Como sobreviveu o cometa Lovejoy à sua viagem em torno do Sol

2012-03-14

Cometa C/2011 W3 (Lovejoy) reemergindo por detrás do Sol, a15 de Dezembro de 2011. Crédito: (NASA / SDO)
Foi apenas há três meses que o mundo da astronomia assistiu com admiração ao recém-descoberto cometa
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
Lovejoy caíndo em direcção ao Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, naquela que seria a sua viagem final, apenas para reaparecer do outro lado aparentemente ileso! Sobrevivendo a esta odisseia, o Lovejoy voltou ao Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, apresentando aos observadores uma cauda totalmente nova.

Como é que um corpo ligeiramente comprimido formado por gelo e rocha conseguiu resistir à passagem através da escaldante coroa solar
coroa solar
A coroa solar é a região mais exterior da atmosfera do Sol, imediatamente acima da cromosfera. É composta por gás pouco denso, a uma temperatura acima de um milhão de graus (1-2x106 K). Este gás estende-se por milhares de quilómetros acima da superfície solar e pode ser observado na luz visível durante os eclipses solares, ou com o auxílio de aparelhos especiais, os coronógrafos.
, quando todas as expectativas apontavam para que ele se desintegrasse? Alguns investigadores da Alemanha apresentaram uma hipótese, num artigo publicado na revista Icarus, a 8 de Março de 2012, por Bastian Gundlach.

Com efeito, o grupo de cientistas do Instituto Max Planck para a Física Extraterrestre, e da Universidade de Tecnologia de Braunschweig sugere que o Cometa Lovejoy conseguiu manter-se coeso graças a uma característica que, para a maioria das pessoas, define um cometa: a expulsão de gelo sublimado.

Ao aproximar-se do Sol, o cometa sofre um aquecimento progressivo, devido à radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
solar, o que faz com que os materiais congelados dentro do núcleo sublimem – indo directamente e de repente do estado sólido para o gasoso, saltando a fase líquida intermédia - e, ao fazê-lo, irrompem através da superfície do cometa e criam a longa cauda brilhante, que tantas vezes se observa.

No caso do Lovejoy, em percurso directo para o Sol, a sublimação em si pode ter criado uma força, dirigida para fora da superfície, suficientemente grande para, literalmente, manter o cometa coeso.

"A força de reacção causada pela forte saída de gás (sublimação) do núcleo já próximo do Sol actuou de forma a mantê-lo coeso e a superar a sua desintegração pelas forças de maré", afirma o artigo.

Além disso, a equipa declara que o tamanho do núcleo do cometa
núcleo de um cometa
O núcleo de um cometa é a parte sólida e gelada, localizada no centro da cabeça do cometa e é constituído por poeiras e gases gelados. O diâmetro dos núcleos cometários tem tipicamente entre 10 e 20 km.
pode ser calculado utilizando uma equação que leva em consideração as forças combinadas da saída do gás, a composição do material do núcleo do cometa, a própria gravidade do cometa e as forças de maré exercidas pela proximidade do cometa ao Sol (limite de Roche).

Usando essa equação, a equipa concluiu que o diâmetro do núcleo do cometa Lovejoy fica entre os 0,2 km e os 11 km. Se fosse mais pequeno, teria perdido demasiada matéria durante sua passagem (e diminuído a sua gravidade). Se fosse maior, seria demasiado denso para que saída de gás fornecesse força suficiente para manter a coesão.

Se esta hipótese estiver correcta, fazer uma viagem próxima do Sol pode não significar o fim para todos os cometas ... pelo menos para os que tiverem um determinado tamanho!

Fonte da notícia: http://www.universetoday.com/94115/how-did-comet-lovejoy-survive-its-trip-around-the-sun/