Astrónomos observam galáxia distante alimentada por gás cósmico primordial
2013-10-03
Imagem de uma galáxia (ao centro) com fluxo de gás frio de entrada produzida por reconstrução, numa simulação em supercomputador, da distribuição de gás de uma galáxia em formação. A corrente de gás primordial que entra é iluminada por trás por um quasar distante, no plano de fundo (canto inferior esquerdo; quasar acrescentado por um artista, juntamente com o fundo estrelado). Usando dados obtidos a partir do WM Keck Observatory, os investigadores conseguiram a primeira detecção inequívoca desta acreção de gás primitivo por uma galáxia em formação, que já tinha sido prevista pela teoria com base em simulações cosmológicas de formação de galáxias. A simulação aqui mostrada foi realizada no projecto MaGICC (Making Galaxies in a Cosmological Context), pelo grupo teórico, no Instituto Max Planck para a Astronomia. Crédito: MPIA (G. Stinson / A.V. Maccio).
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
distante com formação estelar no Universo primitivo. Os fluxos abundantes de gás para as galáxias são considerados cruciais para explicar uma era ocorrida há 10 mil milhões de anos, quando as galáxias formavam estrelasUm vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
abundantemente. Para esta descoberta, os astrónomos - liderados por Neil Crighton, do Instituto Max Planck para a Astronomia e da Universidade de Swinburne – recorreram à ajuda de um acaso cósmico: um quasarUma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
quasar
Os quasares são objectos extragalácticos extremamente brilhantes e compactos. Hoje acredita-se que são o centro de galáxias muito energéticas ainda num estado inicial da sua evolução (são, pois, núcleos galácticos activos - NGAs) e a sua energia provém de um buraco negro de massa muito elevada. Os seus desvios para o vermelho indicam que se encontram a distâncias cosmológicas. O seu nome, quasar, vem do inglês quasi-stellar object, ou seja, objecto quase estelar, devido à semelhança da sua imagem em placas fotográficas com a imagem de uma estrela.
distante e brilhante que age como um "farol cósmico" iluminando o fluxo de gás por trás. Os resultados foram publicados a 2 de Outubro no Astrophysical Journal Letters.
Os quasares são objectos extragalácticos extremamente brilhantes e compactos. Hoje acredita-se que são o centro de galáxias muito energéticas ainda num estado inicial da sua evolução (são, pois, núcleos galácticos activos - NGAs) e a sua energia provém de um buraco negro de massa muito elevada. Os seus desvios para o vermelho indicam que se encontram a distâncias cosmológicas. O seu nome, quasar, vem do inglês quasi-stellar object, ou seja, objecto quase estelar, devido à semelhança da sua imagem em placas fotográficas com a imagem de uma estrela.
O levantamento sistemático de sistemas de absorção
absorção de radiação
A absorção de radiação é um decréscimo da intensidade da radiação devido à energia dispendida na excitação ou ionização de átomos e moléculas do meio que atravessa.
compreende observações realizadas com o Grande Telescópio Binocular e dados obtidos pelo espectrógrafo HIRES, do W.M. Keck ObservatoryA absorção de radiação é um decréscimo da intensidade da radiação devido à energia dispendida na excitação ou ionização de átomos e moléculas do meio que atravessa.
W. M. Keck Observatory
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
, instalado no telescópio de 10 metros Keck I, no cume do Mauna Kea, no Havai. A galáxia em primeiro plano foi descoberta por Charles Steidel, Gwen Rudie (Instituto de Tecnologia da Califórnia) e colaboradores, usando o espectrógrafo LRIS do mesmo telescópio.
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
Na actual teoria de como as galáxias como a nossa Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
se formaram, os cosmólogos postulam que, em tempos, foram alimentadas a partir de um vasto reservatório de hidrogénio original no meio intergaláctico que permeia as vastas extensões entre galáxias.
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
Há cerca de dez mil milhões de anos, quando o Universo tinha um quinto da idade que hoje tem, as primeiras proto-galáxias estavam em estado de extrema actividade, formando novas estrelas a uma taxa quase 100 vezes superior à actual. Como as estrelas se formam a partir de gás, esta fertilidade exigiu uma constante fonte de combustível cósmico. Na década passada, as simulações de formação de galáxias feitas por supercomputadores tornaram-se tão sofisticadas que conseguem realmente prever como elas se formam e são alimentadas: o gás é guiado ao longo de finas "correntes frias" que, tal como correntes de neve que fluem para alimentar um lago de montanha, canalizam gás frio do meio intergaláctico circundante para as galáxias, abastecendo continuamente as fontes de matéria-prima para a formação de estrelas.
No entanto, testar estas previsões tem sido extremamente difícil, porque este gás nos limites das galáxias é tão rarefeito que emite muito pouca luz. Então, a equipa de astrónomos procurou sistematicamente exemplos de um tipo muito específico de acaso cósmico. Os quasares constituem uma breve fase no ciclo de vida das galáxias, durante a qual elas brilham como os objectos mais luminosos do Universo, alimentadas pela queda de matéria num buraco negro
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
de enorme massaUm buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
. De perspectiva da Terra, são raros os casos em que um quasar distante, no plano de fundo, e uma corrente de gás primordial perto de uma galáxia, em primeiro plano, estão exactamente alinhados no céu nocturno. A luz do quasar viaja em direcção à Terra e passa pela galáxia e pelo gás primordial antes de alcançar os nossos telescópios. O gás cósmico absorve selectivamente a luz em frequênciasA massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
frequência
Num fenómeno periódico, a frequência é o número de ciclos por unidade de tempo.
muito específicas a que os astrónomos chamam "linhas de absorção". O padrão e forma destas linhas fornece um código de barras cósmico, que os astrónomos podem descodificar para determinarem a composição química, densidadeNum fenómeno periódico, a frequência é o número de ciclos por unidade de tempo.
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
e temperatura do gás.
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
Usando exactamente esta técnica, a equipa de astrónomos, liderada por Neil Crighton, encontrou a melhor prova até agora conseguida de um fluxo de gás intergaláctico original dirigindo-se para uma galáxia. A galáxia, denominada Q1442-MD50, é tão distante que a sua luz levou 11 mil milhões de anos para chegar até nós. O gás primordial que cai sobre ela acha-se a uns meros 190 mil anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
da galáxia - relativamente próximo, em termos de distâncias galácticas - e revela-se em silhueta no espectro de absorção do quasar de fundo, mais distante, QSO J1444535 291905.
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
Um elemento essencial nesta descoberta foi a detecção da assinatura espectral de deutério
deutério (D)
O deutério, também chamado de hidrogénio pesado, é o isótopo do hidrogénio com número de massa igual a dois (2H), cujo núcleo é constituído por um protão e um neutrão.
cósmico, um isótopoO deutério, também chamado de hidrogénio pesado, é o isótopo do hidrogénio com número de massa igual a dois (2H), cujo núcleo é constituído por um protão e um neutrão.
isótopo
Chamam-se isótopos aos átomos cujos núcleos têm o mesmo número de protões (por isso, são o mesmo elemento químico), mas têm um número diferente de neutrões. O número atómico dos isótopos é igual, mas o número de massa é diferente.
estável de hidrogénio. Os cosmólogos têm demonstrado que o hidrogénio, o hélio e os seus isótopos estáveis, como o deutério, foram todos sintetizados poucos minutos após o Big Bang, quando o Universo era suficientemente quente o para produzir reacções nucleares. Todos os elementos mais pesados, como o carbono, o nitrogénio e o oxigénio, foram criados mais tarde, nos fornos nucleares das estrelas quentes. Tendo em conta que as condições físicas hostis nos centros das estrelas iriam destruir o frágil isótopo, a descoberta do deutério no gás confirma que o gás que cai na galáxia é na verdade a matéria primitiva deixada pelo Big Bang.
Chamam-se isótopos aos átomos cujos núcleos têm o mesmo número de protões (por isso, são o mesmo elemento químico), mas têm um número diferente de neutrões. O número atómico dos isótopos é igual, mas o número de massa é diferente.
"Esta não é a primeira vez que os astrónomos descobrem uma galáxia com gás nas proximidades revelado por um quasar. Mas é a primeira vez que tudo se encaixa", afirmou Crighton. "A galáxia está vigorosamente a formar estrelas e as propriedades do gás mostram claramente que se trata de matéria original, remanescente do início do Universo, logo após o Big Bang."
A descoberta deste sistema faz parte de uma grande pesquisa de linhas de visão de quasares que passam perto de galáxias, e que é coordenada por Joseph Hennawi, o líder do grupo de pesquisa theENIGMA no Instituto Max Planck para a Astronomia.
"Uma vez que esta descoberta é o resultado de uma pesquisa sistemática, podemos agora deduzir que estas correntes frias são bastante comuns", disse Hennawi. "Só tivemos que procurar 12 pares quasar-galáxia para descobrir este exemplo, uma taxa que está aproximadamente de acordo com as previsões das simulações em supercomputadores e isto é um voto de confiança para as actuais teorias de como as galáxias se formaram."
O objectivo a longo prazo dos astrónomos é encontrar cerca de dez exemplos semelhantes destas correntes frias, o que permitiria uma comparação mais detalhada das observações com as previsões dos modelos numéricos.
"Estudos anteriores destas galáxias mostraram sinais de gás a fluir para fora delas, sinais esses que também vemos ", disse J. Xavier Prochaska (Universidade da Califórnia em Santa Cruz), um colaborador da pesquisa. "No entanto, com a análise do Neil, muito mais precisa, podemos também detectar a matéria-prima que alimenta as galáxias, e, assim, determinar a quantidade de gás que elas consomem, e quando. Esta é uma peça chave no quebra-cabeças da formação de galáxias."
Avishai Dekel, da Universidade Hebraica, em Jerusalém, foi fundamental ao estabelecer teórica e numericamente o modelo actual das correntes frias de acreção
acreção
Designa-se por acreção a acumulação de matéria (gás e poeira) para um astro central, como por exemplo um buraco negro, uma estrela, uma galáxia, ou um planeta.
em galáxias. Apesar de não estar envolvido nesta pesquisa, comentou os resultados: "Esta é uma descoberta muito interessante. Vai de acordo com a previsão teórica, com base tanto na análise física como em simulações cosmológicas, para a alimentação de galáxias de alto desvio para o vermelhoDesigna-se por acreção a acumulação de matéria (gás e poeira) para um astro central, como por exemplo um buraco negro, uma estrela, uma galáxia, ou um planeta.
desvio para o vermelho (z)
Designa-se por desvio para o vermelho (em inglês, redshift) o desvio do espectro de um objecto para comprimentos de onda mais longos. O desvio para o vermelho pode dever-se ao movimento do objecto a afastar-se do observador (desvio de Doppler), ou à expansão do Universo (desvio para o vermelho cósmico, ou gravitacional). O desvio para o vermelho cósmico permite estimar a distância a que o objecto se encontra: quanto maior o desvio, mais distante o objecto. O desvio de Doppler permite calcular a velocidade a que o objecto se desloca.
por correntes frias da rede cósmica. O baixo teor de metaisDesigna-se por desvio para o vermelho (em inglês, redshift) o desvio do espectro de um objecto para comprimentos de onda mais longos. O desvio para o vermelho pode dever-se ao movimento do objecto a afastar-se do observador (desvio de Doppler), ou à expansão do Universo (desvio para o vermelho cósmico, ou gravitacional). O desvio para o vermelho cósmico permite estimar a distância a que o objecto se encontra: quanto maior o desvio, mais distante o objecto. O desvio de Doppler permite calcular a velocidade a que o objecto se desloca.
metal
Em Astronomia, todos os elementos químicos de número atómico superior ao do hélio são designados por metais, ou por elementos pesados.
torna este caso mais convincente que detecções anteriores."
Em Astronomia, todos os elementos químicos de número atómico superior ao do hélio são designados por metais, ou por elementos pesados.
Fonte da notícia: http://www.keckobservatory.org/recent/entry/astronomers_observe_distant_galaxy_powered_by_primordial_cosmic_fuel