Astrónomos captam imagem do exoplaneta de menor massa em torno de estrela semelhante ao Sol

2013-08-06

Em cima: brilhando em magenta escuro, o recém-descoberto exoplaneta GJ 504b tem cerca de 4 vezes a massa de Júpiter, o que o torna o planeta de menor massa observado em imagem directa em torno de uma estrela semelhante ao Sol. Crédito: NASA\'s Goddard Space Flight Center/S. Wiessinger. Ao centro: esta composição combina imagens do Subaru de GJ 504 usando dois comprimentos de onda do infravermelho próximo (laranja, 1,6 micrómetros, Maio de 2011; azul, 1,2 micrómetros, Abril de 2012). Uma vez processadas para remover a dispersão de luz das estrelas, as imagens revelam o planeta em órbita, GJ 504b. Crédito: NASA’s Goddard Space Flight Center/NOAJ. Em baixo: este gráfico localiza a estrela de quinta magnitude GJ 504, também conhecida como 59 Virginis, que é visível a olho nu a partir dos céus suburbanos. Crédito: NASA’s Goddard Space Flight Center.
Usando dados no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
provenientes do Telescópio Subaru
Subaru Telescope
O Telescópio Subaru é um telescópio óptico e de infravermelhos, com um espelho de 8,2 m de diâmetro. O Subaru encontra-se no Observatório de Mauna Kea, no Havai, e é operado pelo Observatório Astronómico Nacional do Japão – NAOJ e pelo Instituto Nacional de Ciências Naturais.
, no Havai, uma equipa internacional de astrónomos conseguiu a imagem de um planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
gigante ao redor da estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
brilhante GJ 504. Com várias vezes a massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
de Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
e semelhante a este em tamanho, o novo mundo, denominado GJ 504b, é o planeta de menor massa já detectado, usando técnicas de imagem directa, em torno de uma estrela semelhante ao Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
.

"Se pudéssemos viajar até este planeta gigante, veríamos um mundo ainda brilhando ao calor
calor
O calor é energia em trânsito entre dois corpos ou sistemas.
da sua formação, de um tom de magenta que lembra o de uma cereja escura", disse Michael McElwain, um membro da equipa, no Goddard Space Flight Center da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, em Greenbelt, Maryland. "A nossa câmara de infravermelhos revela que a sua cor é muito mais azulada do que a de outros planetas observados, o que pode indicar que a sua atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
tem menos nuvens."

GJ 504b orbita a sua estrela a uma distância cerca de nove vezes a de Júpiter ao Sol, o que representa um desafio às teorias sobre como os planetas gigante se formam.

De acordo com a teoria mais amplamente aceite, o chamado modelo de acreção
acreção
Designa-se por acreção a acumulação de matéria (gás e poeira) para um astro central, como por exemplo um buraco negro, uma estrela, uma galáxia, ou um planeta.
de núcleo, planetas semelhantes a Júpiter têm a sua origem no disco de poeiras rico em gás que rodeia uma estrela jovem. Um núcleo primordial é produzido por colisões entre asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
e cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
e quando atinge massa suficiente a sua força gravitacional atrai rapidamente o gás do disco para formar o planeta.

Embora este modelo funcione bem para planetas à distância da órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
, cerca de 30 vezes a distância média da Terra ao Sol (30 UA
unidade astronómica (UA)
Unidade de distância, definida como a distância média entre a Terra e o Sol, que corresponde a 149 597 870 km, ou 8,3 minutos-luz.
), é mais problemático para mundos situados a uma maior distância das suas estrelas. GJ 504b fica à distância projectada de 43,5 UA da sua estrela, a distância real depende de como o sistema estiver orientado em relação à nossa linha de visão, o que não se sabe com precisão.

"Este é um dos planetas mais difíceis de explicar no quadro da formação planetária tradicional", explicou Markus Janson, membro da equipa, da Universidade de Princeton, em Nova Jersey. "A sua descoberta implica que devemos considerar seriamente as teorias de formação alternativas, ou talvez reavaliar alguns dos pressupostos básicos da teoria de acreção de núcleo."

A pesquisa faz parte do projecto SEEDS (Strategic Explorations of Exoplanets and Disks with Subaru) para a visualização directa de planetas extra-solares
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
e discos protoplanetários em torno de várias centenas de estrelas próximas, usando o Telescópio Subaru, em Mauna Kea, no Havai. O projecto de cinco anos começou em 2009 e é liderado por Motohide Tamura, no Observatório Astronómico Nacional do Japão (NAOJ).

Se a imagem directa é sem dúvida a técnica mais importante para a observação de planetas em torno de outras estrelas, é também a que constitui um maior desafio.

"As imagens fornecem informações sobre a luminosidade
luminosidade
A luminosidade (L) é a quantidade de energia que um objecto celeste emite por unidade de tempo e em determinado comprimento de onda, ou em determinada banda de comprimentos de onda.
do planeta, a sua temperatura, atmosfera e órbita, mas os planetas surgem tão ténues e estão tão próximos das suas estrelas hospedeiras que é quase como tentar fotografar um pirilampo perto de um holofote", explicou Masayuki Kuzuhara, no Tokyo Institute of Technology, que liderou a equipa da descoberta.

O SEEDS projecta imagens em comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
do infravermelho próximo
infravermelho próximo
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 5 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 740 e 5200 graus Kelvin.
, com a ajuda do novo sistema de óptica adaptativa
óptica adaptativa
A técnica de óptica adaptativa é um sistema óptico que se instala nos telescópios terrestres por forma a corrigir, em tempo real, os efeitos da turbulência atmosférica.
do telescópio, que compensa os efeitos de turbulência da atmosfera da Terra
atmosfera terrestre
A atmosfera terrestre é composta por um conjunto de camadas gasosas que envolvem a Terra. Estas camadas são designadas por Troposfera (da superfície da Terra até cerca de 10 km de altitude), Estratosfera (10 - 50 km), Mesosfera (50 - 100 km), Termosfera (100 - 400 km) e Exosfera (acima dos 400 km).
, e de dois instrumentos: o High Contrast Instrument for the Subaru Next Generation Adaptive Optics e o InfraRed Camera and Spectrograph. A combinação permite à equipa empurrar a fronteira da imagem directa em direcção a planetas mais ténues.

Um artigo descrevendo os resultados foi aceite para publicação no The Astrophysical Journal e surgirá numa edição futura.

Os investigadores estimam que GJ 504b tenha cerca de 4 vezes mais massa do que Júpiter e uma temperatura efectiva de cerca de 237 graus Celsius.

O planeta orbita a estrela GJ 504, de tipo G0, que é um pouco mais quente do que o Sol e que é pouco visível a olho nu na constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
de Virgem. A estrela está a 57 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
de distância e a equipa estima que o sistema tenha cerca de 160 milhões de anos, com base em métodos que ligam a cor e o período de rotação da estrela à sua idade.

Os sistemas estelares jovens são os alvos mais interessantes para a imagem directa de exoplanetas porque os seus planetas não existem há tempo suficiente para terem perdido a maior parte do calor da sua formação, o que aumenta o seu brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
infravermelho.

"O nosso Sol já vai a cerca de metade da sua vida a produzir energia, mas GJ504 tem apenas 1/30 da sua idade", acrescentou McElwain. "Estudar estes sistemas é um pouco como observar o nosso próprio sistema planetário na sua juventude."

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/content/goddard/astronomers-image-lowest-mass-exoplanet-around-a-sun-like-star/#.UgEh7FMd7fb