Crise na formação de estrelas provoca queda de 97% no PIB cósmico

2012-11-06

Em cima: Diagrama indicando a evolução do PIB do Universo ao longo do tempo. Os novos resultados revelam que, medida em massa, a taxa de produção de estrelas caiu 97% desde o seu pico, ocorrido há 11 mil milhões de anos. Em baixo: Diagrama mostrando como a massa total de estrelas no Universo deveria ter evoluído ao longo dos últimos 11000 milhões anos, com base nas novas observações (linhas), e como realmente evoluiu (símbolos; medidas diferentes por outras equipas). Há uma excelente concordância entre ambas as avaliações o que consolida a previsão de que apenas virão a formar-se mais 5% de estrelas, mesmo que aguardemos para sempre. Crédito: D. Sobral.
Como se já não bastasse a economia mundial estar em dificuldades, uma equipa de astrónomos portugueses, britânicos, japoneses, italianos e holandeses descobriu uma crise ainda maior a acontecer à escala cósmica. No maior estudo de sempre deste tipo, a equipa internacional estabeleceu que a taxa de formação de novas estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
no Universo atinge agora apenas 1/30 do seu pico e que esta tendência para a queda deverá continuar. A equipa, liderada por David Sobral, da Universidade de Leiden, na Holanda, publica os seus resultados no Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

O modelo aceite para a evolução do Universo sugere que as estrelas começaram a formar-se há cerca de 13,4 mil milhões de anos, ou seja, cerca de 300 milhões anos após o Big Bang. Muitas dessas primeiras estrelas terão sido descomunais em relação aos padrões de hoje, possuindo provavelmente massas
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
centenas de vezes superiores à do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. Tais gigantes terão envelhecido muito rapidamente, esgotando o seu combustível e explodido como supernovas
supernova
Uma supernova é a explosão de uma estrela no final da sua vida. As explosões de supernova são de tal forma violentas e luminosas que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira. Existem dois tipos principais de supernova: as supernovas Tipo Ia, que resultam da explosão duma estrela anã branca que, no seio de um sistema binário, rouba matéria da estrela companheira até a sua massa atingir o limite de Chandrasekhar e então colapsa; e as supernovas Tipo II, que resultam da explosão de uma estrela isolada de massa elevada (com massa superior a cerca de 4 vezes a massa do Sol) que esgotou o seu combustível nuclear e expeliu as suas camadas externas, restando apenas um objecto compacto (uma estrela de neutrões ou um buraco negro).
mais ou menos um milhão de anos após a sua formação. As estrelas com menor massa, pelo contrário, desfrutam de vidas muito mais longas, durando milhares de milhões de anos.

Grande parte da poeira e do gás libertado pelas explosões estelares foram (e são) reciclados para formar as gerações mais novas e mais recente de estrelas. O nosso Sol, por exemplo, é uma estrela de terceira geração, e tem uma massa muito típica de acordo com os padrões de hoje.

Mas, independentemente da sua massa e da suas propriedades, as estrelas são os ingredientes principais de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
como a nossa Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
, por isso, descortinar a história da formação das estrelas ao longo do tempo cósmico é fundamental para compreendermos como as galáxias se formam e evoluem.

Neste novo estudo, os cientistas usaram o telescópio de infravermelho
telescópio de infravermelho
Um telescópio de infravermelho é um telescópio munido de um detector sensível à radiação infravermelha, tipicamente nos comprimentos de onda entre 0,75 e os 350 mícrones.
do Reino Unido (UKIRT), o Very Large Telescope
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
(VLT) e o telescópio Subaru
Subaru Telescope
O Telescópio Subaru é um telescópio óptico e de infravermelhos, com um espelho de 8,2 m de diâmetro. O Subaru encontra-se no Observatório de Mauna Kea, no Havai, e é operado pelo Observatório Astronómico Nacional do Japão – NAOJ e pelo Instituto Nacional de Ciências Naturais.
para realizarem o levantamento mais completo alguma vez feito de galáxias com formação de estrelas, a diversas distâncias, com cerca de dez vezes mais dados do que qualquer outro levantamento anterior. Devido à escala de distâncias e ao tempo necessário para a luz chegar até nós, vemos de forma idêntica galáxias seleccionadas em diferentes períodos da história do Universo, pelo que podemos realmente entender como as condições mudaram ao longo do tempo.

Observando a luz vinda de nuvens de gás e poeira nestas galáxias onde as estrelas se estão a formar, a equipa foi capaz de avaliar a taxa à qual as estrelas estão a nascer. Descobriram que a produção de estrelas no Universo, como um todo, tem diminuído continuamente ao longo dos últimos 11 mil milhões de anos, sendo hoje 1/30 do que terá sido no seu auge, ocorrido há 11 mil milhões de anos.

David Sobral comentou: "Pode dizer-se que o Universo tem sido vítima de uma longa e grave crise: o PIB cósmico é agora apenas 3% do que costumava ser no auge da produção de estrelas!"

"Se o decréscimo medido continuar, então apenas se irão formar mais 5% de estrelas ao longo do que resta da história do cosmos
Cosmos
O conjunto de tudo quanto existiu, existe e alguma vez existirá. A larga escala, o Universo parece ser isotrópico e homogéneo.
, mesmo que pudéssemos aguardar para sempre. A pesquisa sugere que vivemos num Universo dominado por estrelas velhas. Metade delas nasceram no boom que teve lugar entre os 11 e os 9 mil milhões de anos atrás e foi preciso mais de cinco vezes o mesmo tempo para produzir o resto."

O futuro pode parecer um pouco negro, mas, na verdade, temos muita sorte em estarmos a viver numa galáxia saudável, que dará um forte contributo para as novas estrelas que se irão formar.

"Este estudo, além de fornecer uma imagem nítida do decréscimo da formação estelar no Universo, também fornece os dados ideais para que se possa resolver o mistério que é ainda mais fundamental: porquê?"

Fonte da notícia: http://www.ras.org.uk/news-and-press/219-news-2012/2187-cosmic-gdp-crashes-97-as-star-formation-slumps