Contagem decrescente para o Trânsito de Vénus – O nosso laboratório de testes Exoplanetário mais próximo

2012-03-14

Imagem que mostra a luz solar refratada observada durante 2004 com um coronógrafo usando um refrator de 9 cm. Crédito: Tanga et al., 2012.
Três meses antes do último trânsito
trânsito
Designa-se por trânsito a passagem de um objecto astronómico à frente do disco de um objecto maior e mais longínquo. Por exemplo, o trânsito de Vénus diante do Sol.
de Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
deste século, os cientistas reúnem-se no Observatório de Paris para finalizar os planos de observação num workshop apoiado pela Infraestrutura de Pesquisa Europlanet e o Programa EGIDE/PHC Sakura.

A 5-6 de Junho de 2012, o trânsito de Vénus trará duas oportunidades importantes para a Ciência. A primeira: usar Vénus como exemplo de um trânsito de um exo-planeta. Os astrónomos irão usar o trânsito para testar as técnicas desenvolvidas para a análise da composição, estrutura e dinâmica de atmosferas
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
exoplanetárias. A segunda: serão capazes de fazer observações provenientes simultaneamente da Terra e do Espaço da atmosfera de Vénus. Estas observações conjuntas darão novas perspetivas sobre a complexa camada central da atmosfera de Vénus, uma chave para perceber a climatologia deste nosso planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
irmão.

“Este trânsito de Vénus será o último no nosso tempo de vida e dará uma oportunidade única para observar de perto um planeta semelhante à Terra a passar em frente a uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
do tipo solar,” disse o Dr Thomas Widemann do Observatório de Paris, que é co-coordenador do workshop.

“O CoRoT e o Kepler, têm-nos confrontado com as descobertas de inúmeros planetas do tamanho de super-Terras. Vénus e a Terra são planetas irmãos, no entanto Vénus evoluiu de forma dramaticamente diferente. Se Vénus fosse um planeta extrassolar em trânsito, o que poderíamos nós aprender sobre as suas características físicas? O que estaríamos nós perder ou interpretar de forma errada? Iremos usar as observações do trânsito de Vénus para caracterizar a assinatura espetral de Vénus e testar os limites de deteção de gases na atmosfera,” disse Widemann.

O trânsito também oferece uma oportunidade rara para estudar a atmosfera de Vénus vista da Terra. À medida que Vénus aparenta fazer contacto com o limite do disco solar, começa a ficar delineado por um arco fino de luz, chamado de auréola. Esta auréola é causada pela luz refratada através da atmosfera de Vénus e é mais ténue 10 a 100 vezes que a superfície visível do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. O brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
e espessura da auréola dependem da densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
e temperatura da atmosfera e a altitude das camadas atmosféricas acima do topo das nuvens venusianas.

Apesar de a auréola ter sido primeiramente relatada por observadores em 1761, o trânsito em 2004 foi a primeira vez que pôde ser fotografada. Os resultados destas observações estão publicados no volume de Março do jornal Icarus.

“Até 2004, não sabíamos que a auréola podia ser facilmente observada e tinha valor científico,” disse o Dr Paolo Tanga do Laboratório Lagrange, Observatório de Côte-d'Azur, que liderou o estudo. “De três conjuntos de observações feitas em 2004 conseguimos construir um modelo da auréola pela primeira vez.”

Observações distribuídas espacialmente ao longo da curva da auréola irão permitir os cientistas perceber se os fenómenos atmosféricos observados pela Venus Express, que tem orbitado Vénus desde 2006, estão associados com variações no tempo ou são dependentes da latitude.

Widemann explicou, “Precisamos de observações terrestres para perceber as rápidas variações que vemos nos dados da Venus Express. Na altura do trânsito, podemos simultaneamente medir a estrutura da temperatura em todas as latitudes de polo a polo, ao longo da terminação e permitir uma comparação detalhada com as medições da Venus Express.”

Tanga, Widemann e colegas estão a construir um conjunto de oito coronógrafos, cada um a trabalhar num comprimento de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
diferente, para monitorizar a auréola durante o trânsito de Junho. Os coronógrafos, montados na OCA, irão ser usados em diferentes pontos da Terra onde o trânsito será mais observável (Svalbard na Europa, no Extremo Oriente, na costa oeste dos Estados Unidos e Austrália). As observações serão comparadas com dados de outros observatórios terrestres, bem como da Venus Express e do Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
.

“Os trânsitos são indicadores interessantes dos avanços da tecnologia humana,” disse Widermann. “No século dezoito, o relógio de pêndulo permitia medir tempos exatos durante o trânsito de Vénus – para a medição da Unidade Astronómica. No século XIX, tínhamos uma nova ferramenta em fotografia. No século XXI, somos capazes de observar o fenómeno simultaneamente do Espaço e da Terra. Seria interessante saber que ferramentas teremos nós disponíveis no século XXII!”

A fonte da notícia é um comunicado de imprensa do Europlanet:
http://www.europlanet-eu.org/outreach/index.php?option=com_content&task=view&id=367&Itemid=41