Hubble encontra diversidade inesperada em discos de poeira em torno de estrelas

2014-11-07

Imagens capturadas pelo telescópio Hubble dos vastos sistemas de detritos que rodeiam estrelas próximas. Crédito: NASA/ESA/G. Schneider (Univ. Arizona), and the HST/GO 12228 Team.
Usando o Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
, os astrónomos concluíram o maior e mais sensível levantamento de imagem de luz visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
de discos de detritos e poeira em volta de outras estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
. Estes discos de poeira, provavelmente criados por colisões entre objectos deixados pelo processo de formação planetária, foram fotografados em torno de estrelas com idades que vão dos 10 milhões de anos até mais de mil milhões de anos.

"É como olhar para trás no tempo para vermos os eventos destrutivos que em tempos aconteciam com frequência
frequência
Num fenómeno periódico, a frequência é o número de ciclos por unidade de tempo.
no nosso sistema solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
após os planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
se terem formado", disse o líder da pesquisa Glenn Schneider, do Observatório Steward da Universidade Arizona. Os resultados da pesquisa surgiram na edição de 1 de Outubro de 2014 do The Astronomical Journal.

Pensava-se que eram estruturas simples, com a forma de panquecas, mas a inesperada diversidade e complexidade destas estruturas de detritos e poeira sugere fortemente que devem estar a ser gravitacionalmente afectadas por planetas, ainda não observados, que orbitam a estrela. Em alternativa, estes efeitos podem resultar da passagem das estrelas pelo espaço interestelar.

Os investigadores descobriram que não há dois "discos" de material a circundar as estrelas que sejam iguais. "Achamos que os sistemas não são meramente planos com superfícies uniformes", disse Schneider. "Estes sistemas de detritos são tridimensionais e muito complicados, muitas vezes com estruturas menores encaixadas. Algumas das subestruturas podem indicar planetas invisíveis." Os astrónomos usaram o espectrógrafo STIS (Space Telescope Imaging Spectrograph) do Hubble para estudarem 10 sistemas de detritos circum-estelares previamente descobertos, e ainda MP Mus, um disco protoplanetário maduro, com uma idade comparável ao mais novo dos discos de detritos.

Foram observadas irregularidades num sistema em particular, em forma de anel, em torno de uma estrela com o nome de HD 181327, que se assemelham à ejecção de uma enorme quantidade de detritos pulverizados para dentro da parte externa do sistema a partir da recente colisão de dois corpos.

"Esta ejecção de material pulverizado ocorre a uma distância considerável da sua estrela mãe - mais ou menos o dobro da distância de Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
ao Sol", disse o co-investigador Christopher Stark, do Goddard Space Flight Center da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, em Greenbelt, Maryland. "A destruição catastrófica de um objecto de tão grande massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
a uma distância tão grande é difícil de explicar, e deve ser algo muito raro. Se estivermos de facto a ver o que se segue a uma colisão maciça, o sistema planetário invisível poderá ser muito caótico."

Outra interpretação para as irregularidades é o disco ter sido misteriosamente deformado pela passagem da estrela através do espaço interestelar, interagindo directamente com a matéria interestelar invisível. "Em qualquer dos casos, a resposta é emocionante", disse Schneider. "A nossa equipa está a analisar observações de acompanhamento que irão ajudar a revelar a verdadeira causa da irregularidade."

Ao longo dos últimos anos, os astrónomos descobriram uma incrível diversidade na arquitectura dos sistemas exoplanetários – os planetas estão dispostos em órbitas
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
que são muito diferentes das que encontramos no Sistema Solar. "Agora, estamos a ver uma diversidade semelhante na arquitectura dos sistemas de detritos que acompanhamos", disse Schneider. "Como estão os planetas a afectar os discos e os discos a afectar os planetas? Existe algum tipo de correlação entre um planeta e os detritos que o acompanham que deve afectar a evolução destes sistemas de detritos exoplanetários."

Para Schneider, a mensagem mais importante a tirar a partir desta pequena amostra é a da diversidade. Segundo ele, os astrónomos precisam efectivamente de entender as influências internas e externas nestes sistemas, tais como ventos estelares e interacções com as nuvens de matéria interestelar, e como são influenciados pela massa e idade da estrela mãe, e a abundância de elementos
abundância química
A abundância química de um determinado elemento químico é o número relativo de átomos ou isótopos desse elemento num objecto ou estrutura.
mais pesados necessária para construir planetas.

Embora os astrónomos tenham descoberto cerca de 4000 candidatos a exoplanetas
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
, desde 1995, principalmente por métodos de detecção indirecta, apenas cerca de duas dezenas de sistemas de detritos circum-estelares, de dispersão da luz
dispersão da radiação
A dispersão da radiação é o fenómeno de alteração da trajectória dos fotões dum feixe de radiação quando este atravessa um meio. A dispersão da radiação pode resultar de qualquer combinação das três formas de interacção da radiação com a matéria: reflexão, absorção seguida de reemissão, ou difracção.
, foram fotografados durante este mesmo período. Isto porque os discos são tipicamente 100 mil vezes mais ténues do que as suas estrelas brilhantes (e muitas vezes muito próximos). A maioria foi observada graças à capacidade do Hubble para imagens de alto contraste, nas quais a luz esmagadora da estrela é bloqueada para revelar o fraco disco que a rodeia.

O novo levantamento de imagens também nos dá uma visão de como o nosso sistema solar se formou e evoluiu, há 4,6 mil milhões de anos. Em particular, a suspeita colisão planetária observada no disco em torno de HD 181327 pode ser semelhante à que deu origem à formação do sistema Terra-Lua, bem como do sistema Plutão-Caronte, há mais de 4 mil milhões de anos. Nestes casos, as colisões entre corpos do tamanho de planetas lançaram detritos que depois se fundiram numa lua companheira.

Fonte da notícia: http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2014/44/full/