219 milhões de estrelas: um catálogo detalhado da parte visível da Via Láctea

2014-09-17

Mapa de densidade de parte do disco da Via Láctea, construído a partir de dados do IPHAS. Os eixos mostram a latitude e longitude galácticas, coordenadas que se relacionam com a posição do centro da galáxia. Os dados mapeados referem-se à contagem das estrelas detectadas em i, a banda mais larga (mais vermelha) de comprimento de onda do levantamento, até ao limite ténue de magnitude 19. Embora esta seja apenas uma pequena parte do mapa completo, retrata em detalhe os padrões complexos do escurecimento devido à poeira interestelar. Crédito: Hywel Farnhill, Universidade de Hertfordshire.
Há um novo catálogo da parte visível da região norte da nossa galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
, a Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
, que inclui nada menos do que 219 milhões de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
. Geert Barentsen, da Universidade de Hertfordshire, liderou a equipa que montou o catálogo, durante um programa de 10 anos a usar o Telescópio Isaac Newton (INT) em La Palma, nas Ilhas Canárias. O seu trabalho vem publicado na revista Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Quando vista de locais da Terra com céus escuros, a Via Láctea surge como uma faixa brilhante que se estende por todo o céu. Os astrónomos sabem que se trata do disco da nossa galáxia, um sistema que se estende através de 100 mil anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
, observado de perfil desde a nossa posição na órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. O disco contém a maior parte das estrelas da Galáxia, incluindo o Sol, e as mais densas concentrações de gás e poeira.

A olho nu é muito difícil distinguir individualmente os objectos que existem nesta região tão povoada do céu, mas o espelho de 2,5 metros do INT permitiu aos cientistas resolverem e catalogarem 219 milhões de estrelas. O programa INT catalogou todas as estrelas com brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
superior ao que corresponde à magnitude 20 – estrelas 1 milhão de vezes mais ténues do que as que podem ser vistas a olho nu.

Usando o catálogo, os cientistas montaram um mapa extremamente detalhado do disco da Galáxia, que mostra como varia a densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
de estrelas, oferecendo um novo panorama da estrutura deste vasto sistema de estrelas, gás e poeira.

A imagem que aqui se mostra, o recorte de um mapa de densidade estelar extraído directamente do novo catálogo, ilustra a nova perspectiva obtida. As pinceladas estilo Turner das sombras de poeira ficariam bem na parede de qualquer galeria de arte. Mapas como este também são úteis como teste à nova geração de modelos da Via Láctea.

A produção do catálogo IPHAS DR2, o segundo conjunto de dados lançados pelo programa de pesquisa IPHAS (Photometric H-alpha
risca H-alfa do hidrogénio
A risca H-alfa (Hα) é uma risca espectral centrada no comprimento de onda de 6562,8 Å originada pelo hidrogénio atómico e corresponde à transição do electrão entre os níveis energéticos n=2 e n=3. É a primeira transição da série de Balmer - conjunto de transições do nível n=2 para níveis mais energéticos.
Survey of the Northern Galactic Plane
), é um exemplo da exploração de grande volume de dados da astronomia moderna. Contém informação sobre os 219 milhões de objectos detectados, cada um deles sintetizado em 99 atributos diferentes.

Com o lançamento deste catálogo, a equipa está a oferecer à comunidade o acesso gratuito às medições feitas através de dois filtros de banda larga que capturam a luz no limite vermelho do espectro visível, e numa banda estreita que captura a linha mais brilhante de emissão de hidrogénio, H-alfa. A inclusão de H-alfa dá também acesso a imagens incríveis das nebulosas
nebulosa
Uma nebulosa é uma nuvem de gás e poeira interestelares.
(nuvens de gás incandescente) encontradas em maior número dentro do disco da Via Láctea. O mapa de densidade estelar ilustrado aqui resulta da banda de comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
mais longos (mais vermelhos), nos quais o efeito de escurecimento da poeira é moderado, revelando mais detalhes estruturais em comparação com os mapas traçados em comprimentos de onda mais curtos (mais azuis).

Fonte da notícia: http://www.ras.org.uk/news-and-press/2507-219-million-stars