Um novo objecto descoberto nos limites do Sistema Solar

2014-03-27

Estas imagens mostram a descoberta de 2012 VP113 e foram tiradas com cerca de 2 horas de diferença a 5 de Novembro de 2012. O movimento de 2012 VP113 destaca-se em comparação com o estado estacionário das estrelas e galáxias de fundo. Crédito: Scott Sheppard/Carnegie Institution for Science.
Com a ajuda de observatórios terrestres os cientistas descobriram um objecto para lá dos limites conhecidos do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. Chama-se 2012 VP113 e é possivelmente um planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
anão, um objecto em órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
em torno do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, suficientemente grande para que a sua própria gravidade o leve a ter forma esférica, ou quase esférica.

As descobertas vêm publicadas na edição de 27 de Março da Nature.

"Esta descoberta traz-nos aquele que é, por enquanto, o nosso mais distante vizinho no mapa da dinâmica do Sistema Solar", disse Kelly Fast, cientista do Planetary Astronomy Program, Science Mission Directorate (SMD), na sede da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, Washington. "Embora a existência da própria Nuvem de Oort
Nuvem de Oort
A Nuvem de Oort é uma nuvem esférica que rodeia o Sistema Solar, constituída por pequenos corpos gelados, resíduos da formação do Sistema Solar. Embora não existam observações directas dos objectos desta nuvem, acredita-se que seja o reservatório da maior parte dos cometas que entram no Sistema Solar interior, os cometas de longo-período. Os astrónomos estimam que a Nuvem de Oort estende-se entre 50 000 e 100 000 UA. A Nuvem de Oort foi proposta pelo astrónomo J. Oort em 1950.
interna seja apenas uma hipótese de trabalho, esta descoberta pode ajudar a perceber como ela se poderá ter formado."

As observações e a análise foram conduzidas e coordenadas por Chadwick Trujillo, do Observatório Gemini
Observatório Gemini
O Observatório Gemini é constituído por dois telescópios idênticos de 8,1 metros, um no Observatório de Mauna Kea, no Havai (Gemini Norte) e outro no Cerro Pachón, no Chile (Gemini Sul). As localizações estratégicas dos telescópios providenciam uma cobertura total do céu do Norte e do Sul. O Gemini é um consórcio internacional entre os Estados Unidos da América, o Reino Unido, o Canadá, o Chile, a Austrália, a Argentina e o Brasil, e é operado pela AURA.
, no Havai, e Scott Sheppard, do Carnegie Institution, em Washington. 2012 VP113 foi descoberto através do telescópio de 4 metros do NOAO
National Optical Astronomy Observatory (NOAO)
O Observatório Nacional de Astronomia no Óptico norte-americano (NOAO) foi formado em 1982 para consolidar os observatórios nacionais de Kitt Peak (Arizona), de Cerro Tololo (Chile) e Solar (Arizona). Mais recentemente, o Observatório Nacional Solar tornou-se independente. O NOAO é também o representante norte-americano no projecto internacional do Observatório Gemini. O NOAO é financiado pela NSF e operado pela AURA.
, no Chile. O telescópio é operado pela Fundação das Universidades para Pesquisa em Astronomia, sob contrato com a National Science Foundation. O telescópio Magellan de 6,5 metros no Observatório Carnegie de Las Campanas, no Chile, foi utilizado para determinar a órbita de 2012 VP113 e obter informações detalhadas sobre as suas propriedades de superfície.

"A descoberta de 2012 VP113 mostra-nos que os confins do Sistema Solar não são um deserto como em tempos se pensava", disse Trujillo, o principal autor do trabalho. "Pelo contrário, esta é apenas a ponta do iceberg que nos diz que há muitos corpos na Nuvem de Oort interna aguardando descoberta. Também nos dá uma ideia do pouco que sabemos sobre as partes mais distantes do Sistema Solar e de quanto nos resta explorar."

O Sistema Solar conhecido pode ser dividido em três partes: planetas rochosos, como a Terra, que estão mais perto do Sol, planetas gigantes gasosos
planeta joviano
Designam-se por planetas jovianos aqueles que se assemelham a Júpiter, ou seja, planetas gigantes com superfícies gasosas. No Sistema Solar, são planetas jovianos Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno.
, mais afastados, e objectos gelados da Cintura de Kuiper
Cintura de Kuiper
A Cintura de Kuiper é uma região em forma de disco, localizada depois de Neptuno, entre 30 e 50 UA do Sol. É constituída por muitos pequenos corpos gelados, restos da formação do Sistema Solar, e é a fonte dos cometas de curto-período. O primeiro objecto da Cintura de Kuiper, 1992QB1, com 240 km de diâmetro, só foi descoberto em 1992, mas desde então já se conhecem centenas de objectos da Cintura de Kuiper (KBO, do inglês Kuiper Belt Object). Há astrónomos que consideram Plutão, e a sua lua Caronte, objectos da Cintura de Kuiper.
que se encontra para além da órbita de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
. Depois disto, parece haver uma fronteira para lá da qual até aqui apenas se conhecia a órbita de um objecto, Sedna, um pouco menor que Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
. Mas o recém-descoberto 2012 VP113 tem uma órbita mais distante que a de Sedna, tornando-se assim o mais longínquo conhecido no Sistema Solar.

Sedna foi descoberto para lá dos limites da Cintura de Kuiper, em 2003, e não se sabia se era único (tal como durante muito tempo se julgou ser Plutão, antes da descoberta da Cintura de Kuiper em 1992). Sedna não é único, como mostra a descoberta de 2012 VP113. E 2012 VP113 é provavelmente o segundo membro conhecido da Nuvem de Oort interna. A Nuvem de Oort externa é a origem provável de alguns cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
.

"A procura de objectos distantes da Nuvem de Oort interna, para lá de Sedna e 2012 VP113, deve continuar, pois muito nos pode revelar sobre como se formou e evoluiu o Sistema Solar", diz Sheppard.

Sheppard e Trujillo determinam que podem existir cerca de 900 objectos com órbitas como as de Sedna e 2012 VP113, com diâmetros superiores a 1000 km. 2012 VP113 é provavelmente uma das centenas de milhares de objectos distantes que habitam a Nuvem de Oort interna. A população total da Nuvem de Oort interna é provavelmente maior que a da Cintura de Kuiper e a da cintura principal de asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
.

"Alguns dos objectos da Nuvem de Oort interna podem rivalizar em tamanho com Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
ou mesmo com a Terra", disse Sheppard. “Mas estão tão distantes que mesmo os muito grandes seriam difíceis de detectar com a tecnologia actual."

O ponto da órbita de 2012 VP113 mais próximo do Sol fica a cerca de 80 vezes a distância da Terra ao Sol, ou seja, a 80 UA
unidade astronómica (UA)
Unidade de distância, definida como a distância média entre a Terra e o Sol, que corresponde a 149 597 870 km, ou 8,3 minutos-luz.
. Os planetas rochosos e os asteróides da cintura principal estão a distâncias que variam entre as 0,39 UA e as 4,2 UA. Os gigantes gasosos estão entre as 5 e as 30 UA, e a Cintura de Kuiper (composta por centenas de milhares de objectos gelados, incluindo Plutão) está entre as 30 a as 50 UA. No Sistema Solar, há uma fronteira distinta à distância de 50 UA. Até 2012 VP113 ser descoberto, apenas Sedna, com o ponto da órbita mais próximo do Sol a 76 UA, se sabia estar significativamente para lá deste limite em toda a sua órbita.

Tanto Sedna como 2012 VP113 foram encontrados perto da sua maior aproximação ao Sol, mas ambos têm órbitas que os afastam para centenas de UA, onde seria muito difícil descobri-los. As semelhanças encontradas nas órbitas de Sedna, 2012 VP113 e alguns outros objectos perto do limite da Cintura de Kuiper sugerem que a órbita do novo objecto pode ser influenciada pela presença de um outro planeta ainda não descoberto, com talvez até 10 vezes o tamanho da Terra.
Os estudos nesta região irão continuar.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/content/nasa-supported-research-helps-redefine-solar-systems-edge/index.html