Há poucos dias, no quadro de um projecto da NASA para a vigilância da vizinhança do nosso planeta, foi descoberto no espaço, próximo da Terra, um pequeno asteróide (de poucos metros de diâmetro). Após várias observações, tornou-se claro que esta pedra do espaço se dirigia mesmo para nós. A notícia não provocou qualquer alarme, já que as dimensões deste objecto não permitiriam que atravessasse a atmosfera intacto. Refinados os cálculos, foi determinado que a entrada no invólucro gasoso que nos protege seria feita sobre a África, numa trajectória para leste, na madrugada passada, e que em poucos segundos o asteróide se transformaria numa bola de fogo (numa descrição simplista), oferecendo um magnífico espectáculo a quem estivesse na região. Dados os problemas existentes na área, e o nível de desenvolvimento tecnológico das populações locais, é pouco provável que nos cheguem relatos do solo. No entanto, à hora prevista, a tripulação de um avião da KLM avistou, a uma considerável distância, o fenómeno luminoso previsto. Foi a primeira vez que se previu o encontro entre o nosso planeta e um objecto menor do Sistema Solar. É verdade que existem objectos de muito maiores dimensões a vogar pelo espaço e a cruzar a órbita que a Terra descreve em torno do Sol, mas não vale a pena ficar assustado: as probabilidades de um encontro são infinitesimais, e este caso demonstra que já existe um esforço para localizar os objectos potencialmente perigosos – o primeiro passo para, em caso de necessidade, intervir e desviá-los do nosso planeta. Que, no passado, já sofreu impactos de vastas consequências, nomeadamente para a biosfera.

O que sucedeu a este pequeno asteróide – baptizado 2008 TC3 – pode ser resumido numa explosão com o poder equivalente a mil toneladas de TNT, que iluminou o céu em redor como se fosse a Lua cheia e produziu um magnífico espectáculo visual. Este destino ilustra bem o que se passa num planeta como o nosso, cuja superfície está protegida deste tipo de objectos por uma atmosfera relativamente densa. Apesar de existirem diversos factores a ditarem o destino de um objecto que a penetra – as dimensões, claro, mas também a velocidade relativa, o ângulo de entrada e as propriedades físicas do objecto – a atmosfera cobra um elevado preço pela passagem. Todos já observaram uma “estrela cadente”: não passa geralmente de uma partícula de muito pequenas dimensões que depressa é consumida pelo atrito na descida pela atmosfera. Quando se trata de objectos de maiores dimensões, uma analogia simples pode ajudar a perceber os acontecimentos: numa série televisiva que passa num canal de cabo, os “Caçadores de Mitos” experimentaram disparar armas de fogo contra a água, numa piscina. Quando utilizaram uma arma que imprimia grande velocidade ao projéctil, não o encontraram no fundo da piscina: ao penetrar na água, um meio muito mais resistente do que o ar, o projéctil tinha sido despedaçado. Imaginemos agora o que acontece a um asteróide que viaja pelo espaço, sem resistência, e entra numa atmosfera… A pressão, para lá de aquecer a frente do objecto, leva facilmente à sua destruição completa. Muitas vezes tudo o que chega ao solo são pequenos meteoritos, já sem a velocidade que traziam do espaço, o que explica que nem sequer cheguem a produzir crateras. Outras vezes, todo o objecto explode em altitude, embora possam sobreviver fragmentos importantes (como se pensa agora que sucedeu em Tunguska, em 1908). Claro que nem sempre isto se passa assim (veja-se o caso do Peru, no ano passado). E depois, há que contar com aqueles objectos de maiores dimensões, que fazem da atmosfera pouco mais do que uma película facilmente ultrapassável… como os dinossauros e muitos outros tipos de animais descobriram, há 65 milhões de anos atrás. Para isso, existem projectos, não apenas de vigilância sideral, mas mesmo de visita a asteróides por missões automáticas, de forma a compreender melhor a sua estrutura e as possibilidades de agir (destruir ou desviar) sobre objectos de dimensões e massas importantes.