O eco de luz de V838 Monocerotis

2006-10-30

V838 Mon pela câmara ACS do Hubble, em Novembro de 2005 (em cima) e Setembro de 2006 (em baixo). Crédito: NASA, ESA & H. Bond (STScI).
V838 Monocerotis (V838 Mon), na constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
do Unicórnio (em latim Monoceros), continua a intrigar os astrónomos. Esta estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
discreta surpreendeu os astrónomos ao aumentar repentinamente de brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
em 2002, tornando-se subitamente 600 000 vezes mais luminosa que o nosso Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. Desde então, imagens de V383 Mon revelaram talvez o mais espectacular eco de luz já observado, produzido pela luz da explosão ao iluminar a poeira interstelar
poeira interestelar
A poeira interestelar é constituído por minúsculas partículas sólidas, com diâmetros da ordem dos mícrones, existentes no meio interestelar.
que envolve a estrela.

À medida que a luz da explosão se propaga pelo meio interestelar
meio interestelar
O meio interestelar é constituído por toda a matéria existente no espaço entre as estrelas. Cerca de 99% da matéria interestelar é composta por gás, sendo os restantes 1% dominados pela poeira. A massa total do gás e da poeira do meio interestelar é cerca de 15% da massa total da matéria observável da nossa galáxia, a Via Láctea. A matéria do meio interestelar existe em diferentes regimes de densidade e temperatura, como por exemplo as nuvens moleculares (frias e densas) ou o gás ionizado (quente e ténue).
que envolve a estrela, a poeira dispersa a luz antes de esta finalmente se dirigir para a Terra. A luz dispersada tem um caminho mais longo até nós, comparado com o caminho da luz que nos chega directamente da explosão estelar. Assim se forma o eco de luz, que no fundo é a analogia óptica do eco de som.

O Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) tem observado a evolução do eco de luz de V838 Mon desde 2002. Em cada nova observação, o eco de luz revela uma nova e única secção fina através da poeira interstelar à volta da estrela.

Duas novas imagens, obtidas com a Câmara ACS (Advanced Camera for Surveys) em Novembro de 2005 e Setembro de 2006, foram agora divulgadas. Nelas podemos ver claramente o padrão contorcido da poeira interstelar, lembrando um redemoinho. É possível que este padrão tenha sido produzido pelos efeitos de campos magnéticos
campo magnético
O campo magnético é a região em torno de um corpo na qual é detectada uma força magnética. Os campos magnéticos actuam apenas em partículas electricamente carregadas. Campos magnéticos fracos são por exemplo gerados por efeito de dínamo no interior dos planetas e luas, enquanto que campos magnéticos mil milhões de vezes mais fortes podem ser gerados em estrelas e galáxias. Os campos magnéticos são capazes de controlar o movimento de gás ionizado e até moldar a forma dos corpos por eles actuados.
no espaço, entre estrelas.

As observações do Hubble foram utilizadas para determinar a distância a V838 Mon, utilizando uma técnica baseada na polarização da luz reflectida. O Hubble possui filtros polarizados que apenas deixam passar luz que vibra segundo certos ângulos.

Com este método, os astrónomos chegaram a uma distância de 20 000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
para esta estrela, o que faz de V838 Mon, na altura da explosão em 2002, uma das estrelas mais luminosas da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
.

V838 Mon intriga os astrónomos, pois a explosão de 2002 não foi uma explosão de estrela Nova ordinária, na qual as camadas externas de uma estrela compacta são ejectadas para o espaço, ficando exposto o núcleo quente onde tinham lugar as reacções nucleares. No caso de V838 Mon, a estrela aumentou extraordinariamente de diâmetro e as suas camadas mais externas arrefeceram, tendo sido separadas do resto da estrela, mas o seu núcleo não ficou exposto.

Em 2003, uma equipa de cientistas propôs uma teoria segundo a qual as erupções de V838 Mon ocorreram quando a estrela engoliu sequencialmente 3 planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
gigantes, semelhantes a Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
, que orbitavam em torno dela. Outros investigadores sugerem que a explosão de 2002 foi o resultado da colisão de duas estrelas. Sem dúvida, outras teorias tentarão explicar o comportamento invulgar desta estrela.

Fonte da notícia: http://www.spacetelescope.org/news/html/heic0617.html