HST encontra um anel dourado no coração de uma galáxia

2002-06-06

Três imagens da galáxia NGC 4013 obtidas pelo Hubble. Em cima: no domínio do visível. No meio: compósito de três imagens de infravermelho próximo a 1,2 microns, a 1,6 microns e a 1,88 microns. Em baixo: imagem obtida no infravermelho próximo, através dum filtro Paschen-alpha (1,88 microns. Crédito: NASA, NICMOS Group (STScI, ESA), NICMOS Science Team (Univ. Arizona), Hubble Heritage Team (STScI/AURA) and ESA.
A câmara de infravermelhos
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
próximos NICMOS (Near Infrared Camera and Multi-Object Spectrometer), instalada no telescópio espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
, conseguiu penetrar no disco de poeira da galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
NGC 4013 e observar a sua região central. Encontrou uma estrutura que poderá ser um anel, visto de lado, de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
formadas recentemente. O extraordinário deste feito reside na capacidade de resolução da câmara NICMOS para detectar um anel embebido no centro de uma galáxia que se encontra virada de lado para nós, pois tem de perscrutar através do disco de poeira que envolve e obscurece a região central.

Anéis de estrelas recém-formadas são comuns em galáxias espirais com barra. A barra, constituída por estrelas e gás, fornece gás ao núcleo da galáxia, mas perturbações gravitacionais fazem com que o gás se acumule numa estrutura em forma de anel. A condensação de gás leva então ao aparecimento de estrelas. A NGC 4013 é uma galáxia espiral como a nossa Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
e encontra-se a 5 milhões de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
. Mas por se encontrar virada de lado para nós, desconhece-se se terá sido uma barra ou outro mecanismo que deu origem à estrutura agora detectada.

Na figura acima, encontramos três imagens da galáxia NGC 4013 em diferentes comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
, obtidas pelo Hubble:
Fotografia de cima:
Imagem obtida no domínio do visível com a câmara de grande campo de visão WFPC2 (Wide Field and Planetary Camera 2), outro instrumento do telescópio espacial Hubble. A característica mais proeminente desta fotografia é a faixa estreita e escura de gás e poeira, com cerca de 500 anos-luz de espessura, no centro da galáxia. O anel de estrelas em formação não pode ser detectado nesta fotografia, pois encontra-se embebido na poeira e esta absorve a luz visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
por ele emitido.

Fotografia do meio:
Imagem em cores falsas no domínio do infravermelho próximo
infravermelho próximo
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 5 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 740 e 5200 graus Kelvin.
obtida pela câmara NICMOS. A estrutura em forma de anel encontra-se à volta do núcleo da galáxia e tem cerca de 720 anos-luz de largura, um tamanho típico dos anéis de estrelas em formação que se encontram em galáxias espirais. Como o olho humano não consegue ver a luz infravermelha, torna-se necessário atribuir cores à região infravermelha: os menores comprimentos de onda infravermelhos estão representados a azul e os maiores, a vermelho. A imagem é um compósito de três imagens obtidas através de três filtros diferentes: J (1,2 micron
mícron (µm)
O mícron (µm), ou micrómetro, é uma unidade de comprimento que corresponde à milésima parte do milímetro: 1µm = 10-3mm = 10-6 m.
), H (1,6 micron) e Paschen-alpha (1,8 micron).

Fotografia de baixo:
Imagem obtida pela câmara NICMOS através do filtro Paschen-alpha (1,8 micron). A estrutura em forma de anel é nítida nesta fotografia em que o filtro, sensível ao hidrogénio, capta o brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
das estrelas e do gás. Os astrónomos utilizaram esta informação para calcular a taxa de formação de estrelas no anel, encontrando um valor elevadíssimo: se a nossa galáxia, que é mais de 10 000 vezes maior do que o anel, produzisse estrelas ao mesmo ritmo, encontraríamos, por ano, mil vezes mais estrelas do que as que se observam.


A estrela extremamente brilhante no centro de cada fotografia é uma estrela da nossa galáxia que se encontra na direcção de NGC 4013.

Fonte da notícia: http://oposite.stsci.edu/pubinfo/pr/2002/13/pr-photos.html