Estrelas órfãs na cauda de uma galáxia

2007-09-21

Composição de imagens no óptico e no raios-X que mostram a cauda de gás da galáxia ESO 137-001 (raios-X a azul, Hα a vermelho e óptico a branco). Crédito: NASA/CXC/MSU/M. Sun et al. (raios-X); SOAR (MSU/NOAO/UNC/CNPq-Brazil)/M.Sun et al. (Hα & óptico).
A galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
137-001 encontra-se a caminho do centro do enorme enxame de galáxias
enxame de galáxias
Um enxame, ou aglomerado, de galáxias é um conjunto de galáxias gravitacionalmente ligadas. A Via Láctea pertence ao aglomerado chamado Grupo Local de galáxias. O enxame de galáxias mais próximo de nós é o Enxame da Virgem.
Abel 3627. O efeito gravitacional do enxame arrancou grandes quantidades de gás da galáxia ESO 137-001 de forma que esta agora apresenta uma cauda que se estende por mais de 200 000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
. Esta cauda foi observada pelo telescópio SOAR (Southern Astrophysical Research Telescope) no óptico e pelo observatório Chandra
Chandra X-ray Observatory
O observatório de raios-X Chandra, lançado em 1999, faz parte do projecto dos Grandes Observatórios Espaciais da NASA. O seu nome homenageia Subrahmanyan Chandrasekhar, Prémio Nobel da Física em 1983. O Chandra detecta fontes de raios-X a milhares de milhões de anos-luz de nós. Observar em raios-X é a única forma de observar matéria muito quente, a milhões de graus Célsius. O Chandra detecta raios-X de regiões de alta energia, como por exemplo remanescentes de supernovas.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) nos raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
.

As observações indicam que o gás na cauda já formou milhões de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
. Este resultado surpreendeu os astrónomos que, até agora, pensavam ser difícil haver formação de estrelas sem ser dentro das galáxias, devido à necessidade de grandes quantidades de gás e poeira. Não é a primeira vez que se observa a formação de estrelas no espaço entre galáxias, mas nunca se tinha constatado um número tão elevado destas estrelas "órfãs".

As evidências de formação de estrelas incluem 29 regiões de hidrogénio ionizado
ionização
Processo pelo qual um átomo (ou molécula) electricamente neutro ganha ou perde um ou mais electrões, transformando-se num ião.
que brilha na luz visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
, e que se julga ser devido às estrelas recém-formadas. Estas regiões encontram-se ou na cauda de gás, ou muito próxima desta. O Chandra também revelou duas fontes de raios-X próximas destas regiões, o que reforça a teoria da actividade de formação de estrelas. As estrelas ter-se-ão formado há cerca de 10 milhões de anos. Pelos padrões astronómicos, estas estrelas estão muito isoladas.

O gás que deu origem às estrelas órfãs foi arrancado da galáxia pela pressão induzida pelo movimento da galáxia através do gás quente (a vários milhões de graus) que permeia o espaço intergaláctico do enxame de galáxias Abel 3627. Com a aproximação ao enxame de galáxias, mais gás vai sendo arrancado a ESO 137-001 até que esta galáxia não tenha mais gás para formar novas estrelas.

As caudas de gás em galáxias são raras no universo actual, mas podem já ter sido comuns, há milhares de milhões de anos, quando as galáxias eram mais jovens e mais ricas em gás.

Este trabalho de investigação, liderado por Ming Sun
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
(Universidade Estatal do Michigan, EUA) será publicado na revista científica The Astrophysical Journal.

Fonte da notícia: http://chandra.harvard.edu/press/07_releases/press_092007.html