Uma equipa internacional de astrónomos descobriu um planeta com massa semelhante à da Terra a transitar a sua estrela-mãe. KOI-314c é o planeta mais leve a ter tanto a massa como o tamanho medidos, mas embora pese o mesmo que a Terra, apresenta um diâmetro 60% maior, o que significa que deverá possuir uma atmosfera gasosa muito espessa.

"Este planeta pode ter a mesma massa que a Terra, mas certamente não é como a Terra", afirmou David Kipping, do Centro Harvard-Smithsoniano de Astrofísica (CfA), principal autor da descoberta. "Isto prova que não existe uma linha divisória clara a separar os mundos rochosos como a Terra e os mundos gasosos ou de água."

Kipping apresentou esta descoberta a 6 de Janeiro, em conferência de imprensa no 223º Encontro da American Astronomical Society.

A equipa conseguiu determinar as características do planeta usando dados do observatório espacial Kepler. KOI-314c orbita uma estrela anã vermelha, fraca, localizada a aproximadamente 200 anos-luz de distância. O período da órbita é de 23 dias. A equipa estima que a temperatura à superfície do planeta atinja os 104 graus centígrados, demasiado quente para poder abrigar vida tal como a conhecemos.

KOI-314c é apenas 30% mais denso que a água. Isto sugere que o planeta esteja envolto numa atmosfera de hidrogénio e hélio com centenas de quilómetros de espessura. Poderá ter começado a vida como um pequeno Neptuno e ter perdido alguns de seus gases atmosféricos ao longo do tempo por influência da intensa radiação da sua estrela.

Determinar a massa de um planeta tão pequeno foi um desafio. Por norma, os astrónomos determinam a massa de um exoplaneta medindo as pequenas oscilações da estrela-mãe induzidas pela gravidade do planeta. Mas este método de velocidade radial é extremamente difícil de aplicar a um planeta com a massa da Terra. O recorde anterior de medição da massa de um planeta foi para Kepler-78b, com 70% mais massa do que a Terra.

Para pesar KOI-314c, a equipa contou com uma técnica diferente conhecida como Variações do Tempo de Trânsito (Transit Timing Variations ou TTV). Este método apenas pode ser utilizado quando mais de um planeta orbita uma estrela e os dois planetas exercem tracção um sobre o outro, fazendo variar um pouco os períodos dos respectivos trânsitos.

"Em vez de olharmos para a oscilação da estrela, olhámos essencialmente para a oscilação de um planeta", explicou o segundo autor, David Nesvorny, do Southwest Research Institute (SwRI). "O Kepler observou repetidamente os trânsitos de dois planetas em frente à mesma estrela. Medindo com muito cuidado os períodos em que esses trânsitos ocorreram, fomos capazes de descobrir que os dois planetas estão presos numa intrincada dança de pequenas oscilações o que nos permitiu determinar as suas massas."

O segundo planeta do sistema, KOI-314b, é aproximadamente do mesmo tamanho de KOI-314c, mas significativamente mais denso, pesando cerca de quatro vezes mais que a Terra, e a sua órbita é de 13 dias.

O método TTV é um método muito recente para encontrar e estudar planetas extra-solares e foi utilizado pela primeira vez com sucesso em 2010. Esta nova medida mostra o potencial do TTV, particularmente quando se trata de planetas de pequena massa, difíceis de estudar usando as técnicas tradicionais.

A equipa descobriu o planeta por acaso em dados do Kepler não para exoplanetas, mas para luas extra-solares. The Hunt for Exomoons with Kepler - a caça de luas extra-solares com o Kepler - ou simplesmente projecto HEK, liderado por Kipping, explora os dados obtidos pelo Kepler à procura de sinais de TTV, que também podem ser a assinatura de luas extra-solares.

"Quando reparámos neste planeta que apresentava variações do período de trânsito, a assinatura era claramente devida ao outro planeta do sistema e não a uma lua. No início, ficámos desapontados por não se tratar de uma lua, mas logo percebemos que estávamos perante uma informação extraordinária", disse Kipping.

Fonte da notícia: http://www.cfa.harvard.edu/news/2014-01