Nova classe de exoplanetas: jovianos com período orbital ultracurto

2006-10-09

Em cima: imagem de metade do campo de estrelas observado pelo SWEEPS, chamado Janela do Sagitário. Crédito: NASA, ESA, K. Sahu (STScI) & SWEEPS Science Team. Em baixo: curva de luz para 4 dos 16 candidatos descobertos com o SWEEPS. Os gráficos da esquerda mostram a curva de luz para o período orbital determinado; os gráficos da direita mostram em pormenor a curva de luz durante o trânsito. A azul são os dados na banda V, a vermelho na banda I. Crédito: Sahul et al. 2006.
O número de exoplanetas
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
que se conhecem continua a crescer: actualmente já ultrapassa os 200! A maioria foi descoberta pelo método das velocidades radiais e orbita estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
próximas de nós. Este método regista o efeito gravitacional causado pelo planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
no movimento da estrela mãe. Mais recentemente, levantamentos do céu têm permitido descobrir exoplanetas pelo método do trânsito
trânsito
Designa-se por trânsito a passagem de um objecto astronómico à frente do disco de um objecto maior e mais longínquo. Por exemplo, o trânsito de Vénus diante do Sol.
, ou seja, pela diminuição do brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
da estrela mãe devido à passagem do planeta entre nós e a estrela.

Um novo estudo, publicado na semana passada na revista Nature, relata os resultados da procura de exoplanetas pelo método do trânsito num campo de estrelas distantes, na direcção do bojo galáctico
bojo galáctico
O bojo da nossa Galáxia é a região esferoidal que se distribui à volta do centro da nossa Galáxia, num raio de alguns milhares de anos-luz, e é constituído por uma densa população de estrelas cuja composição química é rica em metais, e ainda por grandes concentrações de gás ionizado.
. O levantamento SWEEPS (Sagittarius Window Eclipsing Extrasolar Planet Search), levado a cabo pelo Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
), analisou curvas de luz de 180000 estrelas do centro da nossa galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
, a 26000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
. Como resultado, descobriu 16 candidatos a exoplanetas com períodos orbitais entre 0,4 e 4,2 dias. Estes são os candidatos mais distantes até hoje. Em dois dos casos, medições das velocidades radiais efectuadas com o VLT
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
(ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
) confirmaram a natureza planetária dos companheiros destas estrelas.

Até agora, os planetas com os períodos orbitais mais curtos, entre 1,2 e 2,5 dias, correspondiam a estrelas com massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
superior a 0,75 massas solares
massa solar
Massa solar é a quantidade de massa existente no Sol e, simultaneamente, a unidade na qual os astrónomos exprimem as massas das estrelas, nebulosas e galáxias. Uma massa solar é igual a 1,989x1030 kg.
. Neste novo estudo, cinco dos candidatos a exoplanetas orbitam estrelas com massas no intervalo de 0,44 a 0,75 massas solares.

Surpreendentemente, cinco candidatos têm períodos orbitais inferiores a 1 dia, constituindo assim uma nova classe de exoplanetas com períodos orbitais ultracurtos. O facto destes ocorrerem apenas à volta de estrelas com massa inferior a 0,88 massas solares pode ser visto de duas formas. Por um lado, pode-se pensar que a aproximação de planetas do tipo de Júpiter
planeta joviano
Designam-se por planetas jovianos aqueles que se assemelham a Júpiter, ou seja, planetas gigantes com superfícies gasosas. No Sistema Solar, são planetas jovianos Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno.
tão próximo da estrela é um fenómeno que só ocorre em estrelas de menor massa e mais frias, devido ao facto do disco circunstelar se aproximar mais da própria estrela nestes casos. Alternativamente, pode-se pensar que estes exoplanetas, ao se aproximarem demasiado das estrelas do tipo do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, não sobrevivem e são destruídos por evaporação.

O programa SWEEPS é de extrema importância para projectos futuros, nomeadamente para a missão Kepler (NASA) que será lançada em 2007. O observatório Kepler monitorizará uma região da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
para detectar planetas pelo método do trânsito à volta de estrelas muito distantes. A sua sensibilidade será tal, que poderá detectar centenas de planetas do tipo da Terra a distâncias da estrela mãe compatíveis com a zona habitável
Zona Habitável
A zona habitável de uma estrela ou de um sistema solar é a região, definida em termos da distância à estrela, que é compatível com a existência de água no estado líquido na superfície de um planeta aí colocado.
.

Fonte da notícia: http://hubblesite.org/newscenter/newsdesk/archive/releases/2006/34/text/

Pode consultar a enciclopédia dos planetas extra-solares, com versão em português, em:
http://vo.obspm.fr/exoplanetes/encyclo/index.php