Missão Kepler descobre o mais pequeno planeta a orbitar uma estrela semelhante ao Sol

2013-02-21

Cientistas da missão Kepler da NASA descobriram um novo sistema planetário onde vive o mais pequeno planeta já encontrado em torno de uma estrela semelhante ao Sol, situado a cerca de 210 anos-luz de distância, na constelação de Lira. Na imagem, planetas em alinhamento para comparação com o tamanho da Lua, Mercúrio, Terra e Marte. Crédito: NASA / Ames / JPL-Caltech.
Cientistas da missão Kepler da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
descobriram um novo sistema planetário onde vive o mais pequeno planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
já encontrado em torno de uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
semelhante ao Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
.

Trata-se do sistema Kepler-37, a cerca de 210 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
da Terra, na constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
de Lira. O planeta mais pequeno, Kepler-37b, é pouco maior que a nossa Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
, medindo cerca de um terço do tamanho da Terra. É menor que Mercúrio
Mercúrio
Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. É o mais pequeno dos planetas rochosos, com um diâmetro cerca de 40% menor do que o da Terra.
, o que tornou a sua detecção um desafio.

Kepler-37b e os seus dois planetas companheiros foram encontrados graças à missão Kepler, da NASA, criada para encontrar planetas do tamanho da Terra dentro ou perto da chamada "zona habitável", isto é, da região de um sistema planetário onde a água líquida pode existir à superfície de um planeta. No entanto, apesar de a estrela em Kepler-37 poder ser semelhante ao Sol, o sistema parece bem diferente do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
em que vivemos.

Os astrónomos pensam que Kepler-37b não possui atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
e não pode, por isso, suportar a vida tal como a conhecemos. O pequeno planeta é certamente rochoso na composição. Quanto aos planetas vizinhos: Kepler-37c, o mais próximo, é um pouco menor do que Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
, medindo quase três quartos do tamanho da Terra; Kepler-37d, o mais distante, tem o dobro do tamanho da Terra.

Os primeiros exoplanetas
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
descobertos a orbitar uma estrela normal foram planetas gigantes. Com o avanço das tecnologias, têm sido descobertos planetas cada vez mais pequenos e a missão Kepler tem mostrado que até mesmo os exoplanetas do tamanho da Terra são comuns.

"Mesmo o observatório Kepler apenas consegue detectar um mundo assim tão pequeno em torno das estrelas mais brilhantes que observa", disse Jack Lissauer, cientista planetário no Ames Research Center, da NASA, em Moffett Field, Califórnia. "O facto de termos descoberto o minúsculo Kepler-37b sugere que estes planetas pequenos são comuns, e estamos a aguardar a descoberta de mais maravilhas planetárias, enquanto continuamos a reunir e a analisar dados adicionais."

A estrela hospedeira em Kepler-37 pertence à mesma classe do Sol, embora seja um pouco mais fria e pequena. Qualquer dos três planetas do sistema orbita a estrela a uma distância inferior à de Mercúrio ao Sol, sugerindo que todos sejam mundos muito quentes e inóspitos. A órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de Kepler-37b, a menos de um terço de distância de Mercúrio ao Sol, é de 13 dias. A temperatura estimada à superfície do planeta, mais de 800 graus centígrados, seria suficientemente elevada para derreter moedas de zinco. Kepler-37c e Kepler-37d têm, respectivamente, órbitas de 21 e de 40 dias.

"Descobrimos um planeta de tamanho inferior ao de qualquer um do nosso sistema solar, que orbita uma das poucas estrelas que é em simultâneo brilhante e tranquila, onde a detecção do sinal foi possível", disse Thomas Barclay, cientista da missão Kepler no Bay Area Environmental Research Institute, em Sonoma, Califórnia, e principal autor do estudo, publicado na revista Nature. "Esta descoberta mostra que os planetas próximos à estrela podem ser menores, bem como muito maiores, que os planetas que orbitam o nosso Sol."

A equipa de investigação usou dados do telescópio espacial Kepler, que mede simultânea e continuamente o brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
de mais de 150000 estrelas a cada 30 minutos. Quando um planeta candidato transita, ou passa em frente à sua estrela, do ponto de vista do observatório, uma percentagem da luz emitida pela estrela é bloqueada. A diminuição no brilho da luz estelar revela o tamanho do planeta em trânsito
trânsito
Designa-se por trânsito a passagem de um objecto astronómico à frente do disco de um objecto maior e mais longínquo. Por exemplo, o trânsito de Vénus diante do Sol.
em relação à estrela.

O tamanho da estrela deve ser conhecido, a fim de que o tamanho do planeta possa ser medido com precisão. Para saberem mais sobre as propriedades da estrela em Kepler-37, os cientistas examinaram as ondas sonoras geradas pelos movimentos sob a sua superfície. Investigaram a estrutura interior da estrela em Kepler-37 da mesma forma que os geólogos sondam a estrutura interior da Terra, usando ondas sísmicas geradas por terramotos. Esta ciência tem o nome de Astro-sismologia.

As ondas sonoras viajam dentro da estrela e trazem a informação de volta à superfície. As ondas causam oscilações que o Kepler observa como uma flutuação rápida no brilho da estrela. Fazendo uma analogia com os sinos de um campanário, as pequenas estrelas “ressoam” em frequências
frequência
Num fenómeno periódico, a frequência é o número de ciclos por unidade de tempo.
mais altas, enquanto estrelas maiores “ressoam” em frequências mais baixas. As oscilações de alta frequência no brilho de estrelas pequenas são quase imperceptíveis e mais difíceis de medir, por isso, grande parte dos objectos previamente submetidos a análise eram maiores que o Sol.

Com a elevada precisão dos instrumentos do Kepler, os astrónomos atingiram um novo marco. A estrela em Kepler-37, com um raio de apenas três quartos do Sol, é agora o mais pequeno sino do campanário. O raio da estrela foi determinado com uma precisão de três por cento, o que representa uma precisão excepcional na avaliação do tamanho do planeta.

Fonte da notícia: http://www.jpl.nasa.gov/news/news.php?release=2013-066&cid=release_2013-066