HANDS-ON UNIVERSE E O PRÉMIO NOBEL DA FÍSICA 2011: CONEXÕES

2011-10-11

Saul Perlmutter (Nobel da Física 2011) e Carl Pennypacker (Criador do Hands-on Universe)
O prémio Nobel da Física de 2011 está na génesis do programa de formação de professores "Hands-on Universe".

Saul Perlmutter, Brian P. Schmidt e Adam G. Riess ganharam o prémio Nobel da Física 2011 pela descoberta da Energia Escura, um momento de viragem no nosso conhecimento sobre o Universo.

Carl Pennypacker, presidente da associação "Global Hands-on Universe" foi co-fundador do “Supernova Cosmology Project” (SCP), o projecto que levou Perlmutter e a sua equipa à descoberta da Energia Escura. Nos primórdios do projecto Carl e seus colegas introduziram a ideia nas escolas e chegaram mesmo a envolver estudantes na descoberta de supernovas
supernova
Uma supernova é a explosão de uma estrela no final da sua vida. As explosões de supernova são de tal forma violentas e luminosas que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira. Existem dois tipos principais de supernova: as supernovas Tipo Ia, que resultam da explosão duma estrela anã branca que, no seio de um sistema binário, rouba matéria da estrela companheira até a sua massa atingir o limite de Chandrasekhar e então colapsa; e as supernovas Tipo II, que resultam da explosão de uma estrela isolada de massa elevada (com massa superior a cerca de 4 vezes a massa do Sol) que esgotou o seu combustível nuclear e expeliu as suas camadas externas, restando apenas um objecto compacto (uma estrela de neutrões ou um buraco negro).
, em sala de aula.

Tanto o projecto Hands-on Universe (HOU) como o SCP têm Carl como um dos seus fundadores e têm uma série de pontos em comum. O projecto das supernovas começou quando Luís Alvarez e Rich Muller decidiram repetir uma experiência antiga que pretendia estudar as supernovas.

Carl e os outros membros da equipa decidiram apoiar a ideia, que envolvia encontrar telescópios, construir cameras de CCD, escrever software e automatizar telescópios. A procura de supernovas passou a ser feita em áreas mais longínquas do Universo. Carl Pennypacker ajudou a desenvolver o projecto no telescópio anglo australiano (AAT) e ajudou a formar a equipa que desenvolveu o software e iniciou o trabalho.

O clima no AAT era muito instável e a investigação passou a ser feita no Telescópio Isaac Newton (TIN), nas Ilhas Canárias. Foi aí que descobriram a primeira supernova e publicaram os primeiros resultados. A partir destas observações a equipa passou a ser liderada por Saul Perlmutter e a investigação a ser feita no telescópio de 4m em Cerro Tololo, Chile. Foi aí que a maior parte das supernovas foram encontradas. E foi a partir destas observações que surgiram as primeiras evidências da existência da Energia Escura.

Ambos os projectos, HOU e SCP baseavam-se numa série de novidades tecnológicas que passaram a estar a disposição dos cientistas: CCD’s, telescópios automatizados, computadores a preços acessíveis e a internet. Isso permitiu a realização de várias observações.

Logo após a observação das supernovas alguns professores que trabalhavam com o Carl Pennypacker, nos resultados destas observações, comentaram que seria muito interessante levar esse trabalho às escolas, e assim nascia o "Hands-on Universe".
A equipa conseguiu financiamento para desenvolver um curriculum, materiais para formação de professores, software e aos poucos construir uma rede de telescópios disponíveis para a educação.

Aos poucos a rede mundial foi nascendo. Na Europa, com financiamentos da Comissão Europeia, nasceu o "European Hands-on Universe" (EUHOU), de que o NUCLIO (Núcleo Interactivo de Astronomia) é o representante português. O EUHOU tem contribuído para o desenvolvimento de recursos e ferramentas e para estabelecer uma metodologia para a formação de professores e para o estabelecimento de uma rede de cooperação entre escolas a nível Europeu.

Em 2008, nasceu em Portugal, a "Global Hands-on Universe Association" (GHOU) e durante o ano internacional da astronomia 2009 o GHOU coordenou um dos programas chave, o "Galileo Teacher Training Programme" (GTTP), um programa de formação de professores que conta neste momento com colaboradores em cerca de 100 países.

Essa é neste momento a missão de Carl Pennypacker, assegurar que crianças e jovens no mundo inteiro tenham a possibilidade de descobrir as maravilhas da investigação científica em sala de aula. Que os estudantes descubram que tem nas mãos o poder de mudar o mundo.

Nas palavras de Tim Barclay, co-fundador do HOU: Quantos estudantes nas escolas podem dizer: “Eu sei muita coisa acerca do que os cientistas que ganharam o prémio Nobel este ano estudam, as supernovas do tipo Ia
supernova Tipo Ia
Uma supernova de tipo I que não apresenta no seu espectro riscas espectrais de hidrogénio e de hélio, mas possui fortes riscas espectrais de silício.
, isso é exactamente o que estivemos a fazer. Eu fui à procura de imagens de supernovas, medi o seu brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
, analisei a sua curva de luz para poder determinar a sua distância. Eles ganharam o prémio Nobel, claro, mas estivemos a fazer investigação de ponta em sala de aula. A questão agora é saber porque a expansão do Universo é acelerada. Nós não sabemos, mas eles também não, portanto estamos todos juntos nesta investigação.”


Mais testemunhos de Carl Pennypacker e as reflexões de alguns dos professores e estudantes de Carl, sobre a honra de terem estado, de alguma forma, envolvidos no projecto podem ser encontrados aqui:

http://handsonuniverse.org/about_hou/pennypacker.html

Em Portugal as actividades de formação de professores, dinamizadas pelo NUCLIO, e a implementação de alguns projectos, são feitas com apoio da Câmara Municipal de Cascais em parceria com o Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal.