Será o nascimento de uma galáxia?

2006-07-07

Campo do céu centrado no novo \"blob\". Em cima: imagens obtidas, uma com filtro vermelho e a outra com filtro azul, com o telescópio MPG (ESO) - não se vê o \"blob\". No centro: imagem obtida com o FORS1 no telescópio VLT (ESO) utilizando um filtro de banda estreita centrado em 505 nm - a imagem da direita mostra os contornos da emissão de hidrogénio sobrepostos numa imagem do Hubble. Em baixo: imagem obtida pelo Hubble (NASA/ESA). Crédito: ESO, NASA/ESA (HST-FORS/VLT-WFI/2.2mESO/MPG).
Ao longo dos últimos anos, os astrónomos têm vindo a descobrir uns objectos estranhos, bastante energéticos mas pouco luminosos, com tamanhos superiores à nossa galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
. A sua natureza é ainda incerta e existem várias sugestões para explicar a sua existência. Tem-se-lhes chamado de “blobs” como se fossem umas "manchas" no Universo.

Um novo “blob”, a 11,6 mil milhões de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
(desvio para o vermelho
desvio para o vermelho (z)
Designa-se por desvio para o vermelho (em inglês, redshift) o desvio do espectro de um objecto para comprimentos de onda mais longos. O desvio para o vermelho pode dever-se ao movimento do objecto a afastar-se do observador (desvio de Doppler), ou à expansão do Universo (desvio para o vermelho cósmico, ou gravitacional). O desvio para o vermelho cósmico permite estimar a distância a que o objecto se encontra: quanto maior o desvio, mais distante o objecto. O desvio de Doppler permite calcular a velocidade a que o objecto se desloca.
de 3,16), foi agora descoberto pelo telescópio VLT
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
(ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
). Estamos a vê-lo como era quando o Universo tinha 2 mil milhões de anos, ou seja, menos de 15% da idade que tem hoje. Este objecto encontra-se localizado num campo do céu bem estudado, o campo sul do GOODS.

O GOODS (Great Observatories Origins Deep Survey) é um levantamento do céu em vários comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
que cobre dois campos com 150 minutos de arco2 cada. Estes campos estão centrados no Campo Profundo do Hubble Norte (HDF-N) e no Campo Profundo do Chandra
Chandra X-ray Observatory
O observatório de raios-X Chandra, lançado em 1999, faz parte do projecto dos Grandes Observatórios Espaciais da NASA. O seu nome homenageia Subrahmanyan Chandrasekhar, Prémio Nobel da Física em 1983. O Chandra detecta fontes de raios-X a milhares de milhões de anos-luz de nós. Observar em raios-X é a única forma de observar matéria muito quente, a milhões de graus Célsius. O Chandra detecta raios-X de regiões de alta energia, como por exemplo remanescentes de supernovas.
Sul (CDF-S).

Os astrónomos estudaram uma pequena região deste campo com um filtro de banda estreita centrado nos 505 nm
nanómetro (nm)
O nanómetro (nm) é uma unidade de comprimento igual a um milionésimo do milímetro: 1nm = 10-6mm = 10-9m.
durante mais de 8 horas. Este filtro permite observar a emissão de hidrogénio com desvios para o vermelho entre 3,126 e 3,174, ou seja, a uma distância de cerca de 11,6 mil milhões de anos-luz. Mais tarde, os astrónomos obtiveram espectros deste objecto para estudá-lo mais detalhadamente.

Este “blob” tem um diâmetro de 200 000 anos-luz, ou seja, duas vezes a nossa galáxia, e a energia total por ele emitida é equivalente a 2 mil milhões de sóis. Contudo, este objecto não é visível nas imagens obtidas com os outros telescópios em nenhum comprimento de onda, desde o infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
aos raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
. Isto acontece porque o objecto emite quase toda a sua radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
na risca de hidrogénio de Lyman-α e a sua emissão contínua é demasiado fraca para ser detectada.

Os astrónomos são levados a crer que a emissão de hidrogénio observada deve-se a gás caindo numa concentração de matéria escura
matéria escura
A matéria escura é matéria que não emite luz e por isso não pode ser observada directamente, mas cuja existência é inferida pela sua influência gravitacional na matéria luminosa, ou prevista por certas teorias. Por exemplo, os astrónomos acreditam que as regiões mais exteriores das galáxias, incluindo a Via Láctea, têm de possuir matéria escura devido às observações do movimento das estrelas. A Teoria Inflacionária do Universo prevê que o Universo tem uma densidade elevada, o que só pode ser verdade se existir matéria escura. Não se sabe ao certo o que constitui a matéria escura: poderão ser partículas subatómicas, buracos negros, estrelas de muito baixa luminosidade, ou mesmo uma combinação de vários destes ou outros objectos.
, pois outras tentativas para explicar este “blob” têm caído por terra. Se assim for, poderemos estar a assistir à formação de uma galáxia de grande dimensão.

Este foi o único objecto deste tipo encontrado no estudo deste campo.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-23-06.html