Cientistas descobrem glaciares ocultos em latitudes médias de Marte

2008-11-21

Visão de artista de glaciares em Marte. Crédito: NASA/JPL.
De acordo com novas pesquisas efectuadas com a sonda da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
"Mars Reconnaissance Orbiter", através da utilização de radar penetrante no solo, existem vastos glaciares de gelo de água sob mantos de detritos rochosos que os protegem.

Dado que a água é um dos requisitos primários para a existência de vida, tal como a conhecemos, a descoberta de grandes reservatórios de água congelada em Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
é um sinal encorajador para os cientistas que investigam a existência de vida fora do nosso planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
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Os glaciares ocultos estendem-se por várias dezenas de quilómetros a partir de cadeias montanhosas ou falésias e têm até perto de um quilómetro de espessura. Uma camada de detritos rochosos que cobre o gelo poderá ter preservado os glaciares como remanescentes de uma antiga camada de gelo que cobriria as latitudes médias de Marte durante uma antiga era glacial.

“No seu conjunto, estes glaciares representam quase seguramente o maior reservatório de gelo de água existente em Marte, fora das calotes polares. Uma das áreas observadas é três vezes maior que a cidade de Los Angeles e atinge perto de um quilómetro de espessura, e existem muitas mais” afirmou John W. Holt da Escola de Geociências Jackson, da Universidade do Texas em Austin, coordenador da equipa que publicou um relatório sobre as observações de radar na última edição da revista Science.

“Para além do seu valor científico, poderiam constituir uma fonte de água para a futura exploração de Marte”, disse Holt.

O conjunto de declives suaves à volta de regiões mais altas intrigava os cientistas desde as missões orbitais Viking, que os revelaram em 1970. Uma das teorias postulava que eram detritos rochosos lubrificados por algum gelo. Para Holt, estes locais fazem lembrar os enormes glaciares detectados sob coberturas rochosas na Antárctida, onde possui vasta experiência na utilização de instrumentos geofísicos aerotransportados, tais como radar, para estudar os lençóis de gelo.

Este mistério marciano foi agora resolvido quando o radar de baixa profundidade, a bordo da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, indicou que os locais contêm grandes quantidades de gelo de água.

“Estes resultados são apenas um pequeno sinal que aponta para a presença de grandes quantidades de gelo de água nestas latitudes”, disse Ali Safaeinili, membro da equipa do radar do JPL.

As provas da existência de gelo de água obtidas pelo radar foram reveladas de múltiplas formas. Os ecos de radar recebidos pela sonda orbital ao passar sobre as áreas em estudo indicavam que as ondas rádio
rádio
O rádio é a banda do espectro electromagnético de maior comprimento de onda (menor frequência) e cobre a gama de comprimentos de onda superiores a 0,85 milímetros. O domínio do rádio divide-se no submilímetro, milímetro, microondas e rádio.
atravessavam o material deslizante e reflectiam uma superfície mais profunda sem perderem força significativa, tal como se esperaria se os declives fossem constituídos por uma espessa camada de gelo debaixo de cobertura relativamente fina.

O radar não detectou reflexos do interior destes depósitos, como ocorreria se estes contivessem uma quantidade significativa de detritos. Finalmente, a velocidade aparente das ondas de rádio através dos declives é consistente com a composição do gelo de água.

A equipa que desenvolveu este radar concebeu-o já a pensar nestes declives, juntamente com os depósitos polares, muito antes de a sonda ter chegado à órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de Marte, em 2006.

“Desenvolvemos o instrumento para que pudesse operar neste tipo de terreno”, disse Roberto seu, da Universidade Sapienza, em Roma, líder da equipa científica deste aparelho. “A observação de outros exemplos destes declives tornou-se agora prioritária, para determinar se também são constituídos por gelo de água”.
Os glaciares subterrâneos apontados por Holt e a sua equipa de 11 membros, situam-se na região marciana conhecida como Bacia Hellas, no hemisfério sul do planeta. O radar detectou também sinais semelhantes em falésias do hemisfério norte.

“Existe uma quantidade de gelo de água ainda maior nos depósitos do norte”, afirmou Jeffrey J. Plaut, do JPL, que assinalou a sua presença numa conferência científica ocorrida há alguns meses. “O facto de estes traços se encontrarem na mesma banda de latitudes – cerca de 35 a 60 graus – em ambos os hemisférios, aponta para um mecanismo climático como responsável para a sua presença nestes locais”.

Os detritos rochosos que cobrem os glaciares tê-los-ão aparentemente protegido da sublimação como aconteceria se estivessem expostos à atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
nestas latitudes.

“Uma questão-chave é ‘Como é que o gelo lá foi parar, em primeiro lugar’”, de acordo com James W. Head, da Universidade Brown.

“A inclinação do eixo de rotação de Marte torna-se, por vezes muito maior que actualmente, e modelos climatéricos que poderiam ocorrer coberturas geladas nas latitudes médias do planeta durante estas fases de grande inclinação”, disse Head. Este cientista acredita que faz sentido que os glaciares subterrâneos agora descobertos sejam fragmentos remanescentes de uma idade do gelo, de há milhões de anos atrás.

“Na Terra”, disse Head, “estes glaciares cobertos, existentes na Antárctida, preservam os registos de antigos organismos, e da história climática do nosso planeta”.

Notícia original em: http://www.nasa.gov/mission_pages/MRO/news/mro-20081120.html