Cada anã vermelha terá pelo menos um planeta em órbita!

2014-03-06

Concepção artística de um dos planetas recém-descobertos, em órbita em torno da estrela anã vermelha que se vê no canto superior esquerdo. Crédito: Neil Cook, Univ. of Hertfordshire.
Um grupo de astrónomos do Reino Unido e do Chile revelou a descoberta de oito novos planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
orbitando estrelas anãs
estrela anã
Uma estrela anã, também dita estrela da sequência principal, é uma estrela não evoluída, que ainda se encontra na fase de fusão do hidrogénio em hélio, no seu núcleo.
vermelhas, três dos quais podem ser habitáveis. A partir deste resultado, os cientistas, liderados por Mikko Tuomi, da Universidade de Hertfordshire, estimam que uma grande fracção de anãs vermelhas, que representam pelo menos três quartos das estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
no Universo, está associada a planetas de pequena massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
. O novo trabalho foi publicado na revista Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Os investigadores descobriram os planetas através da análise de dados de arquivo de duas pesquisas planetárias de alta precisão realizadas com o UVES (Ultraviolet and Visual Echelle Spectrograph) e com o HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher), ambos operados pelo ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
, no Chile. Os dois instrumentos são usados para medir até que ponto uma estrela é afectada pela gravidade de um planeta em órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
em torno dela.

Quando um planeta não observado orbita uma estrela distante, a atracção gravitacional entre os dois faz com que a estrela se mova para frente e para trás no espaço. Esta oscilação periódica é detectada através da luz da estrela. Combinando os dados de UVES e do HARPS, a equipa foi capaz de detectar sinais que não eram suficientemente fortes para serem detectados nos dados individuais de cada um dos instrumentos.

Com esta técnica mais sensível, os astrónomos descobriram oito mundos, três dos quais estão na chamada "zona habitável" das suas estrelas, possuindo apenas alguma massa a mais que a Terra. Os planetas nesta região, onde a temperatura permite a presença de água no estado líquido, têm mais hipóteses de poder albergar vida.

Todos os planetas recém-descobertos orbitam estrelas anãs vermelhas que estão a uma distância entre os 15 e os 80 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, relativamente próximas do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. Os oito planetas levam entre duas semanas e nove anos a completar cada órbita, distando das suas estrelas por valores compreendidos entre os 6 e os 600 milhões de quilómetros (de 0,04 e 4 vezes a distância da Terra ao Sol).

"Olhávamos apenas para os dados do UVES e notámos uma determinada variação que não podia ser explicada por um ruído aleatório. Ao combinarmos estas observações com dados do HARPS, conseguimos detectar este bando espectacular de planetas candidatos", relatou Mikko Tuomi, acrescentando: "Estamos claramente a investigar uma população muito abundante de planetas de pequena massa, e esperamos encontrar muitos mais no futuro próximo - mesmo ao redor das estrelas muito mais próximas do Sol."

A equipa usou novas técnicas de análise para extrair dos dados os sinais planetários. Em particular, aplicou a regra de Bayes das probabilidades condicionais que nos permite responder à pergunta "Qual a probabilidade de uma determinada estrela ter planetas em órbita com base nos dados disponíveis?" Esta abordagem, em conjunto com uma técnica que permite aos investigadores filtrar o excesso de ruído nas medições, tornou as detecções possíveis.

Hugh Jones, também da Universidade de Hertfordshire, disse: "Este resultado é de certa forma esperado, no sentido em que os estudos de anãs vermelhas distantes, realizados com a missão Kepler, indicam uma população significativa de planetas de pequeno raio. Por isso, é agradável sermos capaz de confirmar os estudos com uma amostra de estrelas que estão entre as mais brilhantes da sua classe."

Estas descobertas acrescentam oito novos sinais de exoplanetas
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
ao total anterior de 17 já conhecidos em torno de estrelas de pequena massa. A equipa pretende também acompanhar outros dez sinais mais fracos.

Fonte da Notícia: http://www.ras.org.uk/news-and-press/news-archive/254-news-2014/2414-one-small-star-one-small-planet-at-least