O vermelho é o novo preto no céu nocturno

2012-08-02

Em cima: o céu nocturno sobre o Glacier National Park, nos EUA; em baixo: o céu de Berlim. Nas cidades, as nuvens dispersam a luz artificial de volta para o solo, aumentando drasticamente o brilho do céu. Nas áreas sem iluminação artificial, as nuvens tornam o céu mais escuro. Créditos: em cima - Ray Stinson, Glacier National Park, EUA; em baixo - Christopher Kyba, Berlim, Alemanha.
De acordo com cientistas da Freie Universität de Berlim e do Leibniz Institute of Freshwater Ecology and Inland Fisheries, a cor do céu nocturno pode estar prestes a sofrer uma mudança radical em todo o mundo. Os cientistas prevêem que, com o crescente uso de lâmpadas LED na iluminação pública, a cor do céu nocturno tenderá a tornar-se mais azul e, para acompanharem esta alteração, desenvolveram o protótipo de um dispositivo de medição. Usando-o, conseguiram mostrar que, em noites nubladas, o céu contém afinal muito mais luz vermelha quando em comparação com noites de céu limpo. O relatório, com o título: "Vermelho é o novo preto", foi publicado no Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Christopher Kyba, físico da Freie Universität e principal autor do estudo, explica que as inovações em tecnologia de iluminação terão como resultado alterações na cor da iluminação pública. "A tendência actual em todo o mundo de substituir as lâmpadas de descarga de gás por luz de estado sólido, como LEDs, afectará o brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
e espectro da luminosidade
luminosidade
A luminosidade (L) é a quantidade de energia que um objecto celeste emite por unidade de tempo e em determinado comprimento de onda, ou em determinada banda de comprimentos de onda.
do céu nocturno nas áreas urbanas." A fim de se poderem compreender os potenciais impactes desta mudança sobre a ecologia, será necessário monitorizar o céu a longo prazo.

Com o protótipo desenvolvido, os cientistas estudaram de que modo as nuvens afectam o brilho do céu em áreas urbanas. "Em quase toda a história evolutiva, as nuvens fizeram o céu nocturno tornar-se mais escuro, da mesma forma que escurecem o céu diurno", disse Franz Holker, ecologista do Leibniz Institute of Freshwater Ecology and Inland Fisheries, autor do estudo e líder do projecto Verlust der Nacht (A Perda da Noite). Mas nas regiões onde predomina a luz artificial o efeito provocado pelas nuvens é agora o inverso, e a importância do efeito depende do comprimento de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
. Os investigadores descobriram que, em Berlim, as nuvens aumentam o brilho de luz vermelha aproximadamente 18 vezes, valor que é muito superior ao do aumento do brilho da luz azul (7,1). Descobriram ainda que a diminuição gradual no brilho do céu observado em noites de céu limpo em Berlim parece ser mais pronunciada em comprimentos de onda mais longos.

Os autores dizem que para o espectro visual da maioria dos animais, os céus nublados são hoje milhares de vezes mais brilhantes nas proximidades das cidades do que foram ao longo da história. Calcula-se que esta adição de luz extra pode afectar os relacionamentos entre predador e presa nos casos em que o predador caça usando a visão, por exemplo, entre corujas e ratos.

O céu é azul durante o dia porque a atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
sem nuvens espalha muito bem a luz de comprimento de onda curto. Como tal, a menos que seja tomado especial cuidado na sua concepção e implementação, a substituição das luzes tradicionais por outras mais brancas do tipo LED irá tornar o céu muito mais brilhante, isto é, luminosamente poluído, nas noites limpas, o que é algo seriamente preocupante. Por isso, para as cidades que decidiram mudar a sua iluminação para luz sólida, os cientistas sugerem o uso de candeeiros que não emitam luz para cima, bem como de tonalidades "branco quente" com a menor quantidade possível de luz azul.

Esta pesquisa foi financiada por dois projectos interdisciplinares, MILIEU e Verlust der Nacht. O projecto Verlust der Nacht, financiado pelo Ministério Alemão da Educação e Pesquisa (BMBF), é especificamente dedicado a quantificar a poluição luminosa e investigar o seu impacto sobre os seres humanos e o meio ambiente.

Fonte da notícia: http://www.ras.org.uk/news-and-press/219-news-2012/2156-red-is-the-new-black

Nota:
O NUCLIO coordena em Portugal o programa internacional Dark Skies Rangers, que pretende combater este problema global da Poluição Luminosa através de auditorias da iluminação exterior, da medição do grau de luminosidade do céu nocturno e da sensibilização da comunidade educativa e das autoridades locais para alterarem os sistemas de iluminação e preservarem o céu nocturno. As páginas do projecto podem ser encontradas em: http://dsr.nuclio.pt