Novos resultados do Curiosity

2013-09-27

Em cima: A 31 de Outubro de 2012, o rover Curiosity usou o instrumento MAHLI (Mars Hand Lens Imager) para capturar um conjunto de 55 imagens, em alta-resolução, que deram origem a este auto-retrato. Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS. Em baixo: Esta imagem mostra onde o rover Curiosity apontou dois instrumentos diferentes para estudar a rocha Jake M.. Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.
O rover Curiosity da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
está a revelar muito sobre Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
, desde processos de longa data no seu interior até à presente interacção entre a superfície e a atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
marcianas.

O exame de rochas soltas, areia e poeiras tem proporcionado uma nova compreensão dos processos locais e globais em Marte. A análise de observações e medições realizadas pelos instrumentos científicos do rover, durante os primeiros quatro meses após aterragem em Agosto de 2012, surge detalhada em cinco relatórios publicados na edição de 27 de Setembro da revista Science.

Uma das principais conclusões é a de que as moléculas
molécula
Uma molécula é a unidade mais pequena de um composto químico, sendo constituída por um ou mais átomos, ligados entre si pelas interacções dos seus electrões.
de água estão ligadas a partículas de granulação fina do solo, sendo responsáveis por cerca de 2% do peso das partículas na cratera Gale, onde o Curiosity aterrou. Este resultado tem implicações globais, pois estes materiais estão provavelmente distribuídos pelo Planeta Vermelho.

O Curiosity também concluiu a primeira análise mineralógica detalhada de planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
usando um método padrão de laboratório para a identificação de minerais na Terra. As conclusões sobre os componentes, tanto cristalinos como não-cristalinos, do solo fornecem dados importantes sobre a história vulcânica do planeta.

Da análise mineralógica feita pelo Curiosity a uma rocha ígnea
rocha ígnea
A rocha ígnea, ou rocha magmática, pode formar-se à superfície, a partir do arrefecimento da lava vulcânica, ou abaixo desta quando o magma, retido em bolsas no interior do planeta, arrefece lentamente.
do tamanho de uma bola de futebol, à qual foi dado o nome de Jake Matijevic, ou Jake M., chegam informações sobre a evolução da crosta marciana e sobre as regiões mais profundas do planeta. As rochas ígneas formam-se pelo arrefecimento de material fundido
fusão
1- passagem do estado sólido ao líquido, por efeito do calor; 2- junção, união.
que se originou bem abaixo da crosta. As composições químicas das rochas podem ser usada para inferir as condições térmicas, de pressão e químicas sob as quais cristalizaram.

"Nenhuma outra rocha marciana é tão semelhante às rochas ígneas terrestres", afirma Edward Stolper, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, autor de um relatório sobre esta análise. "Isto é surpreendente, porque as rochas ígneas de Marte previamente estudadas diferem substancialmente das rochas terrestres e da Jake M.."

Os restantes quatro relatórios incluem a análise da composição e processo de formação de uma deriva pelo vento de areia e poeira, por David Blake do Ames Research Center da NASA, em Moffett Field, Califórnia, e co-autores.

O Curiosity examinou esta deriva, que tem o nome de Rocknest, com cinco instrumentos, efectuando a bordo uma análise laboratorial de amostras recolhidas da superfície marciana. A deriva tem uma história complexa e inclui partículas de areia de origem local, bem como partículas de poeira mais finas, de distribuição regional ou mesmo global, trazidas pelo vento.

O rover está equipado com um instrumento laser
Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation (LASER)
A palavra LASER designa uma amplificação de luz por emissão estimulada de radiação. O princípio físico por trás deste fenómeno é a emissão estimulada: sob certas condições, um fotão atinge um átomo excitado e provoca a emissão de um fotão. O átomo emite dois fotões: o fotão estimulador, que passa incólume, e o fotão estimulado, que tem o mesmo comprimento de onda, a mesma fase, a mesma polarização e a mesma direcção de propagação que o fotão estimulador. Se cada um destes fotões estimular mais átomos, o feixe inicial de fotões é assim amplificado.
para determinar a composição de materiais a uma certa distância. Este instrumento descobriu que a composição das partículas finas da deriva Rocknest é idêntica à composição da poeira transportada pelo vento e que contém moléculas de água. O rover testou 139 alvos no solo, em Rocknest e noutros locais, durante os três primeiros meses da missão, e detectou hidrogénio - que os cientistas interpretam como a água – cada vez que o laser atingia partículas de material fino.

"O grão fino do solo tem uma composição semelhante à da poeira distribuída por todo o planeta Marte e agora sabemos mais do que nunca sobre a sua hidratação e composição", disse Pierre-Yves Meslin do Institut de Recherche en Astrophysique et Planétologie, em Toulouse, França, autor de um relatório sobre os resultados do instrumento laser.

Um laboratório no interior do Curiosity usou raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
para determinar a composição das amostras de Rocknest. Esta é a técnica laboratorial standard, descoberta em 1912, para a identificação de minerais na Terra. O equipamento foi miniaturizado para caber na nave que levou o Curiosity até Marte, o que tem trazido benefícios para dispositivos portáteis análogos utilizados na Terra. David Bish, da Universidade de Indiana em Bloomington, é co-autor de um relatório sobre como esta técnica foi utilizada e sobre os seus resultados em Rocknest.

A análise de raios-X identificou não apenas 10 minerais distintos, mas descobriu também que uma porção inesperadamente grande dos componentes de Rocknest são materiais amorfos, em vez de minerais cristalinos. Os materiais amorfos, semelhantes a substâncias vítreas, são um dos componente de alguns depósitos vulcânicos na Terra.

Outro instrumento de laboratório identificou produtos químicos e isótopos
isótopo
Chamam-se isótopos aos átomos cujos núcleos têm o mesmo número de protões (por isso, são o mesmo elemento químico), mas têm um número diferente de neutrões. O número atómico dos isótopos é igual, mas o número de massa é diferente.
em gases libertados pelo aquecimento do solo de Rocknest num pequeno forno. Os isótopos são variantes do mesmo elemento com diferentes pesos atómicos. Estes testes permitiram concluir que a água representa cerca de 2 % do solo e as moléculas de água estão ligados aos materiais amorfos do solo.

"A proporção de isótopos de hidrogénio na água libertada a partir de amostras aquecidas de solo Rocknest indica que as moléculas de água ligadas às partículas de solo resultam da interacção com a atmosfera recente", disse Laurie Leshin, do Rensselaer Polytechnic Institute, em Troy, Nova Iorque, principal autora de um relatório sobre a análise com o instrumento de aquecimento.

O aquecimento e a análise da amostra Rocknest também revelou um composto com cloro e oxigénio, provavelmente clorato ou perclorato, que já se sabia existir em Marte apenas numa zona de alta latitude. Este achado na zona equatorial, onde se encontra o Curiosity, sugere uma distribuição mais global.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/mission_pages/msl/news/msl20130926.html#.UkW2cyR57fa