de um objecto astronómico à frente do disco de um objecto maior e mais longínquo. Por exemplo, o trânsito de Vénus diante do Sol.
. É um sistema extremamente compacto, sendo as órbitas
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
destes exoplanetas menos de 5 vezes inferiores à órbita de Mercúrio
Mercúrio
Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. É o mais pequeno dos planetas rochosos, com um diâmetro cerca de 40% menor do que o da Terra.
(menores que 0,08 unidades astronómicas
unidade astronómica (UA)
Unidade de distância, definida como a distância média entre a Terra e o Sol, que corresponde a 149 597 870 km, ou 8,3 minutos-luz.
), o que significa que completam uma translação à volta da estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
em 10 dias ou menos.

Como o método dos trânsitos é indirecto, só permite determinar o tamanho dos planetas em relação ao tamanho da estrela-mãe, sendo necessário conhecer com precisão as características físicas da estrela para conseguir determinar o tamanho dos planetas. Para isso, a equipa teve de recorrer a técnicas de asterossismologia (o estudo do interior das estrelas, através da sua actividade sísmica medida à superfície), que lhes permitiu inferir que a estrela Kepler-444 é uma anã laranja, ligeiramente menor que o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
e com cerca de 5000°C à superfície.

Para o primeiro autor do artigo, Tiago Campante (Univ. Birmingham), esta descoberta tem implicações profundas nas teorias de formação planetária: “Agora sabemos que planetas do tamanho da Terra se formaram ao longo dos 13,8 mil milhões de anos do Universo, por isso, potencialmente, poderão ter sido criadas as condições para o aparecimento de vida desde muito cedo na história do Universo”.

Veja o vídeo em alta resolução em: http://www.iastro.pt/press/kepler444/Kepler444.mp4
O vídeo mostra um zoom desde o campo de observação do satélite Kepler até uma animação de uma representação artística do Sistema Kepler-444, com os cinco planetas a transitarem a estrela. No final, há ainda uma representação do sistema visto "de cima", com comparação do tamanho da estrela com o Sol, e comparação do tamanho das órbitas dos exoplanetas com a órbita da Terra. Crédito: Tiago Campante/Peter Devine.

O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente” na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation (ESF).

Fonte da notícia: http://www.iastro.pt/news/news.html?ID=15