Foram encontradas duas "fábricas de supernovas" na Via Láctea.

2008-04-10

Composição colorida do enxame 1: O azul representa o gás interestelar quente, as estrelas surgem a cor verde e a poeira quente a vermelho. As estrelas super gigantes vermelhas são as estrelas de maior brilho ao centro.
Foi apresentada no passado dia 1 de Abril, no encontro nacional de astronomia RAS, em Belfast, a descoberta de duas "fábricas de supernovas", dois enxames de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
supergigantes vermelhas (RSGs - Red Super Giants), localizados na barra galáctica da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
e extremamente raros de encontrar.

De acordo com o Dr. Ben Davies, do Instituto de Tecnologia de Rochester, "as RSGs representam o breve estágio final do ciclo de vida das estrelas de grande massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
, antes de explodirem em supernovas
supernova
Uma supernova é a explosão de uma estrela no final da sua vida. As explosões de supernova são de tal forma violentas e luminosas que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira. Existem dois tipos principais de supernova: as supernovas Tipo Ia, que resultam da explosão duma estrela anã branca que, no seio de um sistema binário, rouba matéria da estrela companheira até a sua massa atingir o limite de Chandrasekhar e então colapsa; e as supernovas Tipo II, que resultam da explosão de uma estrela isolada de massa elevada (com massa superior a cerca de 4 vezes a massa do Sol) que esgotou o seu combustível nuclear e expeliu as suas camadas externas, restando apenas um objecto compacto (uma estrela de neutrões ou um buraco negro).
. Sendo objectos bastante raros, é formidável conseguir encontrar tantas no mesmo local. Na sua totalidade, os dois enxames encontrados, somam 40 estrelas supergigantes vermelhas, o que representa quase vinte por cento de todas as que se conhecem na Via Láctea. Todas estas estrelas se encontram na fase de poderem tornar-se supernovas."

Os dois enxames, próximos entre si, localizam-se na ponta da barra galáctica, a qual está a mover-se lentamente através do disco da nossa galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
. Parece ser esta interacção entre a barra e o disco a responsável por despoletar o evento de formação estelar que originou os enxames de estrelas. Estes aglomerados situam-se a cerca de 20 000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
da Terra e distam 800 anos-luz entre si.

O enxame 1 contém catorze estrelas supergigantes vermelhas e uma idade de 12 milhões de anos, enquanto que o enxame 2 possuí vinte e seis estrelas e uma idade de 17 milhões de anos.

As estrelas de grande massa são raramente observadas por queimarem o seu combustível demasiado rápido. As estrelas supergigantes vermelhas são duplamente raras porque a sua passagem por este estágio representa apenas um breve momento do seu curto ciclo de vida. "A próxima supernova de um destes enxames pode ocorrer a qualquer momento. Estima-se que, para estes aglomerados de estrelas, ocorra uma explosão a cada 5 000 anos e, neste momento, podemos observar a matéria remanescente de uma estrela que explodiu em supernova há cerca de cinco mil anos. Isto significa que a próxima explosão pode ocorrer algures entre hoje e o ano 7008," diz o Dr. Davies.

A equipa de cientistas começou por identificar os aglomerados de estrelas recorrendo à utilização do GLIMPSE (mid-infrared
infravermelho intermédio
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 5 e 40 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 92 e 740 graus Kelvin.
Galactic Plane survey), uma enorme base de dados de imagens captadas pelo telescópio espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
. Encontraram dois grupos distintos de estrelas brilhantes, muito próximos entre si, na constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
do Escudo (Scutum) e conseguiram obter a distância exacta de cada estrela de cada um dos grupos através de observações feitas com o telescópio Keck
W. M. Keck Observatory
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
, localizado em Mauna Kea, no Havai.

Estas observações demontraram que, em cada um dos grupos, existia um grande número de estrelas que se encontavam à mesma distância da Terra, levando a concluir que eram membros do mesmo aglomerado estelar. A descoberta destes enxames de estrelas fornece-nos uma excelente oportunidade para começar a elaborar respostas a duvídas da astrofísica que persistem há já muito tempo, como por exemplo, quais os mecanismos exactos que levam as estrelas de grande massa a evoluir em supernovas, ou de que forma a barra galáctica pode despoletar grandes eventos explosivos na Via Láctea?

Aguardemos pois pelo aprofundar dos resultados agora apresentados, na esperança de que os mesmos possam contribuir para melhorar um pouco a nossa ainda tímida compreensão do Universo em que nos inserimos.

Fonte da notícia: http://www.ras.org.uk/index.php?option=com_content&task=view&id=1437&Itemid=2