Astrónomos prevêem 100 mil milhões de planetas semelhantes à Terra

2013-04-03

Concepção artística da Via Láctea. Credito: NASA JPL.
Investigadores da Universidade de Auckland propõem um novo método para encontrar planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
do tamanho da Terra e prevêem um número da ordem dos 100 mil milhões.

A estratégia utiliza a técnica de microlente gravitacional
efeito de microlente gravitacional
O efeito de microlente gravitacional é um caso particular do efeito de lente gravitacional - a deflexão da luz provocada pelo campo gravitacional de um objecto com massa que se encontra entre o observador e a fonte de luz. Chama-se microlente gravitacional quando não há distorção na imagem da fonte de luz, mas esta aumenta o seu brilho. Por exemplo, se uma pequena estrela próxima de nós passar exactamente entre nós e uma outra estrela mais distante, o campo gravitacional da estrela mais próxima actua como uma microlente e foca a luz da estrela mais distante, aumentando o seu brilho.
, usada actualmente pelo MOA (Microlensing Observations in Astrophysics), uma colaboração entre a Nova Zelândia e o Japão, no Observatório de Monte John, na Nova Zelândia.

O Dr. Phil Yock, do Departamento de Física da Universidade de Auckland, autor principal do artigo, explica que o trabalho irá exigir uma combinação de dados de microlente e do telescópio espacial Kepler.

"O Kepler descobre planetas do tamanho da Terra que estão bem perto das estrelas-mãe e estima que há 17 mil milhões de planetas deste tipo na Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
. Estes planetas são geralmente mais quentes do que a Terra, apesar de alguns poderem ter uma temperatura semelhante (e, em consequência, poderem ser habitáveis) caso se encontrem na órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
fria, anã vermelha."

"O nosso propósito é avaliar o número de planetas de massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
semelhante à da Terra orbitando estrelas a distâncias que sejam tipicamente o dobro da distância Sol-Terra. Tais planetas serão, em consequência, mais frios que a Terra. Interpolando os resultados do Kepler e do MOA, deveremos obter uma boa estimativa do número de planetas como a Terra, planetas habitáveis na Galáxia. Prevemos que esse número seja da ordem dos 100 mil milhões."

"Claro que haverá um longo caminho desde a determinação deste número até encontrarmos realmente planetas habitados, mas o primeiro passo estará dado."

O primeiro planeta a orbitar uma estrela semelhante ao Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
só foi encontrado em 1995, apesar dos esforços dos astrónomos. O Dr. Yock explica que isto reflecte a dificuldade em detectar à distância um objecto não luminoso e pequeno como a Terra na órbita de um objecto brilhante como o Sol. O planeta fica perdido no brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
da estrela, pelo que devem ser usados métodos indirectos de detecção.

Enquanto o Kepler mede a diminuição na luz de uma estrela quando um planeta orbita entre o nosso ângulo de visão e a estrela, o método de microlente mede a deflexão na luz de uma estrela distante ao passar por um sistema planetário na rota da Terra - um efeito previsto por Einstein em 1936.

Nos últimos anos, têm sido utilizadas microlentes para detectar vários planetas com tamanhos próximos dos de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
e Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
. O Dr. Yock e a sua equipa propõem uma nova estratégia de microlente para detectar a deflexão minúscula causada por um planeta do tamanho da Terra. Simulações realizadas por ele e pelos seus colegas - alunos e ex-alunos da Universidade de Auckland e França - mostraram que planetas do tamanho da Terra podem ser detectados mais facilmente se uma rede mundial de telescópios robóticos de dimensões intermédias estiver disponível para os monitorar.

Por coincidência, uma tal rede de telescópios com 1m e 2m está agora a ser instalada pelo LCOGT (Las Cumbres Observatory Global Telescope Network) em colaboração com a SUPA / St Andrews (Scottish Universities Physics Alliance), com três telescópios no Chile, três na África do Sul, três na Austrália, um no Havai e outro no Texas. Esta rede é usada para estudar eventos de microlente em conjunto com o telescópio Liverpool, nas Ilhas Canárias, que pertence e é operado pela Liverpool John Moores University.

Espera-se que os dados deste conjunto de telescópios sejam complementados por medições usando o telescópio de 1,8m do MOA, no Monte John, bem como o telescópio polaco de 1,3m, no Chile, conhecido como OGLE, e o recém-inaugurado telescópio Harlingten de 1,3m, na Tasmânia.

O trabalho é publicado nos Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Fonte da notícia: http://www.ras.org.uk/news-and-press/224-news-2013/2239-astronomers-anticipate-100-billion-earth-like-planets