Câmara digital mais poderosa do mundo regista primeiras imagens em busca de energia escura

2012-09-18

Em cima: Ampliação da imagem obtida pela Dark Energy Camera da galáxia espiral barrada NGC 1365 do enxame de galáxias Fornax, que fica a cerca de 60 milhões de anos-luz da Terra. Em baixo: Ampliação da imagem obtida pela Dark Energy Camera do enxame de galáxias Fornax. Crédito das imagens: Dark Energy Survey Collaboration.
Há oito mil milhões de anos, os raios de luz de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
distantes iniciaram a sua longa jornada até à Terra. Essa luz estelar antiga chegou a uma montanha no Chile, onde a recém-construída Dark Energy Camera, o mais poderoso instrumento de mapeamento do céu já criado, a captou e gravou pela primeira vez.

Esta luz pode conter dentro de si a resposta para um dos maiores mistérios da física - porque é que a expansão do Universo está a acelerar?

Cientistas do programa internacional Dark Energy Survey anunciaram esta semana que a Dark Energy Camera, produto de oito anos de investigação e construção, um trabalho levado a cabo por cientistas, engenheiros e técnicos em três continentes, captou a sua primeira luz. As primeiras fotos do céu austral foram obtidas por esta câmara de 570 megapixéis a 12 de Setembro.

"A obtenção da primeira luz através da Dark Energy Camera dá início uma nova e significativa era na exploração da fronteira cósmica", disse James Siegrist, director associado de ciência para a física de altas energias no Departamento de Energia dos EUA. "Os resultados desta pesquisa levar-nos-ão a compreender melhor o mistério da energia escura e o seu significado no Universo."

A Dark Energy Camera foi construída no Fermi National Accelerator Laboratory do Departamento de Energia dos EUA (DOE), em Batavia, Illinois, e montada no telescópio Victor M. Blanco da National Science Foundation no Observatório interamericano de Cerro Tololo (Chile). Com este dispositivo, aproximadamente do tamanho de uma cabine telefónica, astrónomos e físicos irão investigar o mistério da energia escura, a força que se crê estar a acelerar a expansão do Universo .

"O Dark Energy Survey ajudar-nos-á a entender por que razão a expansão do Universo está a acelerar, e não a desacelerar devido à gravidade", disse Brenna Flaugher, chefe do projecto e cientista no Fermilab.

A Dark Energy Camera é o instrumento de pesquisa mais poderoso do género, capaz de captar, em cada instantâneo, a luz de mais de 100 000 galáxias até 8 mil milhões de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
de distância. Tem uma sensibilidade sem precedentes à luz muito vermelha e em conjunto com o telescópio Blanco (de aproximadamente 4m de diâmetro) irá permitir aos cientistas de todo o mundo conduzirem investigações que poderão ir desde estudos de asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
no nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
à compreensão das origens e destino do Universo.

Com a nova câmara, os cientistas do Dark Energy Survey irão levar a cabo o maior levantamento de galáxias jamais realizado, e utilizarão os dados para tentar obter quatro confirmações da energia escura, estudando enxames de galáxias
enxame de galáxias
Um enxame, ou aglomerado, de galáxias é um conjunto de galáxias gravitacionalmente ligadas. A Via Láctea pertence ao aglomerado chamado Grupo Local de galáxias. O enxame de galáxias mais próximo de nós é o Enxame da Virgem.
, supernovas
supernova
Uma supernova é a explosão de uma estrela no final da sua vida. As explosões de supernova são de tal forma violentas e luminosas que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira. Existem dois tipos principais de supernova: as supernovas Tipo Ia, que resultam da explosão duma estrela anã branca que, no seio de um sistema binário, rouba matéria da estrela companheira até a sua massa atingir o limite de Chandrasekhar e então colapsa; e as supernovas Tipo II, que resultam da explosão de uma estrela isolada de massa elevada (com massa superior a cerca de 4 vezes a massa do Sol) que esgotou o seu combustível nuclear e expeliu as suas camadas externas, restando apenas um objecto compacto (uma estrela de neutrões ou um buraco negro).
, aglomerados de larga escala de galáxias e lentes gravitacionais
efeito de lente gravitacional
O efeito de lente gravitacional consiste na deflexão da luz provocada pelo campo gravitacional muito forte de um objecto que se encontra entre o observador e a fonte de luz. Por exemplo, uma galáxia, ou um enxame de galáxias, que se encontre entre nós e um objecto astronómico muito distante, como um quasar, pode actuar como uma lente gravitacional. Tipicamente, o efeito de lente gravitacional faz com que se observe, numa única fotografia, mais do que uma imagem do mesmo objecto.
fracas. Pela primeira vez, será possível utilizar estes quatro métodos em conjunto numa única experiência.

Prevê-se que o Dark Energy Survey comece em Dezembro, depois de a câmara ter sido totalmente testada e aproveitando as excelentes condições atmosféricas nos Andes Chilenos para produzir imagens com a maior resolução conseguida em pesquisas astronómicas de campo amplo. Em apenas poucas noites de testes, a câmara já conseguiu imagens com uma resolução espacial excelente e quase uniforme.

Daqui a cinco anos, o Survey terá criado imagens detalhadas e a cores de um oitavo do céu, fazendo o levantamento de 300 milhões de galáxias, 100 000 enxames de galáxias e 4000 supernovas.

Fonte da notícia: http://www.noao.edu/news/2012/pr1204.php