Composição química dos enxames abertos conta a evolução da nossa Galáxia

2007-03-23

Enxame aberto Collinder 261. Crédito: Digitized Sky Survey.
A formação e evolução das galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
, em particular da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
, é ainda uma área que requer grande estudo, sendo imprescindível juntar esforços no que diz respeito a observações, teorias e simulações computacionais. Uma das formas de abordar a evolução da nossa Galáxia é estudando a composição química das estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
da Via Láctea. Este foi o método usado pela equipa liderada por G. da Silva (ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
), que estudou detalhadamente três enxames abertos.

Os enxames abertos contêm entre umas dezenas a poucos milhares de estrelas que estão gravitacionalmente ligadas. Supõe-se que todas as estrelas dum enxame nasceram da mesma nuvem molecular
nuvem molecular
As nuvens moleculares são nebulosas constituídas predominantemente por hidrogénio molecular.
, logo, com uma composição química semelhante, e na mesma altura, ou seja, a idade das estrelas é aproximadamente a idade do enxame. Uma das vantagens em estudar enxames abertos é ser possível determinar, com razoável precisão, a sua distância e idade - parâmetros geralmente muito difíceis de estimar para as estrelas da nossa galáxia. Conhecem-se enxames de estrelas de todas as idades, desde os mais jovens, com apenas alguns milhões de anos, até os mais velhos, com 10 mil milhões de anos.

A equipa analisou estrelas de três enxames abertos e concluiu que cada enxame apresenta um elevado grau de homogeneidade na composição química das suas estrelas e uma assinatura química muito forte. Este é um forte indício que a informação química sobreviveu milhares de milhões de anos e os astrónomos podem associar as estrelas de cada enxame à mesma nuvem.

Um dos enxames abertos estudados foi Collinder 261, a 25 000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
do centro da nossa Galáxia, que é um dos enxames mais velhos que se conhece. Este enxame foi observado utilizando o espectrógrafo UVES num dos telescópios de 8,2 m do VLT
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
(ESO), no Observatório do Paranal (Chile). A comparação da composição química das suas estrelas com as estrelas dos outros dois enxames, mais jovens, mostrou que os mesmos elementos químicos
elemento químico
Elemento composto por um único tipo de átomos. Os elementos químicos constituem a Tabela Periódica.
estão presentes em proporções diferentes. As nuvens a partir das quais se formaram os enxames tinham composições químicas diferentes, referentes a diferentes períodos na evolução da Galáxia.

Este estudo mostrou que a observação de estrelas gigantes
estrela gigante
Uma estrela gigante é uma estrela que terminou o processo de fusão de hidrogénio no seu núcleo e, por isso, arrefeceu e expandiu-se. As estrelas gigantes são o estado evoluído das estrelas anãs. Terminada a fusão de hidrogénio em hélio no núcleo, pode ocorrer um dos seguintes processos, ou os dois: a fusão de hidrogénio em hélio numa camada à volta do núcleo, ou a fusão de hélio em carbono e oxigénio no núcleo. As estrelas gigantes são muito luminosas: num diagrama Hertzsprung-Russell, o ramo das estrelas gigantes é mais luminoso do que a sequência principal. Exemplo de estrelas gigantes próximas de nós: Aldebarã, Arturus e Capela.
em enxames abertos permite determinar a composição química do enxame. Para obter resultados sobre a evolução da nossa Galáxia, será necessário alargar a amostra de enxames estudados.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2007/pr-15-07.html