Spitzer da NASA observa emissões de gás do Cometa ISON

2013-07-24

Estas imagens do cometa C/2012 S1 (ISON) foram obtidas no infravermelho pelo Telescópio Espacial Spitzer, da NASA, no dia 13 de Junho, quando o ISON se encontrava a aproximadamente 500 milhões de quilómetros do Sol. À esquerda: imagem obtida a 3,6 mícron, que mostra uma cauda de poeira rochosa fina emitida pelo cometa e lançada para trás pela pressão da luz solar, à medida que o cometa acelera em direcção ao Sol (a cauda aponta para longe do Sol). À direita: imagem obtida a 4,5 mícron, que tem removida a informação da imagem de 3,6 mícron relativa à poeira, e que revela uma estrutura redonda muito diferente - a primeira detecção de uma atmosfera de gás neutro circundando ISON. O mais provável é tratar-se de dióxido de carbono, que efervesce a partir da superfície do cometa a uma taxa de cerca de 1 milhão de quilogramas por dia. Crédito de imagem: NASA/JPL-Caltech/JHUAPL/UCF.
Usando o Telescópio Espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
, da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, os astrónomos observaram o que consideram ser fortes emissões de dióxido de carbono a partir do cometa
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
ISON antes da sua passagem através do interior do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, ainda este ano.

As imagens capturadas a 13 de Junho, com a câmara de infravermelhos
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
do Spitzer (Infrared Array Camera), indicam que o dióxido de carbono está a ser emitido pelo cometa, numa espécie de efervescência lenta e progressiva, juntamente com a poeira, formando uma cauda com cerca de 300 mil quilómetros de comprimento.

"Estimamos que o ISON esteja a emitir todos os dias cerca de 1 milhão de quilogramas de gás, muito provavelmente dióxido de carbono, e cerca de 54,4 milhões de quilogramas de poeira", disse Carey Lisse, líder da campanha da NASA para a observação do cometa ISON e investigador sénior do Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory, em Laurel, Maryland. "Observações anteriores realizadas pelo Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
, pela Missão Swift
Swift Gamma-ray Burst Explorer
O observatório espacial Swift é uma missão da NASA em colaboração com outros países, lançada em Novembro de 2004 e com uma duração prevista de 2 anos. O objectivo é estudar as fulgurações de raios gama em vários comprimentos de onda. Para tal, conta com três instrumentos: o Burst Alert Telescope (BAT), que monitoriza o céu em raios gama à procura das fulgurações, o telescópio de raios-X XRT e o telescópio óptico e ultravioleta UVOT.
de raios gama
raios gama
Os raios gama são a componente mais energética e mais penetrante de toda a radiação electromagnética. Os fotões gama possuem energias elevadíssimas, tipicamente superiores a 10 keV, às quais correspondem comprimentos de onda inferiores a umas décimas do Ångstrom. Este tipo de radiação é, por exemplo, emitido espontaneamente por núcleos atómicos de algumas substâncias radioactivas.
e pela sonda Deep Impact deram-nos apenas os limites superiores para qualquer emissão de gases a partir do ISON. Graças ao Spitzer, sabemos, agora, com certeza, que a actividade distante do cometa tem sido alimentada por gás."

Quando as observações foram feitas, o cometa ISON estava a cerca de 502 milhões de quilómetros do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, 3,35 vezes mais longe que a Terra.

"Estas observações fabulosas do ISON são únicas e preparam o terreno para mais observações e descobertas, todas elas fazendo parte de uma campanha abrangente da NASA para observar o cometa", disse James L. Green, director de ciência planetária da NASA, em Washington. "O ISON é muito emocionante. Acreditamos que os dados recolhidos para este cometa podem ajudar a explicar como e quando o Sistema Solar se formou."

O cometa ISON (oficialmente conhecido como C/2012 S1) tem menos de 4,8 quilómetros de diâmetro, aproximadamente o tamanho de uma pequena montanha, e pesa entre 3,2 mil milhões e 3,2 biliões de quilogramas. O seu verdadeiro tamanho e densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
não foram determinados com precisão porque o cometa ainda está muito longe. Como todos os cometas, o ISON é uma bola de gelo suja composta por poeira e gases congelados, tais como água, amónia, metano e dióxido de carbono. Estes são alguns dos blocos fundamentais de construção que os cientistas acreditam terem levado à formação dos planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
há 4,5 mil milhões de anos.

Acredita-se que o cometa ISON efectua a sua primeira passagem vindo da distante Nuvem de Oort
Nuvem de Oort
A Nuvem de Oort é uma nuvem esférica que rodeia o Sistema Solar, constituída por pequenos corpos gelados, resíduos da formação do Sistema Solar. Embora não existam observações directas dos objectos desta nuvem, acredita-se que seja o reservatório da maior parte dos cometas que entram no Sistema Solar interior, os cometas de longo-período. Os astrónomos estimam que a Nuvem de Oort estende-se entre 50 000 e 100 000 UA. A Nuvem de Oort foi proposta pelo astrónomo J. Oort em 1950.
, uma nuvem aproximadamente esférica de cometas e estruturas em forma de cometa que existe a cerca de um ano-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
do Sol. O cometa irá passar a 1,16 milhões de quilómetros do Sol a 28 de Novembro de 2013.

Está a aquecer gradualmente à medida que se aproxima do Sol. No processo, os diferentes gases aquecem até ao ponto de evaporação, revelando-se aos instrumentos no espaço e em terra. Pensa-se que o dióxido de carbono é o gás que alimenta a emissão da maioria dos cometas entre as órbitas
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de Saturno
Saturno
Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 10 vezes o da Terra, é o segundo maior planeta do Sistema Solar. A sua característica mais marcante são os belos anéis que o rodeiam.
e dos asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
.

O cometa foi descoberto a 21 de Setembro de 2012, aproximadamente entre Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
e Saturno, por Vitali Nevski e Artyom Novichonok no ISON (International Scientific Optical Network), perto de Kislovodsk, na Rússia. A detecção do cometa foi precoce e pode ter sido possível devido às fortes emissões de dióxido de carbono.

"Esta observação dá-nos uma boa ideia de parte da composição do ISON e, por acréscimo, do disco proto-planetário a partir do qual se formaram os planetas", afirmou Lisse. "Grande parte do carbono no cometa parece estar preso em dióxido de carbono gelado. Saberemos ainda mais no final de Julho e Agosto, quando o cometa começar a aquecer perto da linha água-gelo fora da órbita de Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
e pudermos detectar o gás congelado mais abundante, que é a água, à medida que for emitido pelo cometa."

Os astrónomos questionam-se se este cometa irá sobreviver à sua passagem perto do Sol, e também se irá corresponder às expectativas de se tornar suficientemente brilhante para ser visto durante o dia, como alguns previram.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/mission_pages/spitzer/news/spitzer20130723.html#.Ue-sL1Md7fY