Foi recentemente apresentado o primeiro mapa geológico global de Vénus, elaborado pelo cientista russo M. Ivanov. O estudo das imagens (de radar) disponíveis, bem como das regiões já mapeadas, permitiu o reconhecimento de 11 unidades (ou tipos de terreno) e a conclusão de que essas poucas unidades cobriam toda a superfície do segundo planeta do Sistema Solar. Dito desta forma, parece que a geologia de Vénus é bastante simples… Mas esta simplicidade é enganadora, e traduz de facto um assombroso mistério: o que se passou em Vénus? Há poucas crateras de impacto, o que se explica pela densa atmosfera, capaz de “derreter” a maior parte dos bólides que nela penetram, e a sua distribuição indica que a actual superfície do planeta é (em termos geológicos e astronómicos) relativamente jovem. Não temos dados que nos indiquem qual seria o aspecto do planeta há mais de 1 milhar de milhões de anos atrás. Até na Terra, com toda a sua dinâmica e constante renovação da superfície, existem, espalhadas pelo planeta, pequenas peças rochosas do puzzle de tempos mais remotos. Terá Vénus sido vítima de um verdadeiro cataclismo vulcânico, com uma explosão de erupções há centenas de milhões de anos atrás, capaz de refazer quase toda a superfície num curto período? O certo é que os vulcões que ainda hoje observamos em Vénus parecem estar adormecidos, quiçá moribundos, gastos… Ainda não se detectou nenhuma erupção a ocorrer no planeta. Que, recordamos, tem aproximadamente as mesmas dimensões que o nosso – mas uma história muito diferente. E definitivamente nada simples.