SMART-1 despenhou-se na Lua

2006-09-08

Sequência de imagens no infravermelho (2122 nm) pela WIRCam do telescópio CFH cerca de 15 s antes do impacto, durante o impacto, e cerca de 15 s após o impacto. O campo das imagens é de 2\'x2\', correspondente a ~ 200km x 200km. Crédito: Canada-France-Hawaii Telescope/2006.
Lançada a 27 de Setembro de 2003, a SMART-1 foi a primeira missão europeia à Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
. SMART-1 é o acrónimo de Small Missions for Advanced Research and Technology, ou seja, Pequenas Missões para a Investigação Avançada em Tecnologia. Os seus objectivos repartiram-se por duas categorias: contribuição para o avanço científico na ciência lunar e teste de novas tecnologias.

No passado Domingo, dia 3 de Setembro de 2006, pelas 6h42m (hora de Lisboa), a missão SMART-1 chegou ao fim quando o satélite se despenhou na superfície lunar. A colisão decorreu a um ângulo rasante de apenas 1 grau e a uma velocidade de 2 km/s, na região de Lacus Excellentiae, que se encontrava na região escura perto do terminador (a linha que separa o lado de dia do lado da noite). A hora e local do impacto foram planeados de forma a favorecer a observação da colisão mesmo com telescópios na Terra e resultaram de várias manobras de correcção de órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
que decorreram este verão.

O flash provocado pelo impacto foi acompanhado por telescópios profissionais e amadores na Terra. Os dados obtidos permitirão estudar melhor a superfície lunar escavada pelo satélite.

O Telescópio CFHT
Canada-France-Hawaii Telescope (CFHT)
O Telescópio Canadá-França-Havai é um telescópio de 3,6 m de diâmetro situado no Observatório de Mauna Kea, no Havai (EUA), operacional desde 1977. A instrumentação deste telescópio inclui, entre outros, a MegaPrime, uma câmara de campo largo e de alta resolução composta por um conjunto de 36 CCDs acoplados num só instrumento.
(Canada-France-Hawaii Telescope), de 3,6 m, obteve imagens no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
a cada 15 segundos, antes e depois da colisão. A imagem da própria colisão permitiu, através da análise preliminar dos mapas topográficos obtidos anteriormente pela SMART-1, determinar que o satélite embateu na Lua no declive ascendente de uma montanha com uma altura de cerca de 1,5 km acima do plano do Lacus Excellentiae (Lago de Excelência).

A sequência de imagens do CFHT mostra que a expansão da nuvem de poeira criada pelo impacto é visível até pelo menos 75 segundos após a colisão. O estudo subsequente destes dados, juntamente com o de todos os outros telescópios que também observaram o evento, com outros instrumentos, permitirá aos investigadores compreenderem melhor o solo lunar.

Nos últimos 16 meses e até às suas últimas órbitas, a SMART-1 estudou a Lua em diferentes comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
(no visível, no infravermelho e nos raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
), obtendo dados sobre a morfologia e composição mineralógica da superfície. A sua contribuição científica reflectir-se-á nos próximos meses e anos, à medida que as suas observações vão sendo analisadas.

A SMART-1 insere-se num conjunto de missões de baixo custo, cujo objectivo primordial é testar novas tecnologias para futura utilização em missões espaciais. No caso da SMART-1 o objectivo primário foi testar e validar um motor de propulsão eléctrica, para missões interplanetárias. A primeira fase da missão, estendendo-se por cerca de 14 meses, foi essencialmente dedicada à análise do desempenho do motor, e ficou marcada por ser um sucesso.

Outra demonstração tecnológica da SMART-1 foi a utilização de instrumentos miniaturizados, nomeadamente, espectrómetros
espectrómetro
O espectrómetro é um instrumento cuja função é medir os comprimentos de onda de um determinado espectro de luz, permitindo identificar as espécies químicas responsáveis pelas riscas existentes nesse espectro.
de raios-X e infravermelho. Este tecnologia é extremamente importante para se poderem equipar satélites com instrumentação de pouco peso.

Pode encontrar mais informação sobre esta missão na página da SMART-1 aqui no portal:
http://www.portaldoastronomo.org/missao.php?missao=2

Mais imagens obtidas pelo telescópio CFHT em: http://www.cfht.hawaii.edu/News/Smart1/

Fonte da notícia: http://sci.esa.int/science-e/www/area/index.cfm?fareaid=10