O lítio é um dos poucos elementos químicos produzidos pelo Big Bang. Quando os astrónomos determinam a quantidade de matéria bariónica do Universo, por exemplo através do estudo da radiação cósmica de fundo em microondas, podem derivar facilmente quanto lítio foi teoricamente criado pelo Universo primordial. Por outro lado, o lítio pode ser medido nas estrelas mais velhas que se conhecem, que se formaram a partir da matéria primordial. Acontece que o valor previsto pela cosmologia é demasiado elevado para conciliar com as medições de lítio nas estrelas velhas.

Sabe-se que os processos de difusão alteram as abundâncias relativas dos elementos químicos nas estrelas. Uma equipa de astrónomos, liderada por A. Korn (Universidade de Uppsala, Suécia), estudou um conjunto de estrelas em diferentes estágios das suas vidas, todas pertencentes ao mesmo enxame globular, NGC 6397. Os enxames globulares são muito úteis para este tipo de estudo, pois todas as estrelas nasceram da mesma nuvem de gás - por isso têm a mesma idade e formaram-se todas com a mesma composição química inicial. Os astrónomos prevêem que o efeito da difusão deve variar com o estado evolutivo das estrelas. Observacionalmente, o efeito comprova-se se houver uma correlação entre as abundâncias químicas medidas nas atmosferas das estrelas e o seu estado de evolução.

Dezoito estrelas foram observadas com o espectrógrafo multi-objectos FLAMES-UVES, montado num dos telescópios de 8 m do VLT (ESO). Os dados mostram que há uma tendência sistemática ao longo da sequência evolutiva de NGC 6397, tal como os modelos de difusão prevêem. Ficou assim provado que as abundâncias medidas nas estrelas velhas não são representativas do gás a partir do qual elas se formaram. Uma vez corrigido o efeito da difusão na abundância de lítio das estrelas velhas, chega-se a um valor comparável ao esperado pela teoria.

Este estudo encontra-se publicado na revista Nature.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-30-06.html