Buraco negro com rotação extrema

2006-11-24

Visão artística dum buraco negro num binário, alimentando-se da companheira. Crédito: David A. Aguilar (Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics).
A Teoria da Relatividade Geral
Teoria da Relatividade Geral
A Teoria da Relatividade Geral foi formulada por Albert Einstein em 1916 como expansão da Teoria da Relatividade Restrita (formulada em 1905) de forma a incluir o efeito da gravitação no espaço-tempo. Esta teoria propõe que o espaço-tempo é uma estrutura quadri-dimensional cuja curvatura é determinada pela presença de matéria. Neste sentido, a gravitação manifesta-se como curvatura do espaço-tempo, e não como uma força entre duas massas.
de Einstein previu a existência de um dos objectos mais fascinantes que os astrónomos hoje conhecem: os buracos negros
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
. Quando um objecto com massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
, por exemplo uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
, se torna mais compacto que um certo limite, a sua própria gravidade é tão forte que colapsa para um ponto singular, um buraco negro.

Para os astrónomos, um buraco negro é essencialmente descrito por dois parâmetros: um, que especifica a massa do buraco negro, e o outro, que indica a sua velocidade de rotação. Enquanto que a massa de buracos negros tem sido medida com algum sucesso, o mesmo não se passa em relação à medição da velocidade de rotação. Só este ano é que se conseguiu medir, com alguma credibilidade, este parâmetro.

Dois astrofísicos do Centro Harvard-Smithsonian para a Astrofísica (EUA), J. McClintock e R. Narayan, desenvolveram uma técnica para determinar a velocidade de rotação de buracos negros utilizando dados da sonda Rossi X-ray Timing Explorer
Rossi X-ray Timing Explorer (RXTE)
O observatório espacial de raios-X RXTE, da NASA, é uma missão que teve início em 1995 e ainda está a decorrer, e tem como objectivo observar, com extrema rapidez, buracos negros, estrelas de neutrões, pulsares de raios-X e fulgurações de raios-X. Uma grande vantagem do RXTE é a sua capacidade de observar alterações que ocorrem no brilho de fontes de raios-X, tanto num milésimo de segundo, como ao longo de anos.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
). Trabalhando com investigadores do Departamento de Física de Harvard (EUA), do MIT-Instituto Tecnológico de Massachusetts ( EUA), Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA) e do Instituto Max Planck para a Astrofísica (Alemanha), esta equipa publicou recentemente os seus resultados na revista científica Astrophysical Journal.

O resultado mais interessante diz respeito ao microquasar GRS1915+105, cuja velocidade de rotação encontra-se entre os 82% e os 100% do valor máximo teórico. Este buraco negro faz parte de um conjunto de 20 buracos negros de binários de raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
para os quais se mediram as suas massas. GRS 1915 é conhecido por ter propriedades únicas, tais como jactos de matéria quase à velodade da luz e variações rápidas na sua emissão de raios-X. É também o buraco negro deste conjunto com massa mais elevada, cerca de 14 vezes a massa do Sol
massa solar
Massa solar é a quantidade de massa existente no Sol e, simultaneamente, a unidade na qual os astrónomos exprimem as massas das estrelas, nebulosas e galáxias. Uma massa solar é igual a 1,989x1030 kg.
.

Nas últimas décadas descobriram-se dezenas de buracos negros que pertencem a binários de raios-X. São sistemas nos quais um objecto, que pode ser uma estrela normal, como o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, vai transferindo gás de uma forma constante para o outro objecto, um buraco negro. Este gás forma um disco de acreção
acreção
Designa-se por acreção a acumulação de matéria (gás e poeira) para um astro central, como por exemplo um buraco negro, uma estrela, uma galáxia, ou um planeta.
à volta do buraco negro e, ao cair em espiral para o seu centro, aquece até milhões de graus emitindo raios-X.

Neste estudo, as velocidades de rotação dos buracos negros foram determinadas pela análise do espectro de raios-X dos respectivos discos de acreção
disco de acreção
Disco composto por gás e poeira interestelares que pode circundar buracos negros, estrelas de neutrões, variáveis cataclísmicas, ou estrelas em formação.
. A técnica baseia-se numa previsão da Teoria da Relatividade: o gás do disco de acreção só emite radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
até um certo raio à volta do buraco negro, o chamado horizonte dos acontecimentos. Quando o gás ultrapassa este raio, cai rapidamente para o buraco, não emitindo muita radiação. O raio crítico depende da velocidade de rotação do buraco negro, de forma que, se se medir este raio, tem-se uma estimativa directa da velocidade de rotação do buraco negro. Quanto menor for o raio, mais quentes são os raios-X emitidos a partir do disco de acreção. A temperatura dos raios-X, juntamente com o seu brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
, dá-nos o raio, que por sua vez, permite determinar a velocidade de rotação do buraco negro.

O resultado obtido para GRS 1915 pode ser importante para explicar a emissão de jactos pelos buracos negros, para modelar fontes de fulgurações de raios gama
fulguração de raios gama
Uma fulguração de raios gama é uma potentíssima explosão, com consequente libertação de fotões gama, que ocorre em direcções aleatórias no céu. Descobertas acidentalmente nos anos 1960, sabe-se que algumas delas estão associadas a um tipo particular de supernovas, as explosões que marcam o fim da vida de uma estrela de massa elevada.
e para a detecção de ondas gravitacionais.

Por exemplo, um modelo teórico de fulgurações
fulguração
Uma fulguração é uma libertação de energia de forma explosiva da qual resulta um aumento rápido do brilho do astro no qual ocorre. São exemplo deste tipo de fenómenos as fulgurações solares, associadas às manchas solares, bem como as fulgurações de raios-X, que ocorrem em estrelas de neutrões, e de raios gama, que se sabe estarem relacionadas com as explosões de supernova.
de raios gama
raios gama
Os raios gama são a componente mais energética e mais penetrante de toda a radiação electromagnética. Os fotões gama possuem energias elevadíssimas, tipicamente superiores a 10 keV, às quais correspondem comprimentos de onda inferiores a umas décimas do Ångstrom. Este tipo de radiação é, por exemplo, emitido espontaneamente por núcleos atómicos de algumas substâncias radioactivas.
baseado no colapso de uma estrela de massa elevada depende da existência de buracos negros com velocidades de rotação muito elevadas. Até agora, não havia confirmação da existência de buracos negros com esta característica.

Os investigadores concluem ainda que os três buracos negros deste estudo possuem velocidades de rotação elevadas desde que se formaram. Isto quer dizer que o núcleo colapsado da estrela de massa elevada passou o seu momento angular para o buraco negro quando este se formou.

Fonte da notícia: http://www.cfa.harvard.edu/press/pr0630.html