Excesso de carbono à volta de uma estrela

2006-06-16

Beta Pictoris e o seu disco circunstelar. Crédito: Jean-Luc Beuzit, et al. Grenoble Observatory, ESO.
A estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
Beta Pictoris, a 63 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
de nós, é uma estrela muito jovem, com apenas 8 a 20 milhões de anos (o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
tem aproximadamente 4,5 mil milhões de anos) e tem cerca de duas vezes a massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
do nosso Sol. O estudo do ambiente à volta de estrelas jovens como Beta Pictoris ajuda-nos a compreender como terá sido o nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
quando estava a formar os planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
rochosos.

Um novo estudo, realizado por uma equipa liderada por A. Roberge (Departamento de Magnetismo Terrestre do Instituto Carnegie/NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) e baseado em observações da sonda Far Ultraviolet Spectroscopic Explorer-FUSE (NASA) e do Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
), permitiram um estudo incrivelmente detalhado do gás do disco à volta de Beta Pictoris.

Os astrónomos esperavam que a composição química à volta de Beta Pictoris fosse semelhante à composição química do nosso Sistema Solar. Surpreendentemente, descobriram uma quantidade de carbono muito acima da esperada.

A própria presença de um disco de gás à volta da estrela Beta Pictoris era um enigma para os astrónomos, pois os modelos teóricos indicavam que a radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
da estrela já devia ter dispersado o gás à sua volta. Agora, os investigadores pensam que talvez sejam os iões
ião
Átomo ou molécula que perdeu ou ganhou um ou mais electrões.
de carbono que fazem com que o gás à volta de Beta Pictoris não desapareça.

No artigo publicado na revista científica Nature, os investigadores apresentam dois cenários possíveis. Talvez asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
e/ou cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
que orbitam Beta Pictoris contenham grandes quantidades de material rico em carbono, como metano ou grafite. Quando se formarem planetas à volta da estrela (ou talvez até já existam!) estes serão ricos em carbono. Neste cenário, o sistema de Beta Pictoris será bastante diferente do nosso Sistema Solar. Mas, alternativamente, Beta Pictoris poderá ser mais parecida com o nosso Sistema Solar quando este era jovem. Embora hoje em dia não se detecte grandes quantidades de carbono nos asteróides e/ou cometas, talvez estes possuíssem maiores quantidades noutros tempos.

Em todo o caso, fica por explicar como tanto carbono foi ali parar.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/home/hqnews/2006/jun/HQ_06236_FUSE_0607_final.html