Estará Tritão a esconder um oceano subterrâneo?

2012-09-07

Tritão, a maior lua de Neptuno - mosaico da Voyager 2. Crédito: NASA/JPL/USGS.
Com 2.700 km de diametro, a frígida e engelhada Tritão é a maior lua de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
e a sétima maior do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. A sua órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
em torno do planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
é retrógrada - isto é, tem sentido oposto ao da rotação de Neptuno - o que é um comportamento orbital invulgar, levando os astrónomos a acreditarem que Tritão é na verdade um objecto capturado da Cintura de Kuiper
Cintura de Kuiper
A Cintura de Kuiper é uma região em forma de disco, localizada depois de Neptuno, entre 30 e 50 UA do Sol. É constituída por muitos pequenos corpos gelados, restos da formação do Sistema Solar, e é a fonte dos cometas de curto-período. O primeiro objecto da Cintura de Kuiper, 1992QB1, com 240 km de diâmetro, só foi descoberto em 1992, mas desde então já se conhecem centenas de objectos da Cintura de Kuiper (KBO, do inglês Kuiper Belt Object). Há astrónomos que consideram Plutão, e a sua lua Caronte, objectos da Cintura de Kuiper.
, que caiu na órbita de Neptuno em algum momento dos quase 4,7 mil milhões de anos de história do nosso Sistema Solar.

A passagem da Voyager 2, em 1989, revelou curiosamente uma superfície manchada e bastante reflexiva, quase metade dela coberta por terreno acidentado, e uma crosta constituída principalmente por gelo de água, ao redor de um denso núcleo de rocha metálica.

Um grupo de investigadores da Universidade de Maryland sugere que entre o núcleo rochoso e a camada de superfície gelada pode estar escondido um oceano de água, mantida no estado líquido apesar das temperaturas estimadas serem de -97 ° C , fazendo de Tritão mais uma lua que poderia ter um mar subsuperficial.

Como pode um mundo tão frio manter um oceano de água líquida durante um determinado período de tempo?

Por um lado, a presença de amoníaco no interior de Tritão ajudaria a reduzir significativamente o ponto de congelamento da água, de modo a dar origem a um oceano muito frio abaixo da superfície mas que, no entanto, não congela.

Além disto, Tritão pode ter contado com uma fonte de calor
calor
O calor é energia em trânsito entre dois corpos ou sistemas.
interna – senão com várias. Quando Tritão foi capturado pelo campo gravítico de Neptuno a sua órbita terá inicialmente sido muito elíptica, sujeitando a lua a intensas forças de maré que terão gerado calor devido ao atrito. Embora ao longo do tempo a órbita de Tritão em torno de Neptuno se tenha tornado quase circular, devido à perda de energia causada por essas forças de maré, o calor poderá ter sido suficiente para derreter uma quantidade considerável de gelo de água preso sob a crosta.

Outra possível fonte de calor é o decaimento de isótopos radioactivos
radioisótopo
Isótopo instável, natural ou criado artificialmente, cujo núcleo decai emitindo partículas (alfa ou beta) ou radiação (gama), até se transformar num núcleo estável, não radioactivo, de outro elemento químico.
, um processo contínuo que pode aquecer um planeta internamente durante milhares de milhões de anos. Apesar de este processo por si só não ser o suficiente para descongelar um oceano inteiro, se combinarmos este aquecimento com o provocado pelas forças de maré, Tritão pode muito bem ter gerado calor suficiente para abrigar, durante um longo período de tempo, um oceano estreito, rico em amoníaco, sob o manto isolante da crosta congelada – um oceano que, eventualmente, também acabaria por arrefecer e congelar como o resto da lua. Se isto já aconteceu ou ainda está para acontecer é o que continua por descobrir.

"Eu penso que é extremamente provável que um oceano rico em amoníaco exista no subsolo de Tritão", declarou Saswata Hier-Majumder, do Departamento de Geologia da Universidade de Maryland, membro da equipa de trabalho que publicou recentemente o artigo na edição de Agosto da revista Icarus. "[Mas] há uma série de incertezas no nosso conhecimento do interior e do passado de Tritão, o que torna difícil fazer previsões com convicção absoluta."

Ainda assim, qualquer hipótese de existir em qualquer lugar água no estado líquido em grandes quantidades deve ser acompanhada com atenção, uma vez que é dentro de tais ambientes que os cientistas acreditam podermos eventualmente vir a localizar formas de vida extraterrestre. O corpos do Sistema Solar com oceanos gelados debaixo da superfície podem ser potenciais habitats de vida extraterrestre primitiva. Europa, uma das luas de Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
, é actualmente o principal candidato, embora haja ainda muito debate à volta deste assunto. A probabilidade de existir vida nas profundezas do oceano de Tritão é muito menor do que a de Europa, mas ainda assim não deve ser completamente descartada.

Fonte da notícia: http://www.universetoday.com/97239/is-triton-hiding-an-underground-ocean/