Relato e imagens da ocultação de Vénus do dia 1 de Dezembro

2008-12-04

Em cima: Imagem da Lua e Vénus poucos instantes após o término da ocultação. A cor azulada deve-se ao facto de ser ainda de dia. Em baixo: Imagem da conjunção da Lua, Vénus e Júpiter ao anoitecer do dia 1 de Dezembro de 2008. Créditos: Alberto Fernando, Filipe Alves, João Gregório, José Ribeiro
Na última newsletter referimos o espectáculo proporcionado pela Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
, Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
e Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
ao anoitecer de dia 1 de Dezembro. O que não referimos, porque ocorria durante o dia em Portugal, foi o facto que a Lua iria mesmo passar em frente de Vénus. O que se segue é o relato das observações e algumas das imagens obtidas por um grupo de aguerridos astrónomos amadores.

“Nos últimos dias de Novembro, assistimos à rápida aproximação de Vénus a Júpiter. No dia 30 a Lua entrou também em cena e, no dia 1 de Dezembro, juntou-se de tal forma que ocultou Vénus durante hora e meia.

Vénus e Júpiter tiveram a máxima aproximação durante a noite, de 30 de Novembro para 1 de Dezembro. Com os dois planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
separados por pouco mais de 2 graus, a Lua passou em frente de Vénus. Esta passagem – ocultação
ocultação
Designa-se por ocultação a ausência de luz proveniente de um objecto celeste devido à sua passagem por detrás de outro objecto celeste. Por exemplo, o eclipse do Sol é uma ocultação do Sol.
– teve início pelas 15:30 e terminou pelas 17:04 do dia 1 de Dezembro. Começou em pleno dia. Com binóculo, com qualquer máquina fotográfica equipada com teleobjectiva, ou com telescópio, foi fácil ver Vénus a desaparecer atrás da Lua. E o mais curioso foi que, desaparecendo atrás da parte não iluminada, dava a ideia de simplesmente ter desaparecido.

Nesta fase, em telescópio, Júpiter mostrava as duas bandas equatoriais bem notórias, não se conseguindo ver nenhum dos seus satélites.

Tínhamos a intenção de fazer o registo fotográfico e, se possível, em filme, desta ocultação, mas não houve tempo propício a uma cuidadosa preparação.

Escolhemos a Ponta do Sal, em S. João do Estoril, como local de observação.

E, logo que o céu abriu, montámos apressadamente o telescópio Obsession, num ponto parcialmente coberto por uma laje de cimento, enquanto o Filipe fazia uma recolha de fotografias de Vénus em rápida aproximação à Lua, e mesmo do início da ocultação.

Porém, mal tínhamos acabado o alinhamento, começou a chover e tivemos que apontar o telescópio para a parede, para o preservar da chuva, cobrindo-o ainda com um guarda-chuva e com um casaco.

Choveu durante quase uma hora até que, finalmente, fomos recompensados com um céu limpo e transparente, com o reaparecimento de Vénus e com Júpiter em pleno dia, acompanhado por três das suas luas.

Conseguimos um filme do reaparecimento de Vénus, fotografias para todos os gostos e com vários equipamentos, desde o pequeno refractor do Filipe com a Canon 300D, passando pela Canon 300D com uma teleobjectiva de 300 milímetros com estabilização de imagem, pela câmara ATIK 1C no Obsession, até à fotografias em afocal.

Na saída, Vénus era facilmente observado a olho nu. Muito brilhante, contrastava claramente com a Lua, discreta sob a luz solar. Júpiter também foi observado a olho nu ainda de dia, mas com o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
já quase no ocaso.

Várias pessoas se juntaram a nós, interessadas e entusiasmadas. E ficaram maravilhadas com o que viram. Devo dizer que o par Vénus-Lua, no Obsession, com a ocular Nagler 31mm, era uma imagem de sonho. Com as crateras muito nítidas, com o ângulo de incidência da luz a salientar pequenas crateras no mar das Crises e no mar da Fecundidade, com aquele enorme crescente a abraçar a parte iluminada pelo "luar da Terra" e com Vénus em exuberante giba
giba
Designa-se por giba a fase da Lua (ou Vénus) em que, quando observada a partir da Terra, mais de metade da sua superfície está iluminada, ou seja, a fase intermédia entre o Quarto Crescente e a Lua Cheia.
, o cenário ultrapassava as melhores imagens.

Aliás é quase impossível traduzir em imagens a riqueza, os contrastes, as tonalidades de um cenário como este.

Arrumámos o equipamento cerca das 19:00 horas. Mais uma vez tivemos sorte. Não tivemos sorte por acaso. Tivemos sorte porque a procurámos.”

Imagens adicionais podem ser vistas em:
http://www.atalaia.org/encontro.php?id=308